segunda-feira, 9 de novembro de 2009

NOVOS MODELOS DE GESTÃO

Cecília Leão Oderich

César Augustus Techemayer

Introdução

As teorias organizacionais existentes foram surgindo à medida que novos contextos as exigiam, como novas alternativas, seguindo o que poder-se-ia chamar de processo evolutivo, adequado às mudanças do ambiente.

Na última década, novos modelos de gestão passaram a ser adotados, formas alternativas, mistos dos conhecimentos existentes com diferentes concepções.

Assim, temos as metáforas, comparadas a modelos de gestão, como é o caso do fordismo, comparado à metáfora da máquina, do toyotismo, comparado à dos organismos, e o volvismo, este último, comparado à metáfora do cérebro, sendo o "de ponta".

Ricardo Semler é outro caso interessantíssimo a ser abordado: fez uma verdadeira "revolução", mudando muitas concepções ( e por que não dizer valores) na sua empresa, tornando-se conhecido internacionalmente.

Peter Drucker, como um dos pais da moderna teoria da administração também deve ser relevantemente considerado, com seus ensinamentos que põe abaixo diversos paradigmas da atualidade administrativa.

1. Gerenciando sem Gerentes - A História de Ricardo Semler

Ricardo Semler, um jovem determinado, faz uma verdadeira "revolução" ao assumir a empresa familiar, SEMCO, democratizando a organização e acabando com as formas autocráticas e tradicionais de gestão existente.

Segundo suas palavras, "... mais importante foram as mudanças drásticas que fizemos em nosso conceito de gerência. (...) A SEMCO tem três valores fundamentais nos quais baseamos uns 30 programas de gerenciamento. Esses valores - democracia, participação nos lucros e informação ..."

Semler encoraja a experiência e cultiva uma mudança conceitual, dizendo que os colaboradores devem ser vistos como adultos, pregando a confiança nas pessoas.

Na implantação do programa de participação nos lucros, Semler diz ser importante: baixa rotatividade, pagamento competitivo, ausência de paternalismo, recusas a dar prêmios de consolação quando os lucros são baixos, distribuição frequente dos lucros e muitas oportunidades para os funcionários questionarem as decisões da gerência que afetam os lucros futuros. A transparência também é fundamental.

Suas idéias sobre o marketing também são interessantes: "Marketing é problema de todo o mundo. Todo o mundo sabe o preço do produto. Todo o mundo sabe o custo. Todo o mundo tem a folha de balanço que diz exatamente o que cada um faz, quanto nos está custando, quantas horas-extra pagamos, tudo. E os funcionários sabem que 23% do lucro é deles."

Semler também faz diversas outras inovações: cria avaliações dos chefes pelos subordinados, desvaloriza a área de O&M, extinguindo o organograma da empresa e horizontalizando a estrutura, cria princípios de conduta e diminui drasticamente o número de normas e a descrição de cargos, cria horário móvel e uma rotatividade permanente. O grau de escolaridade e a especialização dos empregados deixam de ser requisito básico.

Semler possui uma excelente visão sistêmica e o RH de sua empresa possui uma posição estratégica. É um empresário que revela-se atento quanto à ética e à sociedade, tendo inclusive criado a Fundação Semco, para treinamento e desenvolvimento de pessoas com potencial e excluídas do sistema capitalista.

Semler, inclusive, fornece um "guia para o gerente estressado".

Reconhecido internacionalmente, conferindo palestras a sendo elogiado por "estrelas" como Tom Peters, Semler possui uma personalidade singular, sendo chamado de "inovador, brilhante, arrogante e subversivo".

Em seu livros "O Modelo Brasileiro de Gestão Organizacional", Sílvio Johann faz uma análise das idéias de Semler, questionando a democratização apenas a nível tático, a sua inspiração nas teorias neoclássicas já existentes e enfatizando o poderoso marketing pessoal de Semler. A Revista Exame, em 1990, fez uma grande reportagem sobre a Semco, considerada uma empresa de desempenho mediano a nível de balanço e resultados.

2. Fordismo, Toyotismo e Volvismo

Este capítulo procura apresentar as idéias do autor a respeito dos modelos adotados pelas indústrias automobilísticas neste século. O estudo realizado por Wood Jr. enfatiza a supremacia dos EUA e da Europa no mercado industrial até os anos 70, sendo desafiada pelo Japão dos anos 80 em diante. O autor também demostra a associação dos modelos industriais com a metáforas estudadas pela administração, a partir do livro de Morgan, bem como : Fordismo = Máquina, Toyotismo = Organismo e Volvismo = Cérebro.

1 – Organizações como Máquinas : Ford e a produção em massa

Segundo o autor, a palavra organização vem do grego organon, que significa instrumento, logo organizações são uma forma de entidade destinada a viabilizar a obtenção de objetivos predeterminados. Wood Jr associou o Fordismo a metáfora da máquina, sendo que este conceito foi utilizado a partir de um certo estágio do processo de industrialização. Através desta metáfora passou-se a usar as máquinas para as pessoas e a moldar o mundo de acordo com processos mecânicos.

Ascensão do Fordismo

Podemos destacar como os fatos mais relevantes : a intercambialidade das partes (Conceito-Chave) e a simplicidade da montagem, sendo que Ford reduziu o ciclo de tarefas de 512 para 2 minutos e com a adoção da linha de montagem para a metade do tempo; a divisão de tarefas, separando o trabalho físico do mental, criando a figura do engenheiro industrial (Planejamento e controle da produção), determinando apenas uma tarefa para cada trabalhador; redução do esforço humano, aumento de produtividade, diminuição dos custos e aumento do volume produzido.

Queda do Fordismo

Principais razões : o sistema de controle altamente burocratizado (Raiz do declínio da empresa), crise do petróleo nos anos 70 e estagnação econômica, ascensão do Japão e outros novos concorrentes, falta de políticas industriais claras e melhores orientadas, declínio da qualidade da educação em vários níveis, capitalismo de papel e a especulação financeira e o s movimentos sociais iniciados na Europa (força de trabalho reivindicava redução de jornada de trabalho e melhores salários).

Cabe lembrar que os princípios Fordistas ainda podem ser válidos em condições específicas de determinadas empresas, meio ambiente, tecnologias, países, etc.

2 – Organizações como Organismos : Toyota – ascensão da produção flexível

Para Wood Jr. o sistema Toyota de produção pode ser associado a metáfora do organismo. Estas metáfora apresenta ressalta a compreensão das relações ente organização e o meio, enfoca a sobrevivência como objetivo central, valoriza a inovação e finalmente depreende a busca da harmonia entre estrutura, tecnologia e as dimensões humanas.

Nascimento do Toyotismo

O fundador da Toyota, Sr. Eiji Toyoda no anos 50 visitou as fábricas da Ford e quando retornou ao Japão tinha uma modesta convicção consigo : "havia algumas possibilidades de melhorar a produção". Junto da aplicação das idéias de Toyoda e outros fatos possibilitaram o nascimento do novo modelo de produção, bem como : mercado doméstico pequeno e exigência do mercado de uma gama variada de produtos; força de trabalho local não adaptável ao Taylorismo; compra de tecnologia externa impossível; remota possibilidade de exportação, incentivo do Ministério da Indústria e Comércio japonês na fusão das indústrias locais, formando 3 grandes grupos industriais; novo modelo de relações capital - trabalho, através do emprego estável, promoções por antigüidade, participação nos lucros e treinamento de funcionários.

Características do Toyotismo

Ressaltamos os seguintes principais pontos : trabalhos em grupos, com várias responsabilidades e agrupados a um líder; operários responsáveis pela qualidade, possuíam autonomia para a produção sempre que identificassem problemas nos produtos, gerando a longo prazo um aumento significativo na qualidade; rede de fornecedores / grupos de fornecedores, agrupando-os por funções dos produtos, buscando uma parceria de longo prazo; Just-in-time, controle do fluxo de componentes e redução de estoques intermediários; flexibilidade compatibilizando as necessidades do consumidor com as mudanças tecnológicas, integração de processo, produto e engenharia industrial (enquanto Ford e GM produziam 1 modelo por planta, a Toyota produzia 3 modelos e o ciclo de vida dos produtos japoneses tinham a metade dos produtos europeus e americanos).

Embora o sistema Toyota apresentava diversos avanços em relação ao sistema Taylorista, também apresentava alguns problemas, sendo o mais crítico o modelo de Keiretsu, pois se assemelha ao sistema feudal.

3 – Organizações como Cérebros – Volvo : o caminho da flexibilidade criativa

Para o autor o modelo Volvo de produção se assemelha a um cérebro. Esta metáfora apresenta as características de um Holograma, que pode ser definida da seguinte forma : faz o todo em cada parte, cria a conectividade e redundância, cria a simultaneamente a especialização e a generalização e cria a capacidade de auto-organização. Deve-se ter cuidado para não interpretar esta novo modelo como um simples retorno a produção manual.

Características

Os pontos mais importantes são os seguintes : flexibilização funcional (alto grau de automação e informatização), gerando uma produção diversificada de qualidade; internacionalização da produção e a democratização da vida no trabalho (representada pelo baixo ruído, ergonomia, ar respirável, luz natural, boas condições de trabalho); treinamento intensivo, tendo 4 meses de treinamento inicial mais 3 períodos de aperfeiçoamento, ao final de 17 meses um operário estaria apto a montar totalmente um automóvel; produção manual e alto grau de automação; flexibilidade de produto e processo; possibilitou a redução da intensidade do capital investido; aumento de produtividade, redução de custos e produtos de maior qualidade.

O autor coloca que talvez a evolução deste sistema seja migrar para o estilo de organização de uma banda de jazz.

3. Peter Drucker : Os Novos Paradigmas da Administração

A disciplina da administração

Hoje estamos acostumados a pensar em administração como sendo administração de empresas, porém esta premissa é relativamente recente. Os pensadores da administração até os anos 30, viam o termo "administração" como sendo aplicável a qualquer organização. Tanto que a primeira aplicação prática dos princípios da administração deu-se no exército norte-americano e não numa empresa. Na Grande Depressão de 29, o setor público norte americano procurou ser rebatizada como administração pública para evitar sua vinculação com as empresas, devido a imagem negativa causada pela área de negócios.

A partir dos anos 50, a área de negócios voltou a desfrutar de bom conceito junto a sociedade e desta forma a administração de empresas passou a ser confundida como sinônimo de administração. Drucker enfatiza que administração não é administração de empresas assim como medicina não é obstetrícia.

Ë importante ressaltar que esta divisão artificial entre a administração de organizações empresariais das não empresariais deverá acabar, porque os setores que provavelmente os setores que mais crescerão no sec. XXI serão justamente os sem fins lucrativos.

    1. A única organização correta ?

A preocupação com o estudo das organizações surgiu com a criação dos exércitos permanentes, empresas e órgãos públicos governamentais no final do sec. XIX Desde os primeiros pensadores da administração criou-se uma premissa que deve existir uma única forma "Certa" de organização. Este princípio perdurou durante várias décadas e talvez tenha influência até hoje, sendo que no início da administração a forma certa era a centralização, depois da descentralização, hoje a ênfase é o trabalho em equipe. Drucker aponta que as organizações devem ter a flexibilidade para definirem suas estruturas (centralizadas , descentralizadas, equipes) de acordo a natureza das tarefas. Também enfatiza que as organizações devem seguir dois princípios básicos : devem ser transparentes e que as pessoas devem conhecer e compreender a estrutura organizacional.

    1. Estruturas organizacionais múltiplas

Neste tópico Drucker inicia enfatizando a importância de alguns princípios básicos da administração , tais como : unidade de comando, pois como diz um provérbio da lei romana "um escravo com dois ou mais senhores é um homem livre", organização com poucos níveis hierárquicos e a importância do processo sucessório.

Também salienta que o executivo do futuro precisará levar em sua pasta um conjunto de estruturas organizacionais, afim de aplicar a estrutura adequada a situação, bem como : equipe funcional para lojas de departamento, estrutura matricial, estruturas em rede, etc.

    1. O único jeito certo ?

Em 1960 McGregor divulgou as famosas Teoria X e Y, onde apregoava que as empresas deveriam optar por uma das teorias na gestão das pessoas, sendo que ele considerava apenas a teoria Y como correta . Posteriormente, Maslow (1962) demostrou de forma conclusiva que pessoas diferentes devem ser administradas de maneiras diferentes. Atualmente com a evolução da sociedade e o uso cada vez mais intensivo de tecnologia, surge o trabalhador de conhecimento e desta forma as teorias de Maslow são cada vez mais relevantes. O trabalhador de conhecimento, pela própria definição, é alguém que tem mais conhecimento do seu trabalho do que qualquer outro membro da organização, desta forma corrobora as teorias de Maslow. Na verdade o antigo pressuposto de que as pessoas se administram deve ser abandonado, pois na verdade as pessoas devem ser lideradas.

    1. O fim das fronteiras tecnológicas

Nos primórdios da revolução industrial as tecnologias eram próprias e singulares, porém durante o século XIX este panorama começou a mudar. O maior exemplo do início de sobreposição de tecnologias foi o caso do Bell Labs, que desprezou a patente do transistor, vendendo-o por 25.000 dólares para os interessados e hoje a Sony, Intel e Compaq são grandes empresas devido a exploração desta patente. A premissa atual é que as tecnologias que provavelmente irão exercer maior impacto nas empresas serão as tecnologias externas ao seu próprio campo. Outra premissa importante hoje que influencia a tecnologia e as empresas são as necessidades dos consumidores. Podemos citar como exemplos disso : a popularização da TV no Japão, a popularização do Fax, etc. Drucker sintetiza a idéia desta premissa dizendo que nem a tecnologia, nem a sua utilização final constituem as bases para uma política de administração, mas as bases desta devem ser os valores dos consumidores.

    1. O fim do comando e controle

O conceito tradicional de administração se baseia mo comando e controle, definidos em termos legais. Desta forma o presidente de uma empresa tem poder de influência dentro da organização, mas não fora dela. Porém para a organização alcançar o rendimento máximo, a administração deve sair dos seus limites, organizando o processo econômico em toda a cadeia de produção. A história da administração nos mostrou exemplos de organizações que buscaram aplicar esta premissa, bem como : GM (William C.Durant – 1910) através da aquisição de 70% do fornecedores de componentes, Toyota utilizando o conceito de Keiretsu , Marks & Spencer através de contratos de controle dos seus fornecedores.

    1. Tirando o nacional do multinacional

A disciplina da administração presume , ainda no tempos atuais, que as fronteiras nacionais definem o ambiente no qual as empresas operam. Porém as transformações que as sociedades e os mercados estão passando no presente momento faz com que as fronteiras nacionais comecem a perder sua influencia. Atualmente é muito comum que uma empresa ou organização tenha filiais em diversos países, mas com uma integração de processo produtivo a nível mundial, muito diferente do modelo anterior onde uma filial era independente da outra. Desta forma para a administração moderna, as fronteiras nacionais perdem a relevância que possuíam no passado.

    1. Colocando o mundo dentro da organização

Para Drucker, as premissas que muitas empresas tradicionais se baseiam está errada, pois vêem a área de atuação da administração como dentro da empresa, isto é, o principal trabalho da administração é gerir a organização. Porém , segundo estudos do autor, as forças que exercem maior influência sobre as organizações, na realidade, vem de fora dela e não de dentro. Esta influência muitas vezes não é reconhecida pela própria área de marketing, que em vez de preocupar-se com as necessidades dos clientes, tentam identificar formas de vender um produto que não atende suas reais necessidades.

    1. O Papel de uma administração orientada para fora

Segundo Drucker, a tarefa primordial da administração é definir quais os resultados existentes na organização sob sua responsabilidade. Desta forma, pelo novo paradigma a administração deve definir os resultados que espera alcançar e depois organizar os recursos da organização visando obter esses resultados.

    1. Porque a administração é importante

A administração é uma ferramenta específica, com função específica, um instrumento específico para tornar instituições capazes de gerar resultados dentro da sociedade e para modifica-la.

Conclusão

Os novos modelos de administração surgem pelas exigências de um ambiente mutável e diferenciado, no qual as empresas precisam adaptar-se para sobreviver e, talvez, crescer.

Ricardo Semler, mesmo apropriando-se das concepções da teoria neoclássica da Administração, contribuiu muito para o desenvolvimento de um modelo brasileiro de gestão organizacional, expandindo novos horizontes, através de idéias corajosas e inúmeras contribuições quanto à gestão do tempo, conceito de qualidade, atendimento a clientes, parcerias, terceirização, participação nos lucros e muitas outras.

Peter Drucker deixa para nós sua sabedoria, ensinando-nos a questionar os modelos "certos", já que cada caso exige um tipo de tratamento. Propõe a orquestra sinfônica como modelo de como a organização deve ser: um misto de alta especialização, coordenação, sincronismo e arte. Outros autores defendem a banda de jazz, como destaca Wood, em seu texto sobre o Fordismo, Toyotismo e Volvismo, comparados à metáforas da máquina, organismos e cérebro, respectivamente. A banda de jazz representa "escalas africanas e sintonia européia", em uma improvisação planejada.

Enfim, citando Maria José Bretas Pereira, "… as formas tradicionais de organização não serão mais válidas num futuro próximo: a aceleração e a turbulência das mudanças exigirão um grande esforço de ajustamento de todas as camadas da sociedade".

Os novos modelos de gestão devem ser estudados e analisados, a fim de criar novas percepções da organização e sua gestão.

Bibliografia

DRUCKER, Peter. Os Novos Paradigmas da Administração. Revista Exame. P. 34 – 53. 24 Fev 1999.

JOHANN, Sílvio. O Modelo Brasileiro de Gestão Organizacional. São Leopoldo: Unisinos, 1996.

NETZ, Clayton. Anatomia de uma Mesa que foi Virada. Revista Exame. P. 94 - 101. 17 de Outubro de 1990. SEMLER, Ricardo. Virando a Própria Mesa. 41 ed. São Paulo: Best Selle, 1988.

________________. Gerenciando Sem Gerentes.

WOOD, Thomas. Fordismo, Toyotismo e Vovlismo: os Caminhos da Indústria em Busca do Tempo Perdido. São Paulo: Revista de Administração de Empresas. P. 6 - 18. Set / Out 1992.

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