sábado, 1 de maio de 2010

Ciências Sociais

CIÊNCIAS SOCIAIS - 40h

Curso: TECNOLOGIA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS – UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

Profa. MARLUCY GODOY RICCI

Prof. CARLOS JOSE ROQUE

De 01/02/2010 a 30/06/2010

 

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AULA 01

Apresentação da disciplina

A disciplina introduz o discente à reflexão filosófica e antropológica com ênfase nas principais correntes do pensamento. Discute as bases filosóficas e as ciências sociais na sua evolução histórica, utilizando os conceitos fundamentais de filosofia e antropologia ao entendimento do processo da Administração.

O propósito da disciplina é operar um inventário dos caminhos que levam à reflexão, proporcionando uma visão multidisciplinar, nas perspectivas filosóficas e antropológicas, permitindo reconhecer o que diferencia as abordagens e investigações. Assim, possibilitasse a um administrador ter um conceito geral, bem como os diferentes modos de construção de um discurso teórico organizado, segundo diferentes orientações conceituais apresentadas ao longo da história do pensamento da humanidade.

Nesse contexto, privilegia-se a reflexão sobre o universo antropológico-filosófico, de modo a desenvolver a capacidade de transferir e integrar conhecimentos entre as áreas das ciências sociais e gerenciais, dentro das representações sociais, que estruturam, orientam e mantêm práticas, atitudes e comportamentos específicos.

Sociologia e Política

O mito é, assim, algo cujo conteúdo não se questiona, enquanto a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. A filosofia busca definição de conceitos, debates, discussões. Podemos, assim, notar a vinculação entre filosofia e ciência. O filósofo na Grécia será então o homem do saber científico. A filosofia, portanto, é a mãe das ciências. Contudo, somente bem mais tarde, durante o século XVII, é que as ciências começaram a formar seus métodos próprios de pesquisa e se tornaram autônomas. Física, química, astronomia, biologia, economia, entre outras vão ganhando seus contornos particulares e chegam ao estágio que conhecemos hoje.

A Era das Revoluções e o nascimento da Sociologia

Após longos 1000 anos de medievalismo, a curta Idade Moderna é iniciada ao ocorrer a conquista do Império Romano do Oriente pelos turcos, em 1453, e se estende até a proclamação da república na França: a revolução burguesa de 17894. Constitui o período de transição do feudalismo para o capitalismo e tem como principais marcos a formação dos Estados Nacionais modernos, a expansão marítima, a descoberta de novos territórios, as reformas e contra-reformas cristãs, o colonialismo, o surgimento das monarquias absolutistas, o Iluminismo5 e a independência dos EUA (1776). A humanidade estava em vias de conhecer um novo e poderoso modo de produção que ia sendo gerado e se definiria com a Revolução Industrial6: o capitalismo7. Este, então, aparecendo originalmente nas ilhas britânicas entre os séc. XVIII e XIX, iria posteriormente sair para outras potências na Europa, atingindo também os EUA e o Japão, dando a partida para o que conhecemos como Idade Contemporânea8.

Todas estas transformações de caráter revolucionário iam atingindo o meio social. A intensa exploração do trabalho, o desemprego, o êxodo rural, a falta de infra-estrutura nas cidades industriais, a insuficiência do sistema de saúde, a violência urbana, a secularização, o sentimento de aceleração do tempo frente às novas tecnologias instauraram a crise na sociedade e uma perda de referências calcadas nas tradições que ruíam. Este cenário irá servir de caldeirão para o surgimento das Ciências Sociais e, entre elas, a Sociologia no séc. XIX. Sua função inicial seria explicar essas conturbadas circunstâncias e, se possível, “reparar os danos”.

AULA 02

Nascimento da filosofia e mito

A filosofia é o pensar crítico sobre todas as áreas do saber e agir do homem, que revela seus princípios e fundamentos e fazem ver a possibilidade de outros mundos, outros modos de vida, baseados em outros princípios. A filosofia deve existir como livre exercício da razão, que descobre os significados mais profundos da realidade. A função do mito é atribuir um significado ao mundo, tanto nas sociedades tribais

como nas sociedades complexas de hoje; ele nos tranqüiliza e nos acomoda, podem ser confortantes ou conter uma mensagem moral, às vezes, podem ser assustadores. A sua aceitação dá-se por meio da fé e da crença e não pela razão, pois, o mito, não pode ser questionado e nem provado. Os mitos podem nascer de eventos, lugares ou pessoas reais, ou, ainda, ser meras invenções.

 

Nascimento da Filosofia

Filosofia do grego: philos - amor, amizade e Sophia – sabedoria. Modernamente, é uma disciplina, ou uma área de estudos, que envolve a investigação, análise, debate, formação e reflexão de idéias numa situação geral, abstrata ou fundamental. Originou- se da inquietação gerada pela curiosidade humana em compreender e questionar os valores e as interpretações aceitas sobre a sua própria realidade.

A interpretação aceita pelo homem constitui, inicialmente, o embasamento de todo o conhecimento. Essas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração. Ocorreram, em princípio, através da observação dos fenômenos naturais e sofreram influência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade, isso em conformidade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis em determinada época por um certo grupo ou determinada relação humana.

A partir da Filosofia, surge a Ciência¹ . Pois o homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das idéias e utiliza-se de experimentos para interagir com a sua própria realidade. Assim, a partir da inquietação, o homem, por meio de instrumentos e procedimentos, equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão², onde são organizados os padrões de pensamentos que formulam as diversas teorias agregadas ao conhecimento humano.

Contudo, o conhecimento científico, por sua própria natureza, torna-se suscetível às descobertas de novas ferramentas ou instrumentos que aprimoraram o campo de sua observação e manipulação, o que, em última análise, implica tanto na ampliação, quanto no questionamento de tais conhecimentos.

Há três formas de se conceber a Filosofia:

  • Metafísica: a Filosofia dominou na Antiguidade³ e na Idade Média4 trata-se do único saber possível e as demais ciências fazem parte dela. Sua característica principal é a negação de que qualquer investigação autônoma, fora da Filosofia, tenha validade, produzindo uns saberes imperfeitos, provisórios. Um conhecimento é filosófico ou não é conhecimento. Desse modo, o único saber verdadeiro é o filosófico, cabendo às demais ciências o trabalho braçal de garimpar o material sobre o qual a Filosofia trabalhará, constituindo não um saber, mas um conjunto de expedientes práticos.
  • Positivista: o conhecimento cabe às ciências, à Filosofia cabe coordenar e unificar seus resultados. Bacon atribui à Filosofia o papel de ciência universal e mãe das outras ciências. Todo o iluminismo5 participou do conceito de Filosofia como conhecimento científico.
  • Crítica: a Filosofia é juízo sobre a ciência e não conhecimento de objetos, sua tarefa é verificar a validade do saber, determinando seus limites, condições e possibilidades efetivas.

Não é possível aprender qualquer filosofia; pois onde se encontra, quem a possui e segundo quais características se pode reconhecê-la? Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, conformando-os ou rejeitando-os”. Kant

O pensamento mítico

Um mito é uma narrativa tradicional com caráter explicativo e/ou simbólico, profundamente relacionado com uma dada cultura e religião. O mito procura explicar os principais acontecimentos da vida, os fenômenos naturais, as origens do Mundo e do Homem por meio de deuses, semideuses e heróis (todos são criaturas sobrenaturais). Pode-se dizer que o mito é uma primeira tentativa de explicar a realidade.

A explicação mítica é contrária à explicação filosófica. A Filosofia procura, através de discussões, reflexões e argumentos, saber e explicar a realidade com razão e lógica, enquanto que o mito não explica racionalmente a realidade, procurando interpretá-la a partir de lendas e de histórias sagradas, não tendo quaisquer argumentos para suportar a sua interpretação.

Ao mito associa-se o rito. O rito é o modo de se pôr em ação o mito na vida do Homem (ex: cerimônias, danças, orações, sacrifícios, etc.

No entanto, até acontecimentos históricos podem-se transformar em mitos, adquirindo uma determinada carga simbólica para uma dada cultura. Na maioria das vezes, o termo refere-se especificamente aos relatos das civilizações antigas que, organizados, constituem uma mitologia - por exemplo, a mitologia grega e a mitologia romana.

Todas as culturas têm seus mitos, alguns dos quais são expressões particulares de arquétipos comuns a toda a humanidade. Por exemplo, os mitos sobre a criação do mundo repetem alguns temas, como o do ovo cósmico, ou o deus assassinado e esquartejado cujas partes vão formar tudo que existe.

Funções do mito

O mito tem, como finalidade, acomodar e tranqüilizar o Homem, que vive num mundo inseguro, assustador e, muitas vezes, hostil. Dá-lhe também confiança de que, através das ações mágicas e da adoração de certos deuses, o mundo natural terá equilíbrio e auxiliará o Homem. O mito, de certo modo, fixa modelos exemplares de todas as funções e atividades humanas.

Ele é, portanto, uma “primeira fala sobre o mundo”, uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre a qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel, e cuja função principal não é explicar a realidade, mas acomodar o homem ao mundo.

O mito hoje

Atualmente, os meios de comunicação de massa estimulam os desejos e anseios que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva.

Os super-heróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, bem como os personagens dos filmes, como, por exemplo, Homem Aranha e X-Men, e outros, passam a encarar o Bem e a Justiça, ”protegendo-nos” da grande insegurança e violência do mundo moderno.

Mito e razão fazem parte de nossas vidas, mas, com reflexão e crítica, podemos rejeitar os mitos que mostram valores destrutivos para a sociedade.

Mito Gregos

Mito de Afrodite

Entre os gregos, conta-se que Afrodite nasceu do sangue que jorrou dos testículos cortados de seu pai Urano e que caiu no mar. Da espuma surgiu Vênus, emergindo belíssima numa grande concha. Assim que chegou ao Olimpo, foi admirada e invejada por sua beleza. Era a deusa do Amor, da fecundidade, do contato com os seres humanos, dos animais e da vegetação, os quais brotavam à sua passagem. Como Vênus Uraniana protege o amor puro e ideal, depois passou a diversas formas, até mesmo à prostituição, como Vênus Hetaira ou Pornô. É protetora dos amantes, do instinto natural de fecundação e geração: a atração sexual.

Sua beleza seduziu a todos, exceto a Minerva, a Deusa da Sabedoria e da honra, e a Diana, a Deusa das artes e da caça e, finalmente, a Vesta, a Deusa do lar. Para acalmar essas deusas, Zeus obrigou-a a casar-se com Vulcano, o artesão dos metais. Vulcano era feio, disforme e coxo. Porém, Vênus aparecia sempre acompanhada de Eros, seu filho, o deus do Amor e também a ‘criança levada’, que fazia apaixonar-se aquele que fosse flechado por ele.

Vênus/Afrodite fez muitas conquistas e esteve envolvida em muitos episódios do Olimpo. Era uma deusa vaidosa e voluntariosa, e simboliza o lado do ser humano que anseia pela beleza e pela admiração, mas também pelo amor.

Mito de Pandora

Pandora foi a primeira mulher criada por Zeus como punição aos homens, pela ousadia de Prometeu em roubar aos céus o segredo do fogo.

Em sua criação, os vários deuses colaboraram com partes: Hefesto moldou sua forma a partir de argila; Afrodite deu-lhe a beleza; Apolo deu-lhe talento musical; Demeter ensinou-lhe a colheita; Atena deu-lhe habilidade manual; Poseidon deu-lhe um colar de pérolas e a certeza de não se afogar; e Zeus deu-lhe uma série de características pessoais, além de uma caixa: a caixa de Pandora.

A Caixa de Pandora continha todas as desgraças do mundo. Foi quando Pandora, em sua curiosidade ingênua, abriu-a, deixando escapar todas as desgraças que assolam o mundo, restando, dentro da caixa, apenas a esperança.

Mito na Administração

Henry Ford (1863-1947)o

Fundador da Ford Motor Company e o primeiro a aplicar a montagem em série, de forma a produzir, em massa, automóveis a um preço acessível.

SFrederick Winslow Taylor (1856-1915)

É considerado o “Pai da Administração Científica” por propor a utilização de métodos científicos cartesianos na administração de empresas.

Glossário

1Ciência: Investigação racional ou estudo da natureza, direcionado à descoberta da verdade.

2Razão: é a faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar; a inteligência.

3Idade Média: O período da Idade Média foi tradicionalmente delimitado com ênfase em eventos políticos. Nesses termos, ele teria se iniciado com a desintegração do Império Romano do Ocidente, no século V (476 d.C.), e terminado com o fim do Império Romano do Oriente, com a Queda de Constantinopla, no século XV (1453 d.C.).

4Antiguidade: Foi o período que se estendeu desde a invenção da escrita (4000 a.C. a 3500 a.C.) até à queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e início da Idade Média (século V).

5Iluminismo: foi um movimento intelectual surgido na segunda metade do século XVIII, o chamado “século das luzes”. Enfatizava a Razão e a Ciência como formas de explicar o Universo. Foi um dos movimentos impulsionadores do capitalismo e da sociedade moderna.

AULA 03

Os filósofos pré-socráticos

Os filósofos pré-socráticos discutem de maneira racional sobre a natureza, distanciando - se das explicações míticas do período anterior.

Dentre os pré-socráticos, destacamos apenas dois, Heráclito e Parmênides.

Para Heráclito, o mundo vive em constante movimento, o ser é múltiplo, já, para Parmênides, o ser é único, imutável, infinito e imóvel, o contrário das idéias de Heráclito.

Heráclito e Parmênides

Os filósofos pré-socráticos são, como sugere o nome, os filósofos anteriores a Sócrates.

Essa divisão acontece devido ao objeto da filosofia desses filósofos e da novidade introduzida por Sócrates. Temporalmente, os Sofistas1 são anteriores a Sócrates2, pois já havia sofistas antes de Sócrates, contemporâneos a ele e posteriores. Mas o pensamento deles situa-se em uma categoria própria, em certas vezes, e relacionados a Sócrates, noutras vezes. Isso porque o pensamento de ambos (sofistas e Sócrates) chega a tocar-se em muitas ocasiões; suas diferenças consistem em questões de conduta (os sofistas cobravam por seu ensinamento, por exemplo) e algumas posições (os sofistas eram relativistas, por exemplo). Mas ambos representam uma certa ruptura com os pré-socráticos, que são também chamados de filósofos da phisis.

Phisis, segundo os filósofos pré-socráticos, é a matéria que é fundamento eterno de todas as coisas e confere unidade e permanência ao Universo, o qual, na sua aparência, é múltiplo, mutável e transitório.

A noite segue ao dia. As estações do ano sucedem-se umas às outras. As plantas e os animais nascem, crescem e morrem. Diante desse espetáculo cotidiano da natureza, o homem manifesta sentimentos variados - medo, resignação, incompreensão, admiração e perplexidade. E são precisamente esses sentimentos que acabam por levá-lo à filosofia. O espanto inicial traduz-se em perguntas intrigantes: O que é esta natureza que apresenta tantas variações? Ela possui uma ordem ou é um caos sem nexo?

Tais filósofos, considerados pioneiros da filosofia ocidental, buscavam um princípio, a arché, que deveria ser um princípio presente em todos os momentos da existência de tudo.

Parmênides de Eléa

“Parmênides dizia que o Ser é completo de todos os lados, semelhante a uma esfera bem redonda”.

O mais importante dos filósofos eleatas foi Parmênides, de Eléa (540-450 a.C.).

“Nada nasce do nada, e nada do que existe se transforma em nada”. Com isso quis dizer que “tudo o que existe sempre existiu”. Sobre as transformações que se pode observar na natureza “achava que não seriam mudanças reais”.

De acordo com ele, nenhum objeto poderia se transformar em algo diferente do que era, percebia com os sentidos que as coisas mudam. Mas sua razão dizia-lhe que é logicamente impossível que uma coisa se tornasse diferente e, apesar disso, permanecesse de algum modo a mesma. Quando se viu forçado a escolher entre confiar nos sentidos ou na razão, escolheu a razão.

Parmênides conclui, a partir dos princípios estabelecidos, que o ser é único, imutável e imóvel. Uma das conseqüências dessa teoria é a identidade entre o ser e o pensar. Ou seja, as coisas que existem fora de mim são idênticas ao meu pensamento, e o que eu não conseguir pensar não pode ser na realidade.

Principais fragmentos:

“... pois pensar e ser é o mesmo...”.

“... o ser é, e o nada, ao contrário, nada é...”.

“... resta-nos assim um único caminho: o ser é...”.

Heráclito

Para Heráclito, o mundo era o mesmo para todos os seres, nenhum deus, nenhum homem o criou; mas foi, é, e será sempre um fogo eternamente vivo, que com medida se acende e com medida se apaga.

Um contemporâneo de Parmênides foi Heráclito (540-480 a.C.), que era de Éfeso, na Ásia Menor. Heráclito propunha que a matéria básica do Universo seria o fogo.Pensava também que a mudança constante, ou o fluxo, seria a característica mais elementar da Natureza.Podemos, talvez, dizer que Heráclito acreditava mais do que Parmênides naquilo que percebia. Tudo flui, disse Heráclito.Tudo está em fluxo e movimento constante, nada permanece. Por conseguinte, “não entramos duas vezes no mesmo rio”.

Parmênides e Heráclito defendiam dois pontos principais diametralmente opostos.

Parmênides dizia:

  • Nada muda.
  • Não se deve confiar em nossas percepções sensoriais.

Heráclito, por outro lado, dizia:

  • Tudo muda (“todas as coisas fluem”), e
  • Podemos confiar em nossas percepções sensoriais.

Heráclito atribuiu ao fogo o princípio de todas as coisas. “O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água em fogo”. Mas Heráclito era mobilista e afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. Ou seja, usa o fogo apenas como símbolo de todo esse movimento. Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.

Principais fragmentos:

“... Todas as coisas estão em movimento...”.

“... O movimento se processa através de contrários”.

“... Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia...”.

“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”.

Glossário

1Sofistas: Chama-se sofista, ou sofístico, um conjunto de pensadores, oradores e professores gregos do século V a.C. (e do início do século seguinte). Sofística era, originalmente, o termo dado às técnicas ensinadas por um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia antiga.)

2Sócrates: Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.) foi um filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. Sócrates nasceu em Atenas, no subúrbio de Alopeke, 469 anos antes de Cristo. Seu pai era escultor e sua mãe parteira. O método socrático, como desde antigamente se observou, tinha um pouco das qualidades das profissões de seus pais. Sócrates não impunha o conhecimento, mas, à maneira da profissão materna, ajudava para que ele viesse à tona de dentro do discípulo, que o produzia por si mesmo. Sua arte de dialogar, conhecida como maiêutica, provocava aquilo que ficou conhecido como “a parturição das idéias”. Por outro lado, sua intenção era a formação autônoma da pessoa. Era converter, à maneira da profissão paterna, uma massa natural e sem forma numa bela representação individual do espírito. Daí resultava que o conhecimento primordial do homem deve ser o conhecimento de si mesmo.

AULA 04

Sócrates 1

Sócrates contribuiu para a teoria do conhecimento com a definição de universal e com o uso do raciocínio indutivo. A procura da verdade empreendida por Sócrates está centrada no ponto de vista do ser, voltando sua atenção para o problema do homem. O seu método indutivo envolve duas fases: a destrutiva (ironia) e a maiêutica (parto), buscando, assim, o caminho para o conhecimento.

“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

Sócrates nasceu em Atenas, no subúrbio de Alopeke (470 a.C. - 399 a.C.). Filósofo ateniense, é um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. Acredita- se que tenha sido o fundador da atual Filosofia Ocidental. A fonte mais importante de informação sobre Sócrates é Platão 2. Os diálogos de Platão, retratam Sócrates como professor, recusando a ter discípulos, um homem de razão que obedece a voz divina em sua cabeça e um homem piedoso, o qual foi executado por causa da conveniência de seu próprio Estado. Sócrates não acreditava nos prazeres dos sentidos, todavia, interessava-se pela beleza. Dedicava-se à educação dos cidadãos de Atenas.

O julgamento e a execução de Sócrates foram os momentos mais importantes de sua carreira e são eventos centrais da obra de Platão. De acordo com Platão, ambos foram episódios desnecessários.

Sócrates admitiu, no julgamento, que poderia tê-lo evitado se tivesse desistido da filosofia e partisse para cuidar de sua própria vida. Depois de sua condenação, ele poderia ter impedido sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos.

Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há evidência de que Sócrates tenha mesmo publicado alguma obra. As obras de Aristófanes retratam Sócrates como um personagem cômico e sua representação não deve ser levada ao pé da letra.

Sócrates casou-se com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve três filhos: Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus. Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando ele se recusou a tentar escapar antes de sua execução.

Não se sabe, ao certo, qual foi o trabalho de Sócrates; de acordo com algumas fontes, Sócrates aprendeu a profissão de pedreiro com seu pai. Na obra de enofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: debater filosofia. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um professor.

Várias fontes, inclusive os diálogos de Platão, mencionam que Sócrates tinha participado, no exército, de várias batalhas. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri, que imaginasse que ele deveria se retirar da filosofia, deveria também imaginar que os soldados devessem bater em retirada quando era provável que pudessem morrer numa batalha.

O método de Conhecimento

Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância (Só sei que nada sei). Ele acreditava que os atos errados eram conseqüência da própria ignorância. Nunca proclamou ser sábio.

Seu método começa pela fase considerada “destrutiva” (a ironia), termo que, em grego, significa ‘perguntar’. Diante do oponente que se diz conhecedor de determinado assunto, Sócrates afirma nada saber. Através de perguntas introduzia ora um, ora outro conceito, até que a pessoa via-se em tal conflito que já não podia prosseguir, embaraçada, percebia que não sabia o que julgava saber e que apenas cultivara preconceitos.

A partir daí, Sócrates podia guiá-lo para o verdadeiro conhecimento, fazendo que extraísse de si mesmo a resposta.

“Todo o meu saber consiste em saber que nada sei”.

A segunda etapa de seu método é a maiêutica (em grego, parto), ‘nascimento de idéias’, “é a construção de novos conceitos baseados em argumentação racional”.

A sua intenção era a formação autônoma da pessoa. Daí resultava que o conhecimento primordial do homem deveria ser o conhecimento de si mesmo. Em função de suas idéias inovadoras para a sociedade, começa a atrair a atenção de muitos jovens atenienses. Suas qualidades de orador e suas inteligências também colaboraram para o aumento de sua popularidade. Temendo algum tipo de mudança na sociedade, a elite mais conservadora de Atenas começa a encarar Sócrates como um inimigo público e um agitador em potencial. Foi preso, acusado de pretender subverter a ordem social, corromper a juventude e provocar mudança na religião grega. Em sua cela foi condenado a suicidar-se, tomando um veneno chamado Cicuta, em 399 a.C.

Virtude

Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento, ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e num sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se desenvolver como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou sua sentença de morte quando todos pensavam que fugiria de Atenas, porque acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Defendia que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.

Política

Diz-se que Sócrates acreditava que os ideais pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Opunha-se à democracia que era praticada em Atenas durante sua época. Acreditava que a perfeita república deveria ser governada por filósofos. Acreditava também que os Tiranos eram até mesmo menos legítimos que a democracia.

Atenas

Atenas foi a principal cidade grega durante o grande período da civilização da Grécia, no primeiro milênio a.C., no decorrer da “Idade do Ouro” grega (aproximadamente 500 a.C. até 300 a.C.). Ela era o principal centro cultural e intelectual do Ocidente e é, certamente, nas idéias e práticas da Antiga Atenas que o que nós chamamos de “civilização ocidental” tem sua origem.

Após seus dias de grandiosidade, Atenas continuou a ser uma cidade próspera e um centro de estudos, até o período tardio romano.

Frases de Sócrates:

‘Só sei que nada sei’.

‘Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância’.

‘A vida sem ciência é uma espécie de morte’.

‘Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida’.

Maiêutica

Criada por Sócrates no século IV a.C., a maiêutica é o momento do “parto” intelectual da procura da verdade no interior do Homem. A auto-reflexão, expressa no nosce te ipsum - “conhece-te a ti mesmo” - põe o Homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude. Sócrates aplicou-a para questionar os valores da nobreza grega, que se julgava superior e apta a controlar e orientar os demais, pertencentes ao povo.

Com isso, atraiu antipatias que o levaram aos tribunais, sendo condenado à morte por meio de um veneno (cicuta). A maiêutica é um método que consiste em “parir” idéias complexas a partir de perguntas simples e articuladas dentro de um contexto (assunto).

Cicuta - a morte de Sócrates

Cicuta (também chamado de abioto, em alguns lugares de Portugal) é um gênero de plantas apiáceas que compreende quatro espécies de plantas muito venenosas, nativas das regiões temperadas do Hemisfério Norte, especialmente da América do Norte. São plantas herbáceas perenes, que crescem até 1-2 metros.

É também o nome comum dado ao veneno extremamente poderoso produzido pela planta, também comumente conhecida por Cicuta, nativa da Europa, Médio Oriente e Bacia Mediterrânica, e que além do seu uso como veneno para a ponta de setas, ficou conhecido como o veneno de Sócrates:

  • Sócrates, quando foi condenado à morte, foi forçado a tomar um chá de cicuta. Após tomar a cicuta, ficou dando voltas no quarto, como lhe haviam recomendado, até que sentiu as pernas pesadas. Deitou-se de costas para que, em intervalos, se examinassem os pés e as pernas, ocasião em que Sócrates já não mais os sentia. Sócrates começou a ficar frio e enrijecido, até que o veneno chegou no coração do filósofo e sobreveio a morte.
  • A Cicutina é um alcalóide muito venenoso extraído da cicuta e que tem a aparência de um óleo amarelado.

Glossário

1Sócrates: Ao contrário de seus predecessores, Sócrates não fundou uma escola, preferindo realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída, dialogando com todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época.

2Platão: Um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles.

AULA 05

Platão 1

Em O Mito da Caverna, Platão refere-se a seus contemporâneos, com suas crenças e superstições. O filósofo era um fugitivo capaz de escapar das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar dessas verdades aos homens habituados às suas impressões, o filósofo não seria compreendido, e também tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente. Para Platão, o filósofo teria o domínio da razão, assim sendo, teria a capacidade de governar os homens.

Este importante filósofo grego nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C., e morreu em 347 a.C. É considerado um dos principais pensadores gregos, pois influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas idéias baseiam-se na diferenciação do mundo entre as coisas sensíveis (mundo das idéias e a inteligência) e as coisas visíveis (seres vivos e a matéria).

Suas obras mais importantes e conhecidas são: Apologia de Sócrates, em que valoriza os pensamentos do mestre; O Banquete fala sobre o amor de uma forma dialética; e A República, em que analisa a política grega, a ética, o funcionamento das cidades, a cidadania e as questões sobre a imortalidade da alma. Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira é a realidade, mais concreta, permanente, imutável, igual a si mesma. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades dependentes, mutáveis e são imagens das realidades inteligíveis.

Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Idéias ou Teoria das Formas. Foi desenvolvida como hipótese no diálogo Fédon e constitui uma maneira de garantir a possibilidade do conhecimento e fornecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos.

Para Platão, o mundo concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das idéias. Cada objeto concreto que existe participa, junto com todos os outros objetos de sua categoria, de uma idéia perfeita. Por exemplo: Um lápis terá determinados atributos (cor, formato, tamanho, etc). Outro lápis terá outros atributos, sendo ele também um lápis, tanto quanto o outro. Aquilo que faz com que os dois sejam lápis é, para Platão, a idéia de lápis, perfeito, que esgota todas as possibilidades de ser lápis.

A ontologia de Platão diz, então, que algo é na medida em que participa da idéia desse objeto. No caso do lápis, é irrelevante, mas o foco de Platão são coisas, como o ser humano, o bem ou a justiça, por exemplo.

Política

“... os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes que os chefes das cidades, por uma divina graça, ponham-se a filosofar verdadeiramente”.

PLATÃO

Platão foi o primeiro a estudar a política sob uma perspectiva “científica”. Ele percebia que a polis2 estava “contaminada” pelas idéias dos sofistas e buscou uma maneira de “curá-la” desse mal, através da racionalidade.

Em seu livro A República, Platão desenvolveu seu pensamento político através da descrição do que seria, em sua concepção, a forma ideal de governo. Para Platão, a educação era a base da vida social e sua importância era tão grande que deveria ser assumida exclusivamente pelo Estado.

Por meio da educação, cada homem poderia desenvolver suas aptidões, e os que chegassem a se tornar filósofos (esse seria o mais alto grau de racionalidade atingível), seriam incumbidos do governo do Estado.

Platão não desejava restaurar nenhum sistema político. A experiência havia mostrado que, nem a oligarquia, nem a monarquia, nem a teocracia, nem a democracia funcionavam bem, não eram justos. O que Platão pretendia era, em verdade, criar uma forma de governo perfeita, baseada exclusivamente na racionalidade. O grande equívoco de Platão foi imaginar que os filósofos, por supostamente terem o domínio da razão, não fossem capazes de cometer injustiças.

É importante ressaltar que, para Platão, o conhecimento tem fins morais. Platão acreditava que existiam três espécies de virtudes baseadas na alma.

A primeira virtude era a da sabedoria, que deveria ser a cabeça do Estado, ou seja, a governante, pois possui caráter de ouro e utiliza a razão.

A segunda espécie de virtude é a coragem, que deveria ser o peito do estado, isto é, os soldados, já que sua alma de prata é imbuída de vontade.

E, por fim, a virtude da temperança, que deveria ser o baixo-ventre do estado, ou os trabalhadores, porque sua alma de bronze orienta-se pelo desejo das coisas sensíveis.

Educação

Platão valorizava os métodos de debate e conversação como formas de alcançar o conhecimento. De acordo com Platão, os alunos deveriam descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida. A educação deveria funcionar como forma de desenvolver o homem moral. A educação deveria dedicar esforços para o desenvolvimento intelectual e físico dos alunos. Aulas de retórica, debates, educação musical, geometria, astronomia e educação militar. Para os alunos de classes menos favorecidas, Platão dizia que deveriam buscar em trabalho a partir dos 13 anos de idade. Afirmava também que a educação da mulher deveria ser a mesma educação aplicada aos homens.

O Mito da Caverna

Extraído de A República, de Platão.

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados.

Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas à frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.

A luz que ali entra provém de uma imensa alta fogueira externa. Entre ele e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.

Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede, no fundo da caverna, as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.

Como jamais viram outras coisas, os prisioneiros imaginavam que a sombra vista são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.

Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.

Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira, na verdade, é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a sua vida, não vira senão sombra de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.

Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria a outros os que viram e tentaria libertá-los.

Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viue os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.

O que é a caverna?

Que são as sombras das estatuetas?

Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna?

O que é a luz exterior do sol?

O que é o mundo exterior?

Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros?

O que é a visão do mundo real iluminado?

Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense?)

Glossário

1Platão: Ombros largos originaram o apelido de Platão. Muitas celebridades ficaram conhecidas por pseudônimos ou apelidos. O nome de Platão era Aristocles. Platão foi o apelido que ganhou por ter os ombros largos. A palavra grega platys, da qual se originou, é a mesma que deu origem à “platéia” e “praça”, que significam espaços largos.

2Polis: era o modelo das antigas cidades gregas, desde a Antiguidade Clássica até o período helenista, vindo a perder importância durante o domínio romano. Devido às suas características, o termo pode ser usado como sinônimo de cidade.

AULA 06

Aristóteles1

A filosófica de Aristóteles critica a teoria das idéias de Platão, principalmente a divisão entre o mundo sensível e o mundo inteligível. Aristóteles pretendia não apenas rever como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores e, a partir daí, distingue três tipos de saber:

A experiência, a técnica, ou saber fazer, e a sabedoria, que é o único tipo de conhecimento a determinar as causas e princípios primeiros. O conhecimento, para Aristóteles, é intersecção desses modos de conhecer, sem haver ruptura ou descontinuidade entre eles.

Aristóteles, (384-322 a.C.), nasceu em Estagira, no norte da Grécia, filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas II, pai de Filipe II da Macedônia e avô de Alexandre, o Grande. É provável que o interesse de Aristóteles por biologia e fisiologia decorra da atividade médica exercida pelo pai e pelo seu tio.

Aos 17 anos partiu para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia. Como muitos outros jovens de seu tempo, foi para lá prosseguir os estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola de Sócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia, com preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de que quem não conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela Academia platônica e nela permaneceu 20 anos, até 347 a.C., ano em que morreu Platão.

Após a morte de Platão, Aristóteles partiu para Assos com alguns ex-alunos. Em Assos, Aristóteles fundou um pequeno círculo filosófico com a ajuda de Hérmias, tirano local e eventual ouvinte de Platão. Lá ficou por três anos e casou-se com Pítias, sobrinha de Hérmias.

Assassinado Hérmias, Aristóteles partiu para Mitilene, na ilha de Lesbos, onde realizou a maior parte de suas famosas investigações biológicas. No ano de 343 a.C., chamado por Filipe II, tornou-se preceptor de Alexandre, função que exerceu até 336 a.C., quando Alexandre subiu ao trono.

Aristóteles voltou a Atenas e fundou o «Lykeion», origem da palavra Liceu, cujos alunos ficaram conhecidos como peripatéticos (os que passeiam), nome decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre, muitas vezes, sob as árvores que cercavam o Liceu. Ao contrário da Academia de Platão, o Liceu privilegiava as ciências naturais.

Alexandre mesmo enviava, ao mestre, exemplares da fauna e flora das regiões conquistadas. Seu trabalho cobria os campos do conhecimento clássico de então: filosofia, metafísica, lógica, ética, política, retórica, poesia, biologia, zoologia, medicina, e não só estabeleceu as bases de tais disciplinas quanto sua metodologia científica.

Aristóteles dirigiu a escola até 324 a.C., pouco depois da morte de Alexandre. Os sentimentos antimacedônios dos atenienses voltaram-se contra ele que, sentindo-se ameaçado, deixou Atenas afirmando não permitir que a cidade cometesse um segundo crime contra a filosofia (alusão ao julgamento de Sócrates).

O pensamento aristotélico

A filosófica de Aristóteles pretendia não apenas rever, como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores. Ao mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar suas críticas, revisões e novas proposições.

Aluno de Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental de sua filosofia. Platão concebia dois mundos existentes: aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto, em constante mutação; e outro mundo, abstrato, o das idéias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material. Aristóteles defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além de nossa experiência sensível não pode ser nada para nós.

Lógica

Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o conhecimento e baseia-se no silogismo. O silogismo2 parte do universal para o particular; a indução, ao contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também o será.

Física

A concepção aristotélica de Física parte do movimento, elucidando-o nas análises dos conceitos de crescimento, alteração e mudança. A teoria do ato e potência, com implicações metafísicas, é o fundamento do sistema. Ato e potência relacionam-se com o movimento, enquanto que a matéria e forma com a ausência de movimento.

Para Aristóteles, os objetos caíam para se localizarem corretamente de acordo com sua natureza: o éter, acima de tudo; logo abaixo, o fogo; depois a água e, por último, a terra.

Psicologia

A Psicologia é a teoria da alma e baseia-se nos conceitos de alma e intelecto. A alma é a forma primordial de um corpo que possui vida em potência, sendo a essência do corpo. O intelecto, por sua vez, não se restringe a uma relação específica com o corpo; sua atividade vai além dele.

O organismo, uma vez desenvolvido, recebe a forma que lhe possibilitará perfeição maior, fazendo passar suas potências a ato. Essa forma é a alma. Ela faz com que vegetem, cresçam e se reproduzam os animais e as plantas, e também faz com que os animais sintam.

No homem, a alma, além de suas características vegetativas e sensitivas, há também a característica da inteligência, que é capaz de apreender as essências de modo independente da condição orgânica.

Ele acreditava que a mulher era um ser incompleto, um meio homem. Seria passiva, ao passo que o homem seria ativo.

Biologia

É a ciência da vida e situa-se no âmbito da física (como a própria psicologia), pois está centrada na relação entre ato e potência. Aristóteles foi o verdadeiro fundador da zoologia - levando-se em conta o sentido etimológico da palavra. A ele se deve a primeira divisão do reino animal.

Aristóteles é o pai da teoria da abiogênese, que durou até séculos mais recentes, segundo a qual um ser nascia de um germe da vida, sem que um outro ser precisasse gerá-lo (exceto os humanos): um exemplo é o das aves que vivem à beira das lagoas, cujo germe da vida estaria nas plantas próximas.

Metafísica

A metafísica3 não é aristotélica; o que hoje chamamos de metafísica era chamado, por Aristóteles, de filosofia primeira. Essa é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas, que possuem fácil e imediata apreensão sensorial.

O conceito de metafísica, em Aristóteles, é extremamente complexo e não há uma definição única; as idéias, para Aristóteles, apesar de umas experiências reais que, segundo ele, não são produções da mente humana, não preexistiriam ao seu objeto ou, então, as idéias não existiriam antes da experiência, como dizia Platão. Sendo assim, o sentido torna-se importante em comparação à atenção dada por Platão à razão. Uma terceira faculdade, a imaginação, serviria de ponte entre a sensibilidade e a razão

As quatro definições da metafísica:

  • Ciência que indaga as causas e princípios;
  • Ciência que indaga o ser enquanto ser;
  • Ciência que investiga a substância;
  • Ciência que investiga a substância supra-sensível.

Os conceitos abaixo possuem especial importância na metafísica:

  • Ato e Potência;
  • Matéria e Forma;
  • Substância e Acidente.

Potência, ato e movimento

Todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência já está pronta, concluída). Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato vai se transformar em árvore). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência).

Para Aristóteles, a única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, é o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não antecede coisa alguma. Desse conceito, Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus, em que Deus seria “ato puro”.

Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato, da privação à posse (da semente a árvore). É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência.

A figura faz parte do conteúdo da aula e facilita a sua compreensão.

Os conceitos de “ato” e “potência”, assim como os de causa, são essenciais para melhor compreensão dos conceitos de “forma” e “matéria”. A forma é o ato, é a essência da coisa tal como ela é aqui e agora. A matéria é a potencia, o que a coisa pode vir a ser no tempo. Quando uma matéria recebe a forma, não recebe inteiramente pronta, acabada, atualizada, mas a recebe inacabada, como uma possibilidade, como uma potencialidade que deve ser atualizada. Por exemplo, o macho e a fêmea se unem, surge à matéria a forma do feto, que é o ser futuro em potência, esta potencia tem que ser atualizada no tempo pela potencia da matéria, até que se torne uma criança, depois um adolescente e depois um adulto, realizando inteiramente a forma potencial. A criança é ato e, em potencia, é jovem; o jovem é ato e, em potencia, é adulto. Cada ser surge, portando, como forma atual (o que o ser é) e como a forma potencial (o que o ser deverá ser), e cabe à causa eficiente, a potência, atualizar a forma potencial, de tal modo que um ser não muda de forma , mas passa da forma menos perfeita ou acabada para a forma mais perfeita ou acabada. A matéria é passiva: recebe a forma atual e potencial e é puxada pela causa final para atualizar a forma potencial”. (CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, p.284).

As quatro causas: Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:

  • A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo,provém do barro);
  • A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila, o que foi feito da argila);
  • A causa motora (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila, a força, nesse caso, provêm do homem);
  • A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se um cachepô).

A teoria aristotélica sobre as causas estende-se sobre toda a Natureza, que é como um artista que age no interior das coisas.

Essência e acidente

Aristóteles distingue, também, a essência e os acidentes em alguma coisa.

A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo (por exemplo: um lápis sem grafite não pode ser considerado um lápis, pois o fato de ter grafite é o que o permite ser identificado como lápis e não como uma caneta.

O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza o ser por sua falta (o tamanho de um caminhão, por exemplo, é um acidente, já que um caminhão pequeno não deixará de ser um caminhão; a sua cor, também, pois, por mais que um caminhão tenha que ter, necessariamente, alguma cor, ainda assim, tal característica não faz de um caminhão o que ele é).

A essência de uma coisa é constituída pelas propriedades imutáveis da mesma. O oposto da essência são os acidentes da coisa, isto é, aquelas propriedades mutáveis. Pode-se dizer que:

A figura faz parte do conteúdo da aula e facilita a sua compreensão.

Metafísica – Aristóteles

“Os que por primeiro filosofaram, em sua maioria, pensaram que os princípios de todas as coisas fossem exclusivamente materiais”.

De fato, eles afirmam que aquilo de que todos os seres são constituidos e aquilo de que originariamente derivam e aquilo em que último se dissolvem é elemento e princípio dos seres, na medida em que é uma realidade que permanece idêntica mesmo na mudança de suas afecções. Por esta razão eles crêem que nada se gere e nada se destrua, já que tal realidade sempre se conserva. Assim como não dizemos que Sócrates é gerado em sentido absoluto quando se torna belo ou músico, e não dizemos que perece quando perde esses modos de ser, porque o substrato - ou seja, o próprio Sócrates - continua a existir, assim como também devemos dizer que não se corrompe, em sentido absoluto, nenhuma das outras coisas. De fato, deve haver alguma realidade natural (uma só ou mais de uma) da qual derivam todas as outras coisas, enquanto ela continua a existir sem mudança.

Aristóteles, Metafísica, vol. 2, 2002, A 3, 983b 6-18; ensaio introdutório, testo grego com tradução e comentário de Giovanni Reale, p; 15-6

Como complemento da aula, é essencial que você procure assistir ao filme O Nome da Rosa 4, de Umberto Eco.

Glossário

1Aristóteles: foi professor de Alexandre – O Grande – rei da Macedônia.

2Silogismo: é um termo filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão.

3Metafísica: é um ramo da filosofia que estuda o mundo como ele é. A saber, é o estudo do ser ou da realidade.

4O nome da rosa: O filme O nome da rosa, de Umberto Eco, adaptado para o cinema, com grande sucesso, comenta sobre um livro de ‘comédia’ que foi escrito por Aristóteles (há várias provas de ter sido escrito por ele). A obra foi achada em um mosteiro, mas, posteriormente, queimada. A justificativa para a destruição do livro é que o ‘riso acaba por tirar o temor do homem. Rindo, o homem não temeria nem a Deus...e nem precisaria da fé’.

AULA 07

Senso comum e bom senso

O senso comum é a fonte mais produtiva de nossas idéias, podendo gerar idéias verdadeiras e falsas. As fontes mais freqüentes de afirmações duvidosas e, freqüentemente, falsas são as crenças vindas de pressões, de preconceitos e de lugares-comuns; não é preciso viver desconfiando de todas as nossas afirmações do senso comum.

Costuma-se chamar de bom senso às idéias do senso comum que se mostram “verdadeiras” ou com mais probabilidade ou aparência de ser verdade. O bom senso possibilita analisar, com certo grau de crítica, o transcorrer dos fatos e a maneira vulgar de pensar, sendo mais acessível à análise e à verificação científica.

“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”. Rubem Alves

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado.Só pode ser encorajado.

Esses exemplos indicam um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é chamado de senso comum, e se baseia na tentativa e no erro.

Todos nós precisamos do senso comum, o qual nos permite sentir a realidade, e vai do hábito de realizar um comportamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração para geração.

O senso comum adquire-se quase sem se dar conta, desde a mais tenra infância e, apesar das suas limitações, é um saber fundamental, sem o qual não nos conseguiríamos orientar na vida cotidiana.

Sendo assim, torna-se facilmente compreensível que todos os homens possuam senso comum, mas este varia de sociedade para sociedade e, mesmo dentro duma mesma sociedade, varia de grupo social para grupo social ou, também, por exemplo, de grupo profissional para grupo profissional.

Mas, sendo imprescindível, o senso comum não é suficiente para compreendermos a nós próprios e ao mundo em que vivemos, pois, se na nossa reflexão sobre a nossa situação no mundo, ficarmos pelos dados do senso comum, por assim dizer os dados mais básicos da nossa consciência natural, facilmente cairemos na ilusão de que as coisas são exatamente aquilo que parecem, nunca chegando a perceber que existe uma radical diferença entre a aparência e a realidade.

Somos, imperceptivelmente, levados a consolidar um conjunto solidário de certezas, das quais, como é óbvio, achamos ser absurdo duvidar. Temos a certeza de que existimos, de que as coisas que nos rodeiam existem, que aquilo que nos acontece é irrefutável, etc. Contudo, essas certezas são questionáveis, pois se baseiam em aparências. E há muitas aparências que se nos impõem com uma força quase irresistível, por exemplo: aparentemente o Sol move-se no céu (não é verdade que essa foi uma convicção aceita, durante muitos séculos, pela comunidade científica?).

Podemos mesmo aprender a medir o tempo a partir desse movimento aparente, porém, na realidade, esse movimento aparente do Sol é gerado pelo movimento de rotação da terra.

Mas, essa distinção entre aparência e realidade, da qual não nos podemos libertar por causa de nossa natureza (ou melhor, da constituição dos nossos órgãos sensoriais e do nosso sistema nervoso), está dependente da diferença que existe entre o conhecimento sensível e o conhecimento racional.

O conhecimento que temos através dos sentidos é forçosamente incompleto e filtrado, pois os nossos órgãos receptores só são estimulados por determinados fenômenos físicos, deixando de lado um campo quase infinito de possíveis estímulos. É, portanto, inquestionável que não conhecemos, sensorialmente, a realidade tal como ela é.

Sendo assim, os sentidos parecem que nos enganam, visto que os dados que nos fornecem acerca da realidade são insuficientes para alcançarmos um conhecimento verdadeiro, ou objetivo, da mesma.

Por isso, a Razão permite-nos alcançar conhecimentos que nunca poderíamos alcançar através dos sentidos.

Marilena Chauí explicita as características do senso comum, que se apresentam, como: subjetivos; qualitativos; heterogêneos; individualizadores; generalizadores; estabelecem relações de causa e efeito entre as coisas e entre os fatos; não se surpreendem e nem se admiram com a regularidade, constância, repetição e diferença das coisas; identificam ciência com magia.

“O senso comum e a ciência são expressões da mesma necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver melhor e sobreviver. Para aqueles que teriam a tendência de achar que o senso comum é inferior à ciência, eu só gostaria de lembrar que, por dezenas de milhares de anos, os homens sobreviveram sem coisa alguma que se assemelhasse a nossa ciência. Depois de cerca de quatro séculos, desde que surgiu com seus fundadores, curiosamente a ciência está apresentando sérias ameaças à nossa sobrevivência”.

Características do senso comum

  • Subjetivos: Mostram os sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro, dependendo das condições em que vivemos.
  • Qualitativos: São julgados por nós como doces ou azedos, pesados ou leves, novos ou velhos, belos ou feios, quentes ou frios, úteis ou inúteis, desejáveis ou indesejáveis, coloridos ou sem cor, com sabor, odor, etc.
  • Heterogêneos: São fatos que julgamos diferentes, porque os percebemos como diversos entre si. Por exemplo, sonhar com rio é diferente de sonhar com deserto, etc.
  • Individualizadores: por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada coisa ou cada fato nos aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo: o algodão é áspero, o mel é doce, o fogo é quente, etc.
  • Generalizadores: Reúnem numa só opinião ou numa só idéia coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos animais, das plantas, dos seres humanos, dos astros, dos gatos, etc.
  • Acrítico: conhecimento passivo, em que o indivíduo não se interroga sobre os dados da experiência, nem se preocupa com a possibilidade de existirem erros no seu conhecimento da realidade.
  • Caráter aparente ou ilusório: Como não há a preocupação de procurar erros, o senso comum é um conhecimento que se contenta com as aparências, formando, por isso, uma representação ilusória, deturpada e falsa da realidade.
  • Superficial: O senso comum não aprofunda o seu conhecimento da realidade, fica-se pela superfície, não procurando descobrir as causas dos acontecimentos, ou seja, a sua razão de ser que, por sua vez, permitiria explicá-los racionalmente.
  • Prático e utilitário: O senso comum nasce da prática cotidiana e está totalmente orientado para o desempenho das tarefas da vida diária, por isso, as informações que o compõem são as mais simples e diretas possíveis.
  • Caráter particular: o senso comum não é um saber universal, uma vez que fica pela aquisição de informações muito incompletas sobre a realidade (por isso também se diz que ele é fragmentário), não podendo, assim, fazer generalizações fundamentadas.

No senso comum não há análise, o senso comum é o que as pessoas usam no seu cotidiano, o que é natural, o que elas pensam que é verdade.

Bom senso

Dê um peixe a um homem faminto. Quando o peixe acabar e a fome voltar, ele retornará para pedir mais. Ensine o homem a pescar. Ele nunca mais voltará. O mesmo é verdade acerca do senso comum e da ciência. Pessoas que sabem soluções já dadas são mendigos permanentes. A questão não é saber uma solução já dada, mas ser capaz de aprender novas maneiras de sobreviver.

Rubem Alves

É a forma de "filosofar" espontâneo do homem comum, chamado de "filosofia de vida", que julga certa capacidade de organização e independência de quem analisa a experiência do dia-a-dia. É a escolha de alguns critérios para decidir sobre os problemas e dúvidas encontrados, mas pouco rigorosa. Mesmo não tendo acesso à filosofia e à ciência, alguns homens são capazes de desenvolver um senso crítico, uma sabedoria de vida, por meio da qual podem assumir uma postura de certa independência em relação à avalanche de informações e pressões ideológicas que os cercam a todo instante.

O bom senso possibilita avaliar, com certo grau de crítica, o transcorrer dos fatos e a maneira vulgar de pensar, é mais aberto à crítica e à comprovação científica. Assim, entre outras, fazem parte do bom senso:

  1. A intuição: além de ser fundamental na criação artística, a intuição é um tipo de pensamento que leva a conhecimentos instantâneos, sem auxilio da razão. É freqüente, no senso comum, em situações novas e emergentes, podendo levar ao bom senso.
  2. As sensações: a visão, a audição, o tato, a gustação e o olfato são veículos de informação.
  3. A observação: um olhar atento para certas relações continuadas, que se repetem, pode levar-nos a certas conclusões de bom senso.
  4. A razão: análise e síntese, dedução e indução, e outros processos lógicos não são exclusivos da ciência. São próprios da inteligência humana e operam no senso comum também. Assim, podemos inferir muita coisa. Inferir é obter uma conclusão a partir de uma evidência.

As fontes do bom senso são fontes de senso comum e podem, assim, levar a afirmações falsas. Em razão disso, o bom senso costuma não se precipitar em suas conclusões.

Ao estabelecer uma verdade, procura testá-la na experiência continuada, repetida, em hábitos e tradições, que nem sempre são fontes seguras da verdade. Esse procedimento pode, porém, fortalecer uma afirmação.

 

AULA 08

Ideologia e alienação

A ideologia abriga a verdade dos fatos através da linguagem, gerando uma sombra, e nos torna míopes ante a realidade. Dessa forma, esse sistema de idéias produzidas pela classe dominante impede o uso da força e da violência, para dominar as pessoas pelo convencimento. Quer entendida como uma teoria (sistema de idéias) científica, social, política e econômica puramente descritiva, ou como um instrumento de "mascaramento" da realidade, a ideologia faz parte da vida de todos nós, sejamos conscientes ou não desse fato.

“Quem me dera ao menos uma vez que o simples fosse visto como mais importante mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente”.

Renato Russo, "Índios", álbum II (1986)

A palavra ideologia foi criada no começo do século XIX para designar uma "teoria geral das idéias" A origem do termo ocorreu com Destutt de Tracy, que criou a palavra e lhe deu o primeiro de seus significados: ciência das idéias.

Mas foi Karl Marx quem começou a fazer uso político dela quando escreveu um livro junto com Friedrich Engels, intitulado A ideologia alemã. Nessa obra, eles mostram que toda a sociedade está dividida em classes e a classe que domina as demais faz de tudo para não perder essa condição

Uma forma de manter-se no poder é usar a violência contra todos aqueles que forem contrários a ela, mas essa violência também pode se voltar contra essa própria classe. A violência pode gerar a revolta do povo. É, então, muito mais fácil e mais eficiente dominar as pessoas pelo convencimento.1

Assim, a ideologia constituirá um corpo de idéias produzidas pela classe dominante que será difundido por toda a população, de modo a convencer a todos de que aquela estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível. Com o tempo, essas idéias tornassem as idéias de todos.

A ideologia trata, então, de disseminar a idéia de que vivemos numa sociedade de oportunidades e de que o sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo, cada indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos milhões de pessoas vivendo na miséria!

Essa classe que se encontra no poder fará uso de todos os mecanismos possíveis e imagináveis para distribuir suas idéias para todas as pessoas, fazendo com que acreditem apenas nelas. Numa sociedade de dominação, essa é a função dos meios de comunicação, das escolas, das igrejas e das mais diversas instituições sociais. Onde houver pessoas reunidas, ou mesmo sozinhas, haverá uma forma de ideologia em ação.

A ideologia passa a dominar todos os nossos atos. Quando nos convencemos da verdade dessas idéias, passamos a agir inconscientemente guiado por elas, ou seja, o corpo de idéias constituído atravessa nosso pensamento sem nos darmos conta e passamos a desejar o que o outro determina: quando compro um sabonete ou um creme dental, estou fazendo uma "escolha" que me foi determinada pela propaganda. Quando voto num candidato a prefeito, estou fazendo também uma "escolha" determinada pela propaganda, pois, na democracia representativa, os discursos são construídos de forma ideológica para convencer o eleitor de que aquele candidato é o melhor.

Quando uma ideologia funciona de fato, ela se distribui por toda a sociedade, de forma a fazer com que cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O triunfo de uma ideologia acontece quando todo um grupo social está definitivamente convencido de sua verdade.

Preste um pouco de atenção nas propagandas que bombardeiam nossos olhos e ouvidos a todo o momento. Já pensou sobre as mensagens que nos são transmitidas pelos meios de comunicação: TV, rádio, jornais e revistas?

Fiquemos com apenas um exemplo por enquanto: a propaganda dos cigarros Free. O centro desses comerciais é a afirmação da individualidade e da liberdade: cada indivíduo é livre e deve afirmar-se por meio de sua criatividade, no entanto, sempre há algo em comum, que é preferência por aquela marca de cigarro. O mecanismo é o seguinte: se você fuma Free, você é um sujeito livre, criativo, autônomo."Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum", esse é o slogan.

Consumir essa marca de cigarro é afirmar sua independência e singularidade.

Continuemos com o exemplo das propagandas de cigarro. A marca Hollywood investe na afirmação do sucesso: os comerciais mostram jovens bonitos e sempre bem sucedidos, induzindo-o a pensar que fumar aquele cigarro fará com que você seja também alguém bonito e bem-sucedido.

Às vezes, alguém se esforça ao limite, mas nada de se chegar ao sucesso. Ele permanece como um ideal, um sonho quase inatingível, mas do qual não abrimos mão, do qual jamais desistiremos. Quando esse indivíduo vê o belíssimo comercial de cigarro que estampa a imagem do sucesso, algo desperta, bem lá no íntimo de seu ser. Inconscientemente, ele associa a imagem do cigarro à imagem do sucesso e renova suas forças na busca de obtê-lo. Fumar Hollywood é ser bem sucedido, embora, na verdade, ele continue insatisfeito com seu trabalho, seu salário, com seu casamento, enfim, com sua vida.

Já a marca Carlton investe no slogan "um raro prazer"; os comerciais são sofisticados, mostram arte de vanguarda. Essa marca procura investir em pessoas que querem ser refinadas, que ouvem jazz e música clássica, que apreciam balé e arte contemporânea; se você se identifica com a imagem produzida, procurará consumir aquele produto.

O que fica bem evidente nos comerciais de cigarro é o fundamento do mecanismo de qualquer propaganda.

Se sua função é vender um determinado produto, é necessário que você se convença da necessidade de consumi-lo. A persuasão do consumidor é a tarefa básica do marketing. Mas essa persuasão, na maioria das vezes, é feita com base em mentiras (ilusão); não é verdade que você será mais livre fumando Frei ou terá mais sucesso fumando Hollywood, ou será mais sofisticado se sua "escolha" for o Carlton. De fato, o que mais provavelmente acontecerá é que você ganhará um “belo” câncer de pulmão com qualquer um deles! E as indústrias que os fabricam ganharão muito dinheiro, é claro! Ela agradece a preferência!

A essa tentativa de convencer as pessoas, por meio de um falseamento da realidade, chamamos de ideologia.

A ideologia tem um poder de persuasão indiscutível. O discurso ideológico nos ameaça de congelar a mente, de perturbar a curiosidade, de desviar a percepção dos fatos, das coisas, dos acontecimentos. Mas, lembre-se, não podemos escutar, sem um mínimo de reação crítica, discursos como estes:

Em defesa de sua honra, o marido matou a mulher. Que poderíamos esperar deles, uns baderneiros, invasores de terra? Essa gente é sempre assim: damos-lhes os pés e logo querem as mãos. Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa. Perguntar-lhe seria uma perda de tempo.

Maria é negra, mas é bondosa e competente. Esse sujeito é um bom cara. É nordestino, mas é sério e prestimoso.Você sabe com quem está falando? Que vergonha, homem se casar com homem, mulher se casar com mulher. É isso, você vai se meter com gentinha, é o que dá. O governo tem que investir mesmo é nas áreas onde mora gente que paga imposto. Você não precisa pensar. Vote em fulano, que pensa por você.Você, desempregado, seja grato. Vote em quem ajudou você.

Vote em fulano de tal.

O Brasil foi descoberto por Cabral.

Conceito de alienação

Alienação é uma forma de tirar a identidade das pessoas. Uma pessoa alienada é aquela que age sem saber das coisas. É uma pessoa que vive, mas não dá importância para o que se passa no mundo. Que não luta pelos seus ideais e que se submete a qualquer coisa. Algumas pessoas são tão alienadas que não sabem nem mesmo a situação que nosso país está vivendo.

O governo, as empresas privadas e a mídia são os principais agentes de alienação. Com programas como Big Brother, que não tem um valor cultural e que induz a pessoa a defender determinado candidato, sendo tudo construído e adulterado, um verdadeiro reality show. As pessoas não sabem que perdem um tempo precioso, em que podiam estar lendo um livro e jornais para saberem o que se passa pelo mundo. Por sua vez, alienação é se deixar levar sem ter opinião e sem saber o motivo das coisas.

Segundo Marilena Chauí, a alienação divide-se em três partes:

1ª) A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas.

2ª) A alienação econômica é dupla:

Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.). Vendendo sua força de trabalho, os trabalhadores não passam de mercadorias e, como toda mercadoria, recebem também um preço, isto é, o salário. Entretanto, os trabalhadores viram coisas que produzem coisas, não percebendo que foram desumanizados e “coisificados”.

Em segundo lugar, os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de consumo (pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas, não se percebe que foi preciso um trabalho humano, é como se tudo fosse feito por um “deus” e não pelo homem.

3ª) A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias), enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:

Primeiro, desconhecem que suas idéias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, as classes dominantes; Segundo, ignoram que as idéias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram armazenadas na própria realidade e que eles apenas as desvendam e as descrevem sob a forma de teorias gerais e, enfim, em terceiro lugar, esquecem a origem social das idéias e seu próprio trabalho para criá-las, acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam,dirigem e dominam.

Vimos que as três grandes formas da alienação (social, econômica e intelectual) são as causas do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia.

Curiosidades

A origem da expressão "Tio Sam"

A expressão Tio Sam originou-se do nome de Samuel Wilson, fornecedor de provisões do exército norte-americano na Guerra de 1812.

Os fardos e os caixotes do material traziam a sigla "US Army" - Exército dos Estados Unidos. Os soldados fizeram piada e a sigla teve a interpretação jocosa de "Uncle Sam Army", ou seja, Exército do Tio Sam.

Carnaval

Para homenagear o Deus Saturno, havia uma festa na Roma Antiga chamada "Saturnais". As escolas ficavam fechadas, os escravos eram soltos e as pessoas saíam às ruas para dançar. Carros (chamados de carrum navalis por serem semelhantes aos navios) levavam homens e mulheres nus em desfile. Muitos dizem que pode ter vindo daí a expressão "carnavale".

A Igreja Católica opunha-se a esses festejos pagãos, mas, em 590, decidiu reconhecê-los. Exigiu, porém, que o dia seguinte (Quarta-Feira de Cinzas) fosse dedicado à expiação dos pecados e ao arrependimento.

De lá para cá, o Carnaval foi mudando aos poucos de cara. Na Idade Média, incluía sátiras aos poderosos. Os foliões protegiam-se de possíveis retaliações com a desculpa de que a festa os deixava loucos (folia, em francês, significa loucura).

No Brasil, o início da festa é conhecido como "grito de carnaval". Antigamente, os clubes promoviam festas pré-carnavalescas com esse nome. Nessas festas, as pessoas iam fantasiadas e cantavam e dançavam ao som de marchinhas de carnaval.

Carnaval no Brasil

O Carnaval brasileiro é descendente do "entrudo" português. O dicionário diz que entrudar significa molhar com água, empoar de goma ou talcos, fazer peça. E a farra era essa mesma. No século XVII, os foliões armavam-se de baldes e latas cheias de água, e todos acabavam molhados. Até Dom Pedro II divertia-se jogando água nos nobres. Acontecia aqui antes do início da Quaresma e durava três dias, de domingo até a terça-feira gorda.

Com o passar dos anos, a brincadeira foi ficando mais agressiva. Água suja, farinha e talco lambuzavam as roupas dos brincalhões. Limões, laranjas e ovos eram atirados em quem estivesse na rua. Logo surgiu uma lei proibindo o entrudo. Em 1854, um chefe de polícia do Rio de Janeiro (RJ) determinou que a partir daquela data o entrudo tinha de "ser seco para não estragar as roupas mais custosas e cuidadas e não provocar desordens e confusão". O entrudo a seco transformou-se no Carnaval.

Em 1892, o extinto Ministério do Interior tentou mudar a data da festa para 26 de junho. Segundo eles, tratava-se de um mês mais saudável. O povo aproveitou o ano para fazer dois carnavais. Algo parecido ocorreu em 1912. A folia foi transferida por causa da morte do Barão do Rio Branco. Novamente, houve duas festas. O jornal “A Noite” gozou o episódio: "Com a morte do Barão/Tivemos dois carnavá/Ai que bom, ai que gostoso/ Se morresse o marechá". O marechá, no caso, era o presidente, o marechal Hermes da Fonseca.

O primeiro bloco organizado brasileiro foi o Congresso de Sumidades Carnavalescas. Fazia parte da turma, o escritor José de Alencar.

Já o primeiro baile carnavalesco ocorreu no Largo do Rocio, no Rio de Janeiro (RJ), em 1840. Foi uma iniciativa de uma atriz italiana que queria reproduzir o Carnaval de Veneza.

Monique Evans foi pioneira no quesito madrinha de bateria famosa. Ela estreou à frente dos percussionistas da Mangueira, em 1985.

Data em que cai o Carnaval.

A data em que se comemora o Carnaval é definida com base na Páscoa. A Quarta - Feira de Cinzas sempre cai 46 dias antes do domingo da festividade, que é a soma dos 40 dias que antecedem o Domingo de Ramos com os seis dias da Semana Santa.

Origem: Wikipédia, a Enciclopédia Livre.

Como complemento da aula, é essencial que você procure assistir o filme Obrigado por fumar de Jason Reitman2, e procure ouvir a música Ideologia de Cazuza e Frejat.

Glossário

1Karl Marx: Foi um intelectual alemão, economista, sendo considerado um dos fundadores da Sociologia. Também é possível encontrar a influência de Marx em várias outras áreas, tais como: Filosofia e História, já que o conhecimento humano, em sua época, não estava fragmentado em diversas especialidades da forma como se encontra hoje. Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento operário, sendo que ambos (Marx e o movimento operário) influenciaram uns aos outros durante o período em que o autor viveu.

2Obrigado por fumar: (Diretor - Jason Reitman.). Porta voz de uma fábrica de cigarros precisa defender publicamente o cigarro, ao mesmo tempo em que tenta se manter como um modelo para seu filho pequeno. Adaptação do romance best-seller de Christopher Buckley.

Indicação de Sites

AULA 09

A ética

A moral e a ética, apesar de diferentes, são, com freqüência, usadas como sinônimos. A moral é o conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época. A ética faz uma reflexão a respeito das noções e dos princípios que fundamentam a vida moral. O comportamento moral varia de acordo com o tempo e o lugar; na medida em que essas relações alteram-se, existem lentas modificações nas normas de valores. Os valores culturais são herdados por nós desde que nascemos, é um sistema de significados já estabelecidos, como, por exemplo, aprendermos desde cedo como nos comportarmos na escola, na igreja, etc.

Portanto, a ética procura investigar e explicar o comportamento moral, traço essencial da conduta humana.

O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem caráter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!

Martin Luther King1

A ética é uma característica essencial a toda atuação humana e, por essa razão, é um elemento fundamental na produção da realidade social. Todos nós possuímos um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando nossas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas, honestas ou desonestas.

A ética é uma característica essencial a toda atuação humana e, por essa razão, é um elemento fundamental na produção da realidade social. Todos nós possuímos um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando nossas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas, honestas ou desonestas.

Na Antigüidade, ética referia-se ao caráter verdadeiramente público, às normas válidas para todos; um homem de caráter, com princípios éticos, tinha a confiança de todos. Ética é, então, honestidade, transparência, respeito ao bem-público.

Com a emergência da filosofia, a ética passa a ser objeto de reflexão a partir de diferentes pontos de vista (ideologias).

Aristóteles, (como já vimos na aula 06), o grande mestre grego que viveu há uns 2.300 anos, situou a sua “ciência das virtudes” entre a Física e a Política. A rigor, as ciências filosóficas da práxis deveriam ser três: a Ética, centrada no agir individual, a Economia, que deveria estar voltada para a práxis doméstica ou familiar, e a Política, idealizando as relações humanas dentro do universo de cidade/estado e das cidades entre si. O que caracteriza a ética aristotélica e dos seus seguidores é que ela estuda o agir a partir de uma concepção do homem como sendo: um animal político, que tem linguagem, age logicamente e que precisa desenvolver-se dentro de uma sociedade concreta, num período de tempo, dentro de formas concretas de governo de uma cidade, se quiser ser feliz.

O ideal de Aristóteles é o do homem virtuoso, significando a virtude uma força, um vigor, uma excelência relacionada aos valores práticos e intelectuais da existência.

O homem mais virtuoso seria o mais capaz de realizar-se como homem, atingindo, assim, a felicidade (eudemonía2), meta procurada por todos. Essa felicidade supõe um certo equilíbrio de bens, pois o homem não busca, simplesmente, um único bem. Necessita de comida e de bebida, de saúde para sentir-se bem, de algum dinheiro, de alguns amigos, de algum reconhecimento público e respeito por parte da sociedade ou do estado, e precisa até ter algum tempo para poder dedicar-se às reflexões filosóficas, metafísicas, bem como precisa assistir a algumas representações teatrais, para, participando das tragédias, crescer moralmente.

Outra característica da ética aristotélica é uma certa noção de natureza humana. Há coisas que nossa reflexão mostra ajudarem à natureza, outras vemos que lhe são nocivas.

A ética também estuda a responsabilidade do ato moral, ou seja, a decisão de agir numa situação concreta é um problema prático-moral, mas investigar se a pessoa pôde escolher entre duas ou mais alternativas de ação e agir de acordo com sua decisão é um problema teórico-ético, pois verifica a liberdade ou o determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos. Se o determinismo é total, então, não há mais espaço para a ética, já que se ela se refere às ações humanas e se essas ações estão totalmente determinadas de fora para dentro, não há qualquer espaço para a liberdade, para a autodeterminação e, consequentemente, para a ética.

A ética pode também contribuir para motivar ou justificar certa forma de comportamento moral. Assim, se a ética revela uma relação entre o comportamento moral e as necessidades e os interesses sociais, ela nos ajudará a situar no devido lugar as morais essenciais, reais, do grupo social.

Por outro lado, ela nos permite exercitar uma forma de questionamento, em que nos colocamos diante do dilema entre "o que é" e o "que deveria ser", protegendo-nos contra a ingênua identificação dos valores e das normas vigentes na sociedade e abrindo, em nossas almas, a possibilidade de desconfiarmos de que os valores morais vigentes podem estar disfarçando interesses que não correspondem às próprias causas geradoras da moral. A reflexão ética também permite a identificação de valores enraizados que já não mais satisfazem os interesses da sociedade a que servem.

Podemos notar que existe sempre comportamento humano classificável sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação com as raízes culturais que imperam em determinadas sociedades e contextos históricos.

Moral é o conjunto de regras de conduta consideradas válidas para um grupo.É a ideologia (como vimos na aula anterior) dominante de um grupo.

A reflexão sobre as diferenças das regras morais, entre si, gerou a necessidade de crítica e autocrítica dos discursos sobre o que é certo e o que é errado dentro de cada conjunto de regras. O intercâmbio comercial e cultural dos povos fez com que essa reflexão se estendesse como forma de busca de entendimento entre diferentes culturas.

Na modernidade, fala-se de moral racional, na medida em que à razão humana é dado o direito de distinguir o que permanece válido e o que está ultrapassado.

Hoje, a moral já não é mais comparada a um livro sagrado ou a algum ritual, mas submetida à crítica racional. Mas também essa moral racional pode fecundar-se como ideologia e tornar-se dominante, impondo-se a diferentes culturas por meio da coerção, de persuasão e de leis.

A busca de uma dignidade moral equivale à busca da ética, na medida em que a crítica racional inclui uma crítica de seus próprios limites ideológicos. A noção de poder estendeu-se do Estado para a sociedade e, portanto, a noção de ética também se ampliou -- como espaço de reflexão que delimita o uso do poder entre os indivíduos, e que requer destes um desenvolvimento equilibrado de suas potencialidades humanas.

A busca de uma dignidade moral equivale à busca da ética, na medida em que a crítica racional inclui uma crítica de seus próprios limites ideológicos. A noção de poder estendeu-se do Estado para a sociedade e, portanto, a noção de ética também se ampliou -- como espaço de reflexão que delimita o uso do poder entre os indivíduos, e que requer destes um desenvolvimento equilibrado de suas potencialidades humanas.

O desenvolvimento do potencial humano promove a sua própria compreensão. A observação isenta de nossas atitudes, de nossos gestos, de nossos pensamentos e emoções, em cada circunstância, com o intuito de aprender sem acumular, sem condenar e sem justificar, com o propósito de conhecer em profundidade o que e quem somos é o passo inicial para desencadearmos um longo processo, que se estende por toda a vida.

Esse processo de observação e aprendizagem pode ocorrer a qualquer momento. Não precisa de esforço, conhecimento técnico, isolamento social, ritual ou qualquer pretexto além de nossos próprios recursos naturais, intuitivos, perceptivos, emocionais e intelectuais.

Em momentos dramáticos, a vida impõe a opção por valores morais, que podem ser individualistas, antropocêntricos e instrumentalistas, de acordo com as ideologias dominantes. Ou libertários, solidários, altruístas, ecológicos, de acordo com as ideologias atualmente dominadas. A criatividade e a ética podem abrir caminho entre as ideologias, renová-las por dentro, ampliando seus horizontes.

Não podemos confundir a ética e a moral. A ética não cria a moral. Embora seja certo que toda moral supõe determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que os estabelece numa determinada comunidade.

A ética se depara com uma experiência histórico-social no terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência da moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação desses juízos e o início que conduz à mudança e ao ciclo de diferentes sistemas morais.

Os problemas éticos, ao contrário dos prático-morais, são caracterizados pela sua generalidade. Por exemplo, se um indivíduo está diante de uma determinada situação, deverá resolvê-la por si mesmo com a ajuda de uma norma que reconhece e aceita intimamente, pois o problema do que fazer, numa dada situação, é um problema prático-moral e não teórico-ético.

Mas, quando estamos diante de uma situação, como, por exemplo, definir o conceito de “bem”, já ultrapassamos os limites dos problemas morais e estamos num problema geral de caráter teórico, no campo de investigação da ética. Tanto é que diversas teorias éticas organizaram-se em torno da definição do que é “bem”. Muitos filósofos acreditaram que, uma vez entendido o que é “bem”, descobriríamos o que fazer diante das situações apresentadas pela vida. As respostas encontradas não são universais e as suas definições variam muito de um filósofo para outro. Para uns, “bem” é o prazer, para outros, é o útil, e assim por diante.

Na época da escravidão, por exemplo, as pessoas acreditavam que os escravos eram seres inferiores por natureza (como dizia Aristóteles) ou pela vontade divina.

Elas não se sentiam eticamente questionadas diante da injustiça cometida contra os escravos. Isso porque o termo "injustiça" já é fruto de juízo ético de alguém que percebe que a realidade não é o que deveria ser.

Como a ética é uma ciência, devemos fugir ao impulso de reduzi-la ao campo exclusivamente normativo. Seu valor está naquilo que explica e não no fato de prescrever ou recomendar com vistas à ação em situações concretas.

A ética também não tem caráter exclusivamente descritivo, ela procura investigar e explicar o comportamento moral, traço essencial do conhecimento humano.

Não é papel da ética estabelecer juízos de valor quanto à prática moral de outras sociedades, mas explicar a razão de ser dessas diferenças e o motivo de os homens terem recorrido, ao longo da história, a práticas morais diferentes e até adversas.

No nosso dia-a-dia, estamos sempre diante de problemas do tipo versão para impressão:

· Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir?

· Será que é correto tomar tal atitude?

· Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de morte?

· Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho?

· Os soldados que matam, numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens?

· Vou ser preso se matar alguém para proteger minha família?

Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas relações reais entre os indivíduos. São problemas cujas soluções não envolvem apenas a pessoa que participa, mas também a outras pessoas que poderão sofrer as conseqüências das decisões e ações, conseqüências que poderão, muitas vezes, afetar um grupo inteiro.

O homem só realiza sua experiência no convívio com outros homens. Nessa convivência, naturalmente, têm que existir regras que coordenem e harmonizem essa relação. Essas regras, dentro de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São as normas culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem.

Glossário

1Martin Luther King: Foi um dos mais importantes líderes do ativismo pelos direitos civis (para negros e mulheres) nos Estados Unidos e no mundo, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo. Tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1964, pouco antes de seu assassinato. Seu discurso mais famoso e lembrado é: "Eu Tenho Um Sonho".)

2Eudemonía: Discorrer a respeito da felicidade.

3Hotel Huanda: Terry George - Hotel Ruanda é um filme muito importante e precisa ser visto por todos que, de uma forma ou de outra, priorizam os seres humanos em suas ações e atividades. Não apenas para mostrar como uma única pessoa pode fazer a diferença e diminuir uma tragédia coletiva, mas também para lembrar que a indiferença mundial para o problema – além de perdurar na região onde refugiados de Ruanda e outros países do continente mantêm suas divergências num barril de pólvora que pode voltar a explodir a qualquer momento – ocorre igualmente em outras esferas do cenário mundial.

4The Corporation: O filme é um ótimo instrumento para a discussão do verdadeiro papel que as grandes corporações devem ter no mundo contemporâneo em face do seu compromisso com o desenvolvimento da sociedade.

Referência

ALVES, Júlia Falivene. Ética, cidadania e trabalho. São Paulo: CEETEPS, 2002.

GOERGEN, Pedro. Pós-modernidade, ética e educação. Campinas: Editora Autores Associados, 2001.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Editora Cortez, 2002.

RIOS, Therezinha Azeredo. Ética e Competência, 9ª edição. São Paulo: Cortês, 2000.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, sujeito e história. São Paulo: Editora Olho D’água, 2002.

VÁZQUEZ, A. S. .Filosofia da práxis. Trad.: Luiz Fernando Cardoso. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

AULA 10

Ética empresarial

A ética deve estar acima de tudo. A empresa que age dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade só tende a prosperar. Ética é criar força - pessoas fortes, empresas fortes, relacionamentos fortes com clientes. Se entendermos a verdadeira natureza da ética, ficaremos motivados a ser os mais éticos possíveis em qualquer situação. E no centro desse complicado tema está algo mais simples: trate os outros da maneira como você gostaria de ser tratado se estivesse no lugar deles. Esse é o fundamento para um ótimo trabalho e ótimos relacionamentos.

Há homens que lutam um dia, e são bons;

Há outros que lutam um ano, e são melhores;

Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;

Porém há os que lutam toda a vida.

Estes são os imprescindíveis.

Bertold Brecht

Como já vimos na aula anterior, a ética relaciona-se diretamente com os juízos morais. A ética empresarial consiste na busca do interesse comum, ou seja, do empresário, do consumidor e do trabalhador. O grande desafio ético está na descoberta de como emancipar o mundo da pobreza e opressão em que vivemos.

Há empresas que possuem seus códigos de conduta, numa declaração à sociedade sobre seus pressupostos éticos.

Atualmente, o alvo empresarial depara-se, também, com o conceito da exploração da atividade econômica, sob a ótica de que ela (empresa) é algo mais que um negócio. Além do interesse da empresa, em si, há um interesse social a ser alcançado. A empresa que adota uma cultura ética, possivelmente, reduzirá seus custos, e a empresa que não luta por um comportamento ético estará, fatalmente, fadada ao insucesso.

A empresa, sob o enfoque da ética, abarca interesses de empregados, acionistas, fornecedores, credores, distribuidores, consumidores, intermediários, usuários - e tende a transformar-se, realmente, em centro de poder tão grande que a sociedade pode e deve cobrar-lhe um preço em termos de responsabilidade social. Seja a empresa, os acionistas controladores, brasileiros ou estrangeiros, têm obrigação para com o grupo no qual vivem.

Os procedimentos éticos facilitam e solidificam os laços de parceria empresarial, quer com clientes, quer com fornecedores, quer, ainda, com sócios efetivos ou potenciais. Isso ocorre em função do respeito que um agente ético gera em seus parceiros.

A ética da empresa trata de mostrar, então, que optar por valores que humanizam é o melhor para a empresa, entendida como um grupo humano, e para a sociedade em que ela atua; agindo eticamente, a empresa pode estabelecer normas de conduta para seus dirigentes e empregados, exigindo que ajam com lealdade e dedicação.

Entendemos que a ética deve estar acima de tudo e que a empresa que age dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade só tende a prosperar.

Podemos notar que há uma cobrança, cada vez maior, por parte da sociedade, por transparência e integridade, tanto no trato da coisa pública, como no fornecimento de produtos e serviços ao mercado.

A legislação constitucional e infraconstitucional tem possibilitado um acompanhamento mais rigoroso da matéria, permitindo que os órgãos de fiscalização e a sociedade, em geral, adotem medidas judiciais necessárias para coibir os abusos cometidos pelas empresas.

Atualmente, o alvo empresarial depara-se, também, com o conceito da exploração da atividade econômica, sob a ótica de que ela (empresa) é algo mais que um negócio. Além do interesse da empresa, em si, há um interesse social a ser alcançado. A empresa que adota uma cultura ética, possivelmente, reduzirá seus custos, e a empresa que não luta por um comportamento ético estará, fatalmente, fadada ao insucesso.

A empresa, sob o enfoque da ética, abarca interesses de empregados, acionistas, fornecedores, credores, distribuidores, consumidores, intermediários, usuários - e tende a transformar-se, realmente, em centro de poder tão grande que a sociedade pode e deve cobrar-lhe um preço em termos de responsabilidade social. Seja a empresa, os acionistas controladores, brasileiros ou estrangeiros, têm obrigação para com o grupo no qual vivem.

Os procedimentos éticos facilitam e solidificam os laços de parceria empresarial, quer com clientes, quer com fornecedores, quer, ainda, com sócios efetivos ou potenciais. Isso ocorre em função do respeito que um agente ético gera em seus parceiros.

A ética da empresa trata de mostrar, então, que optar por valores que humanizam é o melhor para a empresa, entendida como um grupo humano, e para a sociedade em que ela atua; agindo eticamente, a empresa pode estabelecer normas de conduta para seus dirigentes e empregados, exigindo que ajam com lealdade e dedicação.

Entendemos que a ética deve estar acima de tudo e que a empresa que age dentro dos postulados éticos aceitos pela sociedade só tende a prosperar.

Podemos notar que há uma cobrança, cada vez maior, por parte da sociedade, por transparência e integridade, tanto no trato da coisa pública, como no fornecimento de produtos e serviços ao mercado.

A legislação constitucional e infraconstitucional tem possibilitado um acompanhamento mais rigoroso da matéria, permitindo que os órgãos de fiscalização e a sociedade, em geral, adotem medidas judiciais necessárias para coibir os abusos cometidos pelas empresas.

É preciso que o mundo empresarial se conscientize, cada vez mais, de que a ética empresarial é imprescindível para o seu desenvolvimento e crescimento no campo dos negócios.

Não podemos deixar de pensar que a atividade empresarial não é só para ganhar dinheiro. Uma empresa é algo mais que um negócio, é, antes de tudo, um grupo humano que persegue um projeto, necessitando de um líder para levá-lo a cabo e que precisa de um tempo para desenvolver todas as suas potencialidades.

A seguir, temos a Legislação infraconstitucional, que cria a obrigatoriedade para as empresas de contratação de PPD e de reabilitados:

Portadores de necessidades especiais.

O cumprimento da Legislação relativa a P.P.D.F. – A atuação do Ministério Público do Trabalho.

Legislação Infraconstitucional

1) Lei n° 7853/89 de 24/10/89 – dispõe sobre o apoio as PPD e sua integração social. As áreas de atuação previstas, na referida lei, são:

  • educação;
  • saúde;
  • formação profissional e trabalho;
  • recursos humanos;
  • edificações.

2) Lei 8069/90 de 13/07/90 – ao adolescente portador de deficiência é assegurado o trabalho protegido, garantindo-se treinamento e colocação no mercado de trabalho.

3) Lei 8112/90 de 11/12/90 – assegura as PPD o direito de se inscreverem em concurso púbico para provimento de cargos cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadores.

4) Lei 8213/91 de 24/07/91 – artigo 93 – cria a obrigatoriedade para as empresas de contratação de PPD e de reabilitados, estabelecendo uma cota nos seguintes termos:

  • de 100 até 200 empregados – 2%
  • de 201 até 500 empregados – 3%
  • de 501 até 1000 empregados – 4%
  • mais de 1000 empregados -- 5%

Pergunta-se: Qual a efetividade na aplicação dessas leis?

Resposta: Existe uma dificuldade enorme em inserir PPD e reabilitados no mercado de trabalho. Segundo o INSS – Instituto Nacional do Seguro Social – órgão que presta serviços de reabilitação – as dificuldades são muitas.

Especificamente quanto à Reabilitação Profissional, o INSS expediu a Resolução n. º PR 424 de 07/03/97, que traça suas diretrizes gerais com vistas à modernização desse serviço. Tal Resolução foi expedida em caráter experimental, mas, pelo que consta, vigora até hoje. Ali foram estabelecidas as seguintes Funções Básicas:

a) Avaliação e Definição da Capacidade Laborativa – consistente no processo de análise global dos seguintes aspectos: limitações, perdas funcionais e aquelas funções que se acham conservadas; habilidades e aptidões; potencial para aprendizagem; experiências profissionais e situação empregatícia; nível de escolaridade; faixa etária e mercado de trabalho de origem;

b) Orientação e Acompanhamento da Programação Profissional – processo de escolha consciente e esclarecida da atividade a exercer no mercado de trabalho;

c) Articulação com a Comunidade para Reingresso no Mercado de Trabalho– consistente no conjunto de ações dirigido ao levantamento das tendências e oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho da localidade do domicílio do reabilitando;

d) Acompanhamento e Pesquisa de Fixação no Mercado de Trabalho – consistente no conjunto de ações para constatar o ajustamento do reabilitando ao trabalho.

Somente em 20/12/99 é que foi editado o Decreto 3298/99, que regulamentou a Lei 7853/89 e o artigo 93 da Lei 8213/91. Esse Decreto dispõe sobre a política nacional de integração da PPD. No tocante à inserção no mercado de trabalho, trata da colocação competitiva e da colocação seletiva.

  • Colocação competitiva – processo de contratação regular, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, que independe da adoção de procedimentos especiais para sua concretização, não sendo excluída a possibilidade de utilização de apoios especiais;
  • Colocação seletiva – processo de contratação regular, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, que depende da adoção de procedimentos e apoios especiais para sua concretização;
  • Procedimentos especiais – jornada variável, horário flexível, proporcionalidade de salário, ambiente de trabalho adequado, etc.
  • Apoios especiais – orientação, supervisão e ajudas técnicas, entre outros elementos, que auxiliem ou permitam compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais e mentais das PPD e dos reabilitados, de modo a superar as barreiras de mobilidade e da comunicação, possibilitando a plena utilização de suas capacidades em condições de normalidade.

OBSERVAÇÃO: A legislação não obriga as empresas a despedirem empregados e nem a criarem novas vagas para cumprimento da cota das PPD e dos reabilitados.

Na esteira dos diplomas legais aqui mencionados, e com a edição do Decreto 3298/99, foi firmado, em 24/04/2000, o Protocolo de Procedimentos Conjuntos para a Implementação da Cota a que se refere à Lei 8213/91, em que são signatários: Procuradoria Geral do Trabalho, Procuradorias Regionais do Trabalho da 2.ª e 15.ª Regiões, Delegacia Regional do Trabalho, SERT – Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho, INSS – Instituto Nacional do Seguro Social e Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência e PADEF. Especificamente no âmbito do Ministério Público do Trabalho, a atuação tem sido a seguinte:

1.ª fase – instauração de Procedimentos Preparatórios ou Inquéritos Civis Públicos, de ofício ou por provocação da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego ou dos Sindicatos de Categorias Profissionais;

2.ª fase – expedição de Notificações Recomendatórias às empresas investigadas;

3.ª fase – realização de audiências públicas na sede da Procuradoria Regional;

4.ª fase – intimação individual às empresas para que compareçam à Procuradoria Regional e firmem Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta com o MPT.

Meta do MPT em relação ao empresariado – sensibilizar o empresariado conscientizando-o acerca da inserção das PPD e dos reabilitados no mercado de trabalho.

Meta do MPT em relação às PPD e aos reabilitados – conscientizar as PPD e os reabilitados da necessidade de se capacitarem a fim de que possam concorrer a uma vaga num mercado de trabalho cada vez mais competitivo.

As empresas devem refletir e tomar uma postura sob essa nova ótica e não mais participar do descaso que se cristalizou em nossa sociedade, adotando a inclusão de PNE como colaboradores de sua empresa.

No Censo de 2000, o IBGE utilizou uma definição bastante abrangente e chegou a 24,5 milhões de portadores de deficiência. Pelo conceito da ONU, mais estreito, são cerca de 18 milhões. Destes, nove milhões estão em idade de trabalhar e apenas 1,3 milhão trabalha (estimativa).

O Brasil possui a lei de cotas que obriga as empresas a contratarem de 2% a 5% de seu quadro de pessoal entre portadores de deficiência, o que daria cerca de 700 mil contratações. Estima-se haver apenas 300 mil com empregos formais. Por que está sendo tão difícil essa inserção?

Os problemas ligam-se aos empregadores, aos portadores de deficiência e às políticas públicas.

Do lado dos empregadores ainda há muita falta de informação e preconceitos.

Costuma-se dizer que essas pessoas não se adaptam, apresentam riscos na hora de evacuar um prédio, são temperamentais, magnífica seus problemas para conseguir lucro, faltam muito ao trabalho, exigem horários flexíveis, são rejeitadas pelos colegas, afastam clientes, etc.

Do lado dos portadores, há casos de deficiências mais severas, que, de fato, exigem expedientes mais complexos. Mas não é a maioria. A simples construção de uma rampa de acesso, numa empresa, transforma um cadeirante em não deficiente. Um dos maiores obstáculos para a contratação diz respeito à falta de qualificação dos candidatos, o que é um problema geral do Brasil.

Podemos notar que na direção das políticas públicas, o apoio nos campos da educação, habilitação e reabilitação são precários. Ademais, a lei das cotas restringe-se à contratação com vínculo empregatício e por prazo indeterminado.

Essa modalidade de trabalho torna-se cada vez mais rara no mundo atual, onde se multiplicam as formas alternativas de trabalhar, como é o caso do trabalho por projeto, casual, intermitente, terceirizado, cooperado, tele-trabalho, etc. Hoje, o trabalho realiza-se em redes de parceiros, em que alguns são empregados, outros são autônomos, muitos prestam serviços como pessoas jurídicas e assim por diante. Os portadores de deficiência não podem entrar nessas modalidades porque, pela lei das cotas, só podem ser contratados como empregados.

Felizmente, há mudanças promissoras nos três campos. Os empregadores começam a enxergar as vantagens dos quadros de pessoal diversificado e muitos demonstram criatividade nas formas de contratar. Aumenta o número de trabalhos objetivos que visam a reduzir os preconceitos.

Ética é um tema importante nas empresas. O que os filósofos podem nos ensinar sobre a questão?

Como complemento da aula, é essencial que você procure assistir o filme Daens – Um Grito de Justiça de Stijn Coninx1.

Glossário

1Daens – Um Grito de Justiça: Um Grito de Justiça relata o período do século XIX logo após a saída das pessoas do campo para a cidade, onde a burguesia, como classe dominante, detinha o poder da indústria e, com isso, as injustiças de trabalho, com salários muito baixos, a exploração do trabalho infantil, as inúmeras mortes, decorrentes de acidentes de trabalho.

AULA 11

Cultura organizacional

Cultura é o conjunto dos padrões, das crenças e de outros valores morais e materiais característicos de uma sociedade.

A Cultura Organizacional abrange os sistemas dentro dos quais as pessoas vivem e trabalham. É o conjunto de suposições importantes partilhadas pelos membros da empresa a respeito da organização, suas metas e práticas. A cultura da empresa fornece um quadro que organiza e dirige o comportamento das pessoas no trabalho. A análise de nossa cultura é imprescindível para gerenciar as mudanças nas organizações.

“O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas, é aquele que faz as verdadeiras perguntas”.

Claude Levi-Strauss

Cultura é um conceito antropológico e sociológico que abrange várias definições: Cultura seria o entrelaçado que abrange conhecimento, crenças, artes, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como parte da sociedade. Desse modo, corresponde, nesse último sentido, às formas de organização de um povo, seus costumes e suas tradições transmitidas de geração para geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, apresentam-se como sua identidade.

Cultura empresarial ou organizacional compreende um conjunto ou sistema de significados que são compartilhados por uma determinada empresa ou entidade num tempo específico. Ela inclui valores e crenças, ritos, histórias, formas de relacionamento, tabus, tipos de gestão, de distribuição da autoridade, de exercício da liderança e uma série de outros elementos.

A cultura empresarial pode ser vista como resultado de um exercício coletivo e que identifica ou singulariza as instituições. Nos últimos anos, tem sido comum contrapor as empresas tradicionais e as empresa da nova economia, dando-lhes traços culturais específicos: as empresas tradicionais tornaram-se injustas e inadequadas, consideradas ultrapassadas, pesadas e fadadas ao desaparecimento; e as empresas da nova economia são vistas como inovadoras, ágeis e comprometidas com o futuro (e isso, às vezes, é um erro).

Ainda que essa distinção (entre empresas da nova e da velha economia) venha, pouco a pouco, sendo contestada, ela reforça a idéia de que as empresas isoladas, ou conjuntamente, professam uma cultura e que ela está em permanente mudança.

A despeito de tais pressões, muitas organizações não procedem às atitudes necessárias para instaurarem o processo que as levaria a modificar o seu status-quo. Talvez o maior foco de resistência seja o fato de que a questão não é somente mudar, e sim gerenciar a mudança, o que implica na tarefa, extremamente difícil, de gerenciar a própria cultura da organização.

Através da cultura organizacional, temos que dar atenção para a interferência da cultura nacional na cultura empresarial, de tal forma que, em princípio, a segunda está imbricada na primeira, como se existissem dedos invisíveis costurando formas de relacionamento, padrões de conduta e tipos de administração. Invocam-se, a esse respeito, o famoso jeitinho brasileiro, a afetividade e o sensualismo nas relações e o personalismo.

Vivemos na era da globalização, das novas tecnologias, no mundo digitalizado.Tudo isso leva à necessidade do conhecimento contínuo, do aprendizado permanente, da especialização.

As exigências para o trabalho são bastante diferentes da época taylorista1, na qual os operários possuíam baixíssima qualificação e não havia mesmo, praticamente, necessidade desta.

O processo de gestão empresarial recebe os impactos da cultura em que está inserido.

Toda mudança organizacional é também mudança cultural, uma vez que tais transformações determinam novos valores e práticas.

A base para que a empresa alcance a “vida eterna” é o seu Capital Humano.

Portanto, mantê-lo coeso durante o processo de mudança é algo fundamental; a comunicação é responsável por tal unidade.

Algumas empresas estão se dando conta de que, para melhorar sua capacidade competitiva na era do conhecimento, precisam ampliar a autonomia pensante dos seus colaboradores.

Elementos da Cultura Organizacional

  • A essência da cultura é, em grande parte, abstrata e comportamental;
  • Princípios, valores e códigos;
  • Conhecimentos, técnicas e expressões estéticas;
  • Tabus, crenças e pré-noções;
  • Estilos, juízos e normas;
  • Tradições, usos e costumes;
  • Convenções sociais, protocolos e regras de etiqueta;
  • Símbolos, mitos e lendas.

Valores: são à base de qualquer cultura organizacional, eles representam o coração da empresa. São eles que definem o sucesso para todos os indivíduos da organização.

“Valores são objetivos, metas e projetos que a maioria dos membros da empresa procura alcançar, consciente ou inconsciente”.

Crenças e pressupostos: são estruturadas através de conceitos emitidos pela organização, conforme a percepção da realidade ou do meio ambiental que os cerca. Geralmente usados como sinônimos para expressar aquilo que é tido como verdade na organização.

Ritos, rituais e cerimônias: são atividades planejadas que têm conseqüências práticas e expressivas. Os ritos que podem ser encontrados na organização, treinamentos; ritos de redução de conflitos, que são verificados nas negociações coletivas; ritos de reforço, como, por exemplo: reunião de lideranças para mostrar os resultados atingidos; ritos de degradação, que revelam ao grupo quando algum membro faltou com as normas de organização.

Tabus: estes dão ênfase ao que não é permitido.

Normas: na organização, a norma tem peso de lei, são uns conjuntos de procedimentos que traduzem crenças, pressupostos, valores e tabus da organização.

Símbolos: são formas comunicativas que implicam em se associar valores.

Processo de comunicação: inclui uma rede de relações e papéis informais que comportam as linguagens, símbolos, gestos, como, por exemplo, publicações oficiais, comunicação informal.

A cultura da empresa

As culturas podem ser fortes quando todos entendem e acreditam nas metas prioridades e práticas da empresa, é encorajadora dos comportamentos.

Ou,

As culturas podem ser fracas pessoas diferentes com valores diferentes; existe confusão a respeito das metas da empresa e não fica claro, de um dia para o outro, por quais princípios as decisões devem ser orientadas.

Uma cultura organizacional forte pode gerar duas interpretações, pois, quanto mais sedimentada, mais freio ela tem para incorporar processo de mudança. Quanto mais a empresa marca o orgulho de sua marca, menor é a possibilidade de se aprender com o exterior (a empresa fecha-se em si mesma). Isso como forma de narcisismo2, excluindo o outro. A cultura organizacional é um instrumento de controle não só para as pessoas, mas também para a própria empresa, que pode se fechar em si mesma sem olhar para as mudanças que estão ocorrendo à sua volta.

As organizações modernas estão buscando, cada vez mais, a flexibilização, mas o seu excesso é muito prejudicial, pois não consolida nada, não referencia nada, não gera aprendizado via memória e teste. O individuo sente que está sempre devendo algo que ainda não sabe e, quando aprende, já está superado. Como, por exemplo, endeusar o computador como a super máquina, inteligente, atualizável, cada vez mais veloz, mais potente. O computador, nesse caso, passa a ser um concorrente para o homem, um exemplo de perfeição. As empresas devem ser flexíveis sim, mas não em sua totalidade, sem saber impor limites dentro de sua organização.

A organização tem que se dar conta de que, para melhorar sua capacidade competitiva na era do conhecimento, precisa ampliar, valorizar e dar ênfase ao conhecimento de seus colaboradores.

Glossário

1Taylorismo ou Administração científica: é o modelo de administração desenvolvido pelo engenheiro estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que é considerado o pai da administração científica.

2Narcisismo: Os termos "narcisismo" e "narcisista" são, freqüentemente, utilizados como pejorativos, denotando vaidade ou egoísmo. Quando aplicado a um grupo social, o conceito tem relação com o conceito de elitismo.

AULA 12

Cultura brasileira

O objetivo do estudo da cultura brasileira é assegurar o conhecimento e a importância das culturas originais para compreendermos o processo que norteia a nossa sociedade e as organizações. A análise da nossa cultura contribui para gerenciar mudanças nas organizações, portanto, para analisarmos a cultura, é preciso que recorramos às nossas origens, ao nosso desenvolvimento e a uma representação de como somos hoje.

”A diversidade das culturas humanas está atrás de nós, à nossa volta e à nossa frente. A única exigência que podemos fazer a seu respeito é que cada cultura contribua para a generosidade das outras”.

Claude Lévi-Strauss

Em Cultura Brasileira, serão mostrados os aspectos da cultura brasileira, que podem trazer diferenciação e melhoria do desempenho das organizações, e as diversas facetas culturais do país, que se refletem na gestão de pessoas.

Abordaremos alguns traços culturais do Brasil – a herança portuguesa e o dom da inventividade e da criatividade dos brasileiros, entre outros.

As sociedades contemporâneas são multiculturais, multiétnicas ou mestiças. O Brasil, por sua vez, é o complemento de todas elas.

Foi a partir do século XVI, quando os portugueses aqui chegaram com a idéia de administrar sua colônia e, após eles, vieram outros povos, como: os espanhóis, os franceses, os ingleses, os africanos, estes na condição de escravos; todos eles tinham sua própria identidade, cada qual com sua cultura, seu costume, suas crenças, suas atitudes, suas ideologias; foi, na verdade, uma gama de diversidades históricas que resultou na nossa cultura.

Esse encontro de culturas não se deu apenas de forma pacífica, mas também de forma trágica. A diversidade cultural do continente revela, portanto, uma variedade de experiências, as quais estão no alicerce da criatividade e da singularidade de seus povos.

Para conhecermos um pouco do nosso comportamento atual, relembremos a História do Brasil, na qual notaremos certas características atuais da nossa sociedade:

Podemos considerar que a base da cultura brasileira é o engenho, é a famosa casa grande e senzala. O senhor de engenho era um homem autoritário, a sua palavra valia tudo. Era sua função administrar suas terras, sua família e seus escravos. É nesse período que o favoritismo aparece, só que despido de qualquer valor negativo.

Na colônia, as capitanias eram administradas de acordo com os interesses de seus senhores e não obrigatoriamente do governo geral, onde as relações pessoais contavam mais que as impessoais, por exemplo: na Academia Nacional de Belas Artes os artistas eram indicados pelos grandes proprietários de terra.

Notamos também que era muito grande o abismo entre senhores de engenho e escravos, daí podemos pensar que a desigualdade que impera nos dias de hoje não seja contrária ao que aconteceu no passado, em que a questão de igualdade simplesmente não existia.

Praticamente existiam apenas duas classes sociais, os senhores de engenho e escravos, os outros extratos da sociedade, como o branco pobre, os índios, os mulatos, as milícias eram excluídos e não tinham identidade e tão pouco trabalho

Nota-se que o núcleo do sistema agrário no Brasil foi a família patriarcal (o pai supremo e tradicional), que estabeleceu um poder aristocrático e ilimitado, centralizando o poder na figura do patriarca.

Essa organização compacta e única, representante de uma minoria social, fez permanecer a suas preferências dos laços afetivos do pai, e essa herança não deixa de marcar nossa sociedade, nossa vida publica e todas as nossas atividades.

Essa família patriarcal forneceu o nosso modelo de moral, quase imutável, que regulou as relações entre governantes e governados, definindo as normas de dominação, atribuindo a centralização de poder nas mãos dos governantes e a subordinação dos governados.

A singularidade cultural refere-se aos hábitos e comportamentos de um grupo ou sociedade para com os outros, as atitudes e comportamentos dos indivíduos no ambiente do trabalho; podemos dizer que o paternalismo que, às vezes, impera em uma organização tem suas raízes na nossa cultura.

A nova classe dominante que começa a aparecer apresenta reflexo ainda do senhor de engenho, pois os valores democráticos apresentam-se não muito fortes no âmbito das organizações; quando construímos uma relação, levamos em consideração a racionalidade instrumental e também a racionalidade substantiva e afetiva.

A importação de diversos modelos prontos para nossa sociedade também é foco de atenção, como podemos notar com a formação de um mercado, a base na abertura dos portos e com a consolidação da burguesia; começam a ser instaladas, no Brasil, diversas empresas, o capitalismo monopolista e a economia competitiva ganham ênfase no mercado brasileiro: as empresas multinacionais, pequenas empresas, serviços públicos começam a dar forma a uma tecnocracia local de orientação internacional em nossa cultura e comportamentos, mas mesmo assim os traços brasileiros (que são poucos, pois a maioria foi importada) estão presentes.

É preciso ficar atento, pois o progresso de nosso país não veio de um processo interno nem foi legitimado mediante a um processo de observação da sociedade, muito menos nasceu da consciência da população local.

Esse progresso nos foi imposto pelo Primeiro Mundo e, de certa maneira, adaptado a uma realidade diferente, não sendo ajustado às nossas culturas.

Nos dias de hoje, assistimos cada vez mais as organizações brasileiras em busca de uma excelência contínua, mas, portanto, as práticas gerenciais tradicionais estão perdendo espaço para um mundo que exige padrões globais de eficiência. Por outro lado, os modelos importados podem esbarrar em alguns dos traços básicos de nossa cultura, como já foi dito.

Precisamos de mudança, mas para mudar tem que haver auto-análise, as organizações têm que conhecer os traços de nossa cultura que irão impor ou não restrições para certas transformações. Para analisar e gerenciar mudanças nas organizações, temos que ir ao encontro de nossas raízes culturais.

Apesar de sermos toda essa mistura de raça é, nessa mistura, nesse intermediário legitimado em nosso próprio âmago, que se revela a capacidade brasileira de trabalhar o ambíguo como positivo, de transformar problemas em oportunidades, de criar novas soluções no dia-a-dia.

Em nosso cotidiano, se prestarmos atenção, coisas que, por muitas vezes, parecem isoladas, encontram explicações em nossa cultura nacional.

Na soma das raças, crenças e diferenças sociais, econômicas e culturais, o Brasil pode ser considerado um dos grandes exemplos de país plural. Bem gerenciada, essa diversidade soma, constrói e enriquece, possibilitando maior integração das atividades humanas organizadas.

Como vimos, a influência estrangeira no Brasil nasce com o aparecimento dos povos do Velho Mundo e permanece até os dias atuais, atingindo os variados setores e segmentos.Nós temos um certo gosto pela cultura que vem de fora. A influência estrangeira na sociedade e nas organizações locais são suscetíveis aos modelos de gestão importados, e isso é explicado pela nossa colonização de exploração1 e extrativista2, onde assimilamos os conceitos e modelos originários que vêm de fora.

A importação de tecnologias administrativas, no Brasil, é um processo que permanece, até os dias de hoje, estimulado por uma rede de agentes sociais, como: empresa de consultoria, mídia, centros de ensino, escolas de administração, produzindo-se em países de primeiro mundo, e em um país “emergente” como o Brasil, sem um olhar crítico, sendo usadas por nós como se fossem o molde correto, de modo que cada nação possui sua própria identidade.

Com isso, encontramos certas dificuldades para a solução de nossos problemas, tendo que criar modelos de gestão tipicamente nacionais.

O que podemos analisar, como conseqüência desse processo, é o distanciamento, cada vez maior, da nossa realidade e a ausência da relação da teoria com a prática profissional.

O tema da cultura brasileira e da identidade nacional, antigo debate que se trava no Brasil, permanece atual. Dizer que somos diferentes não basta, é preciso mostrar em que nos identificamos.

A identidade nacional está profundamente ligada a uma reinterpretação do popular pelos grupos sociais e à própria construção do Estado brasileiro. Não existe, assim, uma identidade autêntica, como já vimos, mas uma pluralidade de identidades, construídas por diferentes grupos sociais em diferentes momentos históricos.

No Brasil, a questão do multiculturalismo e da compreensão das organizações como local da diversidade torna-se cada vez mais significativa.

Não se trata de recusar ou ignorar a importância de referenciais estrangeiros, mas ter uma postura crítica e analítica, reconhecer a sua aplicabilidade ou não ao contexto brasileiro e mais, procurar perceber o que pode ensinar a diversidade local e estabelecer conexões entre ambas, por exemplo:

Um banco de dados de “cases” nossos, brasileiros; a história empresarial brasileira aponta para casos de sucesso que não deixam a desejar a nenhum “case” de outro país e, o que é mais importante, tais casos indicam que empresas souberam e sabem vencer a partir de traços culturais nacionais.

Os conhecimentos transmitidos para os futuros gestores devem ser aqueles produzidos a partir da nossa realidade, para ter maior aplicabilidade. E podem ser obtidos através da observação da melhor prática adotada por gestores brasileiros, ou aqueles que têm dirigido com sucesso empresas localizadas em várias regiões do Brasil.

A assimilação dos traços culturais é essencial para a sistematização de modelos e estilos propriamente brasileiros de administrar; reconhecer e analisar a cultura nacional e a cultura organizacional permitirá estabelecer conexões, fazer correlações, adaptações, ver o que é positivo e saber ministrar os traços negativos; todos esses fatores são importantes para o sucesso das organizações e de seus colaboradores.

Como complemento da aula, é essencial que você procure assistir ao filme Ilha das flores de Jorge Furtado3.

Saiba mais

Zé Carioca e a Cultura Brasileira: Criado pelos animadores do Estúdio Disney como parte da estratégia da chamada “Política” da boa vizinhança “empreendida pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial”; o papagaio Zé Carioca passou a representar o Brasil entre os animais falantes que compõem o Universo Disney. Mas, a partir da década de 1950, quadrinistas brasileiros passaram a acrescentar, ao personagem, elementos marcantes da cultura do país nas histórias que elaboraram, sempre sem crédito, para as revistas publicadas no Brasil. Sua personalidade, já marcada pela cordialidade, nos desenhos animados, também foi acrescida da malandragem, da indolência e da fanfarronice, características que podem ser encontradas em outros personagens da literatura (Macunaíma) e do cinema (Oscarito e Grande Otelo).

Glossário

1Colônia extrativista: No Brasil as atividades extrativistas têm sido uma constante, desde o período colonial quando se praticava o extrativismo da madeira e de minérios principalmente do ouro nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do país. Já no século XIX o extrativismo continuou intenso na região Norte do Brasil, a qual possuía grande diversidade de madeiras e plantas medicinais, estendendo-se até a região Sudoeste do país a qual possui, até hoje, grandes áreas cultivadas com o cacaueiro e a seringueira.

2Colônia de exploração: Região dominada pela metrópole Portugal. Servia-lhe como retaguarda econômica.

3Ilha das flores: de Jorge Furtado, 1989.Um retrato da mecânica da sociedade de consumo, acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora; o “curta” escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.

AULA 13

Estilo brasileiro de administrar

O entendimento da nossa cultura permite compreender, de forma crítica, o comportamento social do brasileiro, em que irá abordar o comportamento organizacional. Diante da especificidade de nossa cultura, temos o desafio de adaptar tecnologias administrativas de outras realidades e culturas diferentes à nossa cultura. Os traços nacionais são a base da organização, agora, temos que fazer uso correto desses conhecimentos e tecnologias globais.

“Quase nenhum sócio, seja qual for o sistema cultural a que ele pertença, está inteiramente dentro de uma época ou de um momento cultural”.

Gilberto Freyre

Vimos, na aula anterior, a importância da cultura brasileira na organização. Agora, analisaremos o estilo brasileiro de administrar. Falaremos novamente sobre a nossa cultura, buscando um ângulo em que possamos compreender a sua ação, considerando não somente os traços peculiares de nossa cultura, mas principalmente a sua interação com outros traços, formando uma rede de causas e efeitos com varias facetas.

Temos que observar outros aspectos que estão ligados às representações desse universo que pode dar legitimidade à especificação da nossa cultura e da organização.

Modelo brasileiro de ação cultural

O modelo de ação cultural que estudaremos foi proposto por Prates e Barros (1996); conforme suas pesquisas, pode ser caracterizado como um sistema composto de quatro subsistemas:

O institucional (ou formal) e o pessoal (ou informal);

O dos líderes e o dos liderados.

Apresentam traços comuns e traços especiais, que articulam o conjunto como um todo.

O institucional – é onde encontramos os traços culturais de espaço da “rua”, como define Da Matta (1987), enquanto o espaço da “casa” corresponde ao subsistema pessoal;

Subsistema dos líderes – reúne os traços encontrados naqueles que detêm o poder;

Subsistema dos liderados – abrange os aspectos culturais mais próximos daqueles subordinados ao poder.

É importante frisar que qualquer um de nós pode encontrar certas características nos subsistemas alternativos, dependendo a situação em que nos encontramos, ora líderes, ora liderados.

Por outro lado, há momentos em que nos comportamos de forma impessoal e em outros momentos de forma pessoal.

Para darmos exemplos de como podemos nos comportar de forma impessoal, é quando os critérios impessoais começam a dominar processos tratados de forma familiar, como a profissionalização da empresa familiar.

E quando nos comportamos de forma pessoal (relação entre pessoas), sobrepondo-se a critérios formais e regulamentos.

Esse fenômeno pode ser chamado de familiarização, pois, quando todos são líderes, há um processo de horizontalização e, quanto aos liderados, há um processo de verticalização.

Os subsistemas estão divididos por traços culturais especiais, que são responsáveis pela não-ruptura do sistema, são eles:

  • O paternalismo.
  • A lealdade.
  • O formalismo.
  • A flexibilidade.

É através desses traços e suas combinações que os autores denominam o modelo de: Sistema de Ação Cultural Brasileiro.

Como complemento e ilustração desta parte da aula, visualize a figura sobre sistema de ação cultural brasileiro. A figura faz parte do conteúdo da aula e facilita a sua compreensão.

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Visão integrada do modelo proposto – sistema de ação cultural brasileiro.
Fonte: Prates e Barros (1996).

Subsistema dos líderes

  1. Na dimensão institucional, existe a Concentração de Poder e, ao seu lado, há o Personalismo e, somando os dois elementos, teremos o perfil do estilo brasileiro de liderar: O Paternalismo.
  1. Personalismo: a referência para a decisão é a importância ou a necessidade da pessoa envolvida na questão, sobrepondo-se às necessidades do sistema no qual a questão está implantada, por exemplo, a palavra cidadão, no Brasil, pode conter sentido negativo, quando é marcada para impor a alguém o seu lugar.

Quando se diz: “o cidadão tem que esperar um pouco”, “o cidadão não tem todos os documentos em ordem”, são falas negativas, a palavra cidadão não tem o viés de poder.

  1. Paternalismo: é a combinação dos dois traços já mencionados e apresenta duas facetas: o patriarcalismo e o patrimonialismo. O patriarcalismo é a face supridora e afetiva do pai, atendendo ao que dele esperam os membros do clã, e o patrimonialismo é a face hierárquica e absoluta, impondo a sua vontade a seus membros.

Subsistema institucional

  1. Postura de espectador: mutismo e baixa consciência crítica, baixa iniciativa, pouca capacidade de realização por autodeterminação e transferência de responsabilidade das dificuldades para as lideranças, por exemplo: ”Se o poder não está comigo, não sou eu que tomo a decisão, por essa razão, eu me ausento de qualquer responsabilidade”. A culpa tem contornos hierárquicos do chão para cima, por exemplo, se uma empresa vai mal, a culpa é do governo.
  2. Formalismo: aceitação implícita das normas e regras, mas com uma prática distorcida. A discrepância entre a conduta concreta e as normas prescritas que se supõe regulá-la.

Existem três formas de se transmitir maior segurança e evitar riscos futuros:

  • Por meio da tecnologia (nos protegemos das ações da natureza e das guerras);
  • Por meio das leis (regras formais);
  • E da religião (através de sua ideologia, transmite segurança e calma em relação aos aspectos que transcendem a realidade humana).
  1. Impunidade: os líderes estão ao largo das punições, fortalecendo suas posições de poder, dando maior consistência aos traços vistos anteriormente. A lei só existe para os indiferentes e os direitos individuais são concedidos para poucos (como vimos na aula anterior o poder dos senhores de engenho). Isso faz com que a maioria desfavorecida torne-se cada vez mais um espectador
  1. Lealdade pessoal: que é a contrapartida ao formalismo, a ética pessoal manifesta-se pela lealdade às pessoas. O membro do grupo valoriza mais as necessidades do líder e dos outros membros do grupo do que as necessidades de um sistema maior no qual está inserido. A lealdade pessoal é vista de forma errônea, em que o outro vê o líder como a pessoa de confiança; esse líder será o elo que liga a rede, integrando todos os segmentos. Ele tem um papel de muita responsabilidade, pois será através dele que as pessoas depositarão seus ideais, identificando-o ou imitando-o. Isso faz com que ocorra uma grande coesão, mas, por outro lado, também pode se tornar frágeis as relações pessoais, gerando um certo conflito ou, então, uma estratificação entre as relações.
  2. Evitar conflito: capacidade de intermediar conflitos entre líderes e liderados, uso de soluções indiretas entre os pólos divergentes, mas que mantém boas relações pessoais com ambos.

Subsistema dos liderados

  1. Flexibilidade: Representa uma categoria com duas faces: a adaptabilidade e a criatividade.

A adaptabilidade pode ser identificada na agilidade de se ajustar a algo novo e a criatividade tem o elemento inovador.

  1. Adaptabilidade: podemos identificá-la na agilidade das empresas em ajustar-se a pacotes econômicos lançados pelo governo, e também a empregados das empresas que buscam inovar processos tecnológicos dentro das mesmas.
  2. Criatividade: é sempre um elemento inovador que podemos notar em festas de carnaval, atividades esportivas, em que todos participam e não há um domínio hierárquico rígido.

Portanto, o estilo brasileiro de administrar tem, como base, a nossa cultura (portuguesa, italiana, indígena, africana, entre outras). Algumas dessas culturas marcaram mais, como a cultura africana e a indígena, que, apesar de toda opressão, os traços são acentuados em nossa sociedade

O entrosamento dessas raízes, influências e processos formadores do caráter do povo brasileiro permitem apreender, de forma crítica, os comportamentos sociais dos brasileiros, que envolverá diretamente a formação do ambiente organizacional. Através desse olhar crítico, podemos, agora, partir para o desafio de ajustar tecnologias administrativas de outras realidades e culturas diferentes à nossa realidade.

Como complemento da aula, é essencial que você procure assistir o filme Mauá, o imperador e o rei de Sérgio Resende1.

Glossário

1Mauá, o imperador e o rei. (Brasil, 1999): Direção: Sérgio Resende. Elenco: Paulo Betti, Malu Mader, Othon Bastos, Antonio Pitanga, Rodrigo Penna; 134 min. Resumo do filme: O filme mostra a infância, o enriquecimento e a falência de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o empreendedor gaúcho mais conhecido como barão de Mauá, considerado o primeiro grande empresário brasileiro, responsável por uma série de iniciativas modernizadoras para a economia nacional, ao longo do século XlX. Mauá, um vanguardista em sua época, arrojado em sua luta pela industrialização do Brasil, tanto era recebido com tapete vermelho, como chutado pela porta dos fundos por D. Pedro II.

AULA 14

Aspectos culturais e relações de gênero1

A questão de gênero realiza-se culturalmente por ideologias que tomam formas específicas em cada momento histórico e, tais formas, estão associadas a apropriações político-econômicas e culturais, que se dão como totalidades em lugares e períodos determinados. O estudo do gênero é muito importante para compreendermos a sociedade que está inserida, sua estrutura, a questão do gênero dentro das organizações, e termos uma visão crítica sobre o desemprego feminino e sua trajetória nas duas últimas décadas, em que as mulheres ainda estão sendo excluídas do processo de trabalho formal e se concentrando principalmente no trabalho informal.

“O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”.

Cora Coralina

Nesta aula, compreenderemos a questão de gênero, demonstrando que a situação das mulheres varia na história (no tempo e no espaço), e que as mesmas têm sido agentes ativos na história da humanidade.

Buscaremos as origens da hierarquia e das desigualdades nas relações que as mulheres estabelecem entre si e com os homens.

A questão de gênero deve ser cada vez mais adotada como desafio de todos os homens e mulheres do conjunto da sociedade. A igualdade entre homens e mulheres é o caminho principal de uma sociedade cidadã, de um modelo de desenvolvimento mais imparcial. Promovê-la é algo profundo e com repercussões em todas as extensões da vida em sociedade. Não podemos falar de cidadania sem reconhecer e gerar a igualdade de gênero. A importância do gênero revela-se nas pautas políticas, nas estratégias de suas organizações e nos diversos espaços da sociedade e de suas vidas.

A questão de gênero está em toda parte e tem a ver com a forma como educamos nossos filhos e nossas filhas, como vivenciamos nossos relacionamentos com homens e mulheres, com as prioridades do modelo de desenvolvimento do país, com o exercício do poder, com o cuidado com a vida, com a economia de nosso país e tantas outras coisas do nosso cotidiano e de nossos desafios, que encontramos em nosso caminho.

Para entendermos as raízes das desigualdades entre homens e mulheres, também temos que reconhecer as desigualdades raciais e étnicas, fazendo da nossa sociedade uma sociedade mais justa, digna e cidadã para todos, independente de sexo, raça, situação econômica, origem regional e de tantas outras coisas que ainda relevam a desigualdade, a intolerância, gerando o extermínio de milhões de vidas.

Gênero e Trabalho – um pouco da sua história

A categoria de análise de “gênero” emerge de todo um movimento criado ao final da década de 70 por um grupo de pesquisadoras feministas da Inglaterra. A discriminação vivida por milhares de pessoas não é um problema exclusivo das mulheres ou sucedido de uma incapacidade natural, mas resulta das relações sociais entre os sexos adquiridas ao longo da historia.

A categoria “gênero” também ajuda a descobrir, a partir de um grande enfoque, aquilo que é cultural e, logo, pode ser mudado na vida em sociedade, perguntando sobre a naturalização da igualdade social entre os sexos. Ao mostrar a dimensão social de desigualdade e suas repercussões na divisão sexual do trabalho, escancaram-se, ainda mais, os caminhos para a ação política das comunidades, das organizações e dos movimentos que atuam pela mutação dessa realidade.

As conquistas das mulheres em busca de uma sociedade mais igualitária tiveram impulso em todas as áreas do nosso cotidiano, acarretando outras formas de ver e vivenciar o mundo, transformando paradigmas e concepções de desenvolvimento e de democracia e ampliando os horizontes dos direitos humanos, da cidadania e do trabalho.

Podemos apresentar o exemplo dos trabalhos domésticos feitos por mulheres ao longo da história, que não eram, e ainda não são efetivamente considerados, como trabalho, sendo o trabalho mais ligado a cuidar de crianças, ajudar e cuidar dos velhos, fazendo com que a roda da vida perpetue esse movimento. Notamos que tudo isso sempre foi imposto como parte natural do papel da mulher.

Os movimentos feministas questionaram essa situação no que se refere à necessidade de reconhecimento do trabalho doméstico e, também, que esse trabalho deve ser compartilhado entre homens e mulheres.

Globalização e a questão de gênero

A globalização econômica, a reestruturação produtiva e a flexibilização de direitos, em que se buscam vantagens competitivas e a maximização de lucros a qualquer preço, teve seu ápice com o processo de globalização que avançou ao longo de 1990; a ordem era de diminuir custos, principalmente de mão-de-obra. A função do Estado tornou-se cada vez mais reduzida como responsável pela promoção da justiça social, na diminuição dos recursos destinados às políticas sociais e na subordinação de todos à lógica do ajuste fiscal.

Toda essa reinvenção, que apareceu com o processo da globalização atual, fez surgir uma nova fórmula de exploração entre pessoas e grupos. No Brasil, esse processo reafirmou velhos padrões da divisão sexual do trabalho e criou novos contornos na vida da maioria das mulheres, aumentando a vulnerabilidade, a precariedade das condições de vida e a perda de direitos e de sua cidadania.

Mulheres e seu cotidiano no trabalho

Segundo a (OIT), Organização Internacional de Trabalho, a partir dos anos 90, as mulheres ampliaram sua participação no mercado de trabalho. Enquanto na América Latina essa participação passou de 39%, em 1990, para 45%, em 1998, no Brasil, o salto foi de 40% para 45%. Segundo dados da fundação SEADE, em São Paulo, região de maior dinamismo econômico da América Latina, a taxa de participação das mulheres chegou a 55,1% em 2003. No Brasil, o crescimento foi mais intenso entre as mulheres pobres, com o aumento de 0,74% para 0,81% entre 1990 e 1998. Esse aumento não necessariamente representa um indicador positivo, pois, nos setores menos valorizados, existe um numero muito pequeno de mulheres nas atividades de serviços: saúde, educação, administração, comunicações, serviços comunitários e pessoas.

As diversas formas de discriminação estão fortemente associadas aos fenômenos de exclusão social que dão origem e reproduzem a pobreza. Eles são os responsáveis pela superposição de diversos tipos de vulnerabilidades e pela criação de poderosas barreiras.

Nos últimos anos, nota-se que as condições e causas da pobreza são diferentes para mulheres e homens, negros e brancos. O gênero e a raça são fatores que determinam, em grande parte, as possibilidades de acesso ao emprego, assim como as condições em que este se exerce. Desse modo, condicionam também a forma como os indivíduos e as famílias vivenciam a pobreza e conseguem ou não superá-la.

No Brasil, as discriminações de gênero e raça têm atuado como eixos estruturantes dos padrões de desigualdade e exclusão social. Essa lógica reflete-se no mercado de trabalho, no qual as mulheres vivenciam as situações mais

Agora, daremos destaque ao trabalho doméstico, por ser, em sua grande maioria, realizado por mulheres; nesse tipo de trabalho existe uma situação absolutamente particular se comparado a outros, devido ao seu peso quantitativo em termos do total da ocupação feminina no país.

Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD, 2001), o trabalho doméstico representa 18,2% do total da ocupação feminina no Brasil, o que corresponde, em termos numéricos, a 6 milhões de pessoas. Desagregando essa cifra por raça/cor, vemos que esse peso é ainda mais acentuado no caso das mulheres negras: 23,9%. Ou seja, de cada 100 mulheres ocupadas no Brasil, aproximadamente, 4 são empregadas domésticas.

Por outro lado, é necessário analisar que o trabalho doméstico é praticado nos domicílios e a esmagadora maioria dos empregadores são pessoas físicas e não empresas, como nas demais formas de assalariados. Além disso, as trabalhadoras domésticas possuem direitos trabalhistas diferenciados de todos os outros trabalhadores do país: o artigo 7º da Constituição Federal divulga essa diferenciação ao excluir as trabalhadoras domésticas do conjunto geral de direitos do trabalho, tratando-as de forma particular. Esses fatores explicam porque o trabalho doméstico é apresentado como uma categoria específica, distinta dos outros assalariados.

Por que, ao desenvolver o trabalho doméstico, no domicilio do empregador, o convívio no espaço privado do patrão e da patroa gera condições de equívocos nas relações de trabalho e emprego? O fato é que se confundem os papéis, tanto profissional quanto familiar.

Como complemento e ilustração desta parte da aula, visualize a tabela sobre Trabalho feminino. A tabela faz parte do conteúdo da aula e facilita a sua compreensão.

Segundo pesquisa do DIEESE (2001): (Trabalho feminino)

Emprego doméstico

17%

Trabalho agrícola

20%

Comércio de mercadorias

13%

Prestação de serviços

28,4%

Atividades sociais

17,4%

Encontramos mais mulheres trabalhando nos seguintes setores:
(Setores que possuem a tradição feminina de nossa cultura)

Costura

94%

Magistério (ensino fundamental)

90%

Secretariado

89%

Telefonia

86%

Enfermagem

84%

Recepção

81%

Não podemos também nos esquecer do mercado informal, no qual encontramos um grande contingente feminino. Segundo pesquisa do DIEESE (2001) - a qualidade do emprego das mulheres, no setor informal, é inferior à dos homens, submetidas a menores rendimentos, condições de trabalho mais precárias e menor proteção social. Temos, no mercado informal brasileiro, cerca de 51,6% mulheres contra 44% de homens trabalhadores.

A questão do desemprego (mercado informal)

Na ultima década, a questão do desemprego cresceu de forma acelerada em todo continente, tanto para homens quanto para mulheres. Mas no Brasil, a taxa de desemprego feminino aumentou bastante. Uma a cada 5 mulheres pobres encontra-se desempregada; é importante ressaltar que as mulheres negras enfrentam mais o desemprego que as mulheres brancas (o fator cultural de nossa história explica isso, como vimos na aula 12).

O emprego informal é um dos setores que mais contrata mulheres; podemos observar, segundo dados do DIEESE (2001), que nos meses de outubro a março, quando as taxas de desemprego sofrem as maiores variações sazonais, é quando se expande o emprego temporário e sazonal — freqüente, por exemplo, no comércio de final de ano —, o desemprego feminino sofre redução mais acentuada que o masculino e as mulheres beneficiam-se, assim, mais do que os homens.

Porém, quando essa oferta sazonal de emprego se retrai, logo nos primeiros meses do ano, as mulheres são as mais afetadas e sua taxa de desemprego sobe rapidamente e cai, em seguida, mais lentamente. Essa característica mais volúvel do emprego feminino permite-nos deduzir que as mulheres estão mais sujeitas aos postos de trabalho temporários e menos estáveis que os homens, sendo, portanto, mais sensíveis à demanda por mão-de-obra sazonal. São, portanto, mais sujeitas ao emprego precário.

Glossário

1Aspectos culturais e relações de gênero: É uma dada maneira de olhar a realidade da vida (das mulheres e dos homens) para compreender as relações sociais entre homens e mulheres. E as relações de poder entre mulheres e homens, mulheres e mulheres, homens e homens.

AULA 15

Aspectos culturais e relações de gênero nos dias atuais

A partir do momento em que homens e mulheres passaram a obedecer a uma hierarquia baseada no gênero dominante, estabeleceu-se a situação de inferioridade da mulher.

Os princípios feminino e masculino estão presentes em todos os seres vivos. O equilíbrio entre ambos – que se reflete no pensamento e nos valores – é que permite relações saudáveis.

Mas há necessidade de ações afirmativas, para se dar visibilidade às desigualdades sociais estabelecidas com base nas diferenças naturais, de maneira a se buscar o equilíbrio necessário com relações de igualdade de direitos humanos, eqüidade e reciprocidade entre mulheres e homens.

“O dever é uma coisa muito pessoal; decorre da necessidade de se entrar em ação, e não da necessidade de insistir com os outros para que façam qualquer coisa”.

Madre Teresa de Calcutá

Como já vimos na aula anterior, a mulher tem encontrado dificuldades para praticar sua cidadania e também fazer valer seus direitos reais.

Existem muitos movimentos nos quais as mulheres se destacaram, por exemplo, na cena política, em eventos nacionais e internacionais, mas, mesmo assim, a sua presença é muito restrita em espaços estratégicos da organização empresarial.

Nos parlamentos, nos governos e nas empresas, a participação feminina é vista com certas restrições.

Diferença de rendimentos

As diferenças de salário continuam sendo grandes vilãs na marginalização da mulher no mercado de trabalho. Pesquisa do DIEESE (2003) aponta que os rendimentos dos trabalhadores são baixos e mal distribuídos, e incontestáveis da sobreposição discriminatória - de sexo e cor – que atinge as mulheres negras.

Engajadas em ocupações precárias, elas enfrentam dificuldades para a ascensão em suas carreiras profissionais; as afras brasileiras apresentam remunerações, substancialmente, mais baixas que os demais segmentos da população.

Escolaridade

As mulheres brasileiras apresentam mais tempo de escolaridade que os homens.

Na universidade, elas já são a maioria, mas, infelizmente, têm que estudar quatro vezes a mais que os homens para conseguir uma “igualdade” salarial.

Segundo pesquisa da Folha de São Paulo (2006), a mulher espera 35% a mais por promoção. Se um homem recém-formado, com nível universitário, leva 6,5 anos, por exemplo, para ser promovido a gerente ou diretor, uma mulher, nas mesmas condições, demora 10 anos, ou seja, 35% a mais que os homens, isso na evolução profissional de administradores, contadores, chefes de seção e supervisores dentro de grandes empresas.

Esse levantamento foi realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada); segundo estudos, essa diferença não é tão grande nas empresas estrangeiras (voltamos a lembrar o quanto é importante o estudo de nossa cultura).

Uma das explicações é a de que essas empresas são mais eficientes, pois uma eventual discriminação poderia levá-las a uma ineficiência.

O nível educacional não pode ser a razão para uma ascensão mais lenta das mulheres, já que elas, em média, são mais escolarizadas que os homens. “Esses números podem refletir uma procura das empresas por um custo menor”, segundo Anita Kon, da PUC-SP. Quando as mulheres têm filhos, saem e uma pessoa tem que ser contratada para substituí-las.

Como complemento e ilustração desta parte da aula, visualize a tabela sobre escala profissional. A tabela faz parte do conteúdo da aula e facilita a sua compreensão.

Apesar da demora das mulheres serem promovidas, a presença feminina em cargos de comando, nas grandes empresas, vem aumentando cada vez mais; segundo pesquisa com consultores da Folha de São Paulo (2006), as mulheres são mais cuidadosas e competentes para determinadas funções e são cada vez mais requisitadas.

Licença dividida

Alguns especialistas defendem que o Brasil siga o exemplo de países como a Dinamarca e a Alemanha, nos quais o tempo da licença-maternidade é dividido entre homens e mulheres. “Lá eles têm leis socialmente mais desenvolvidas, já que sabem que a licença onera as empresas”, afirma Anita Kon.

Segundo dados da Pnad, IBGE, 39% das pessoas, com carteira assinada, no Brasil, são mulheres.

Outro fator que explica a promoção mais demorada das mulheres é a menor disponibilidade que possuem em relação aos homens, em média, para irem trabalhar em outro país pela empresa, quando necessário, em razão da família.

Isso acaba também aumentando o tempo para promoção.

Vencendo as desigualdades

O FIG, Fundo para a Igualdade de Gênero (2003), vem desenvolvendo projetos que contribuem para:

  • Reconhecer e dar maior visibilidade às gestões de gênero em toda a sociedade.
  • Fortalecer os grupos e as entidades de mulheres por meio do apoio à organização e formação de ativistas para uma atuação mais estratégica.
  • Sensibilizar outros setores para que assumam as questões de gênero como recorte estrutural de toda a sua atuação, como sindicatos, empresas, governos, etc.
  • Transformar as políticas públicas. Com o acúmulo de todos esses processos, atuar para que as políticas públicas, destinadas ao mundo do trabalho, reconheçam a problemática de gênero e contemplem ações e estratégias que tenham impactos sobre ela. As políticas públicas promovidas pelo Estado têm papel fundamental para que as transformações sejam estruturais e atinjam o conjunto da realidade econômica e social.
  • No Direito Penal, os crimes realizados no ambiente virtual, os crimes cibernéticos, etc.

No plano prático, a inclusão das mulheres, na gestão empresarial, tem que passar pela reavaliação de salários (geralmente inferiores aos dos homens) e pela elevação aos cargos de chefia, aos quais ainda é difícil de se chegar. Uma empresa que aborda, com profundidade, a questão de gênero saberá, certamente, aproveitar melhor o que cada colaborador (mulheres e homens) pode oferecer.

Homens e mulheres não são iguais. Pensam e agem de maneira diferente, condicionados por questões biológicas, culturais e sociais.

As biológicas determinam as diferenças naturais entre homens e mulheres em razão das funções físicas e reprodutivas.

A mulher, por sua finalidade reprodutiva, de conservação e desenvolvimento da vida, é mais sensível ao universo simbólico e espiritual da espécie humana.

Saiba mais

Mulheres assumem comando das famílias cada vez mais, diz IBGE.

Revista Exame, 07/03/2006.

As mulheres são maioria no país, têm vida média mais elevada que os homens e assumem, cada vez mais, o comando das famílias. Essas são algumas das conclusões da pesquisa “Perfil das mulheres responsáveis pelos domicílios no Brasil”, que o IBGE divulgou nesta quinta-feira (7/3), véspera do Dia Internacional da Mulher. As informações confirmam tendências que já vinham sendo apontadas no Censo 2000.

A pesquisa mostra que existem 11.160.635 de mulheres respondendo por 24,9% dos domicílios de todo o país, o equivalente a 12,9% das 86.223.155 brasileiras. Em 1991, apenas 18,1% dos domicílios estavam nessa situação. As regiões Sudeste (46,4%) e Nordeste (28,5%) têm o maior número de mulheres responsáveis por domicílios. Coerentes com a distribuição geográfica da população, essas proporções, além de refletirem fenômenos culturais, refletem também a intensidade da migração nordestina masculina das últimas décadas e a alta freqüência de dissoluções conjugais nas camadas mais pobres da população, diz o estudo do IBGE.

As informações são da Agência Brasil.

AULA 16

Cultura de massa

Como consequência das tecnologias de comunicação aparecidas no século XX, e das circunstâncias geopolíticas configuradas na mesma época, a cultura de massa desenvolveu- se a ponto de cegar os outros tipos de cultura anteriores e alternativos a ela. Antes de haver cinema, rádio e TV, falava-se em cultura popular, em oposição à cultura erudita das classes aristocráticas; em culturas nacionais, componentes da identidade de um povo; em cultura clássica, conjunto historicamente definido de valores estéticos e morais; e num número tal de culturas que, juntas e interagindo, formavam identidades diferenciadas das populações.

“Identidades locais fixas desaparecem para dar lugar a identidades globalizadas flexíveis, que mudam ao sabor dos movimentos do mercado e com igual velocidade”.

Suely Rolnik

A cultura de massa nasce precisamente no século XIX, com a literatura de folhetins1 já industrializada e substituindo a literatura popular de cordel2, que desapareceria nos fins do século XVIII.

Produto das transformações que criaram a sociedade de massa, essa cultura torna-se reflexo da produção e do consumo em grande escala.

A sociedade de massa formou-se durante o processo de industrialização do século XIX, através da especialização em tarefas, da organização industrial em larga escala, da concentração de populações urbanas, da centralização crescente do poder de decisão, do desenvolvimento de um complexo sistema de comunicação internacional e do crescimento dos movimentos políticos das massas.

A cultura de massa consiste na produção industrial de um universo muito grande de produtos, que abrange setores, como: a moda, o lazer, no sentido mais amplo, incluindo os esportes, o cinema, a imprensa escrita, falada e televisada, os espetáculos públicos, a literatura, a música, enfim, um número muito grande de eventos e produtos que influenciaram e caracterizam o atual estilo de vida do homem contemporâneo.

Coube ao filósofo Theodor Adorno escrever a primeira obra sobre o assunto. Esse autor abandona a expressão mais usual “Cultura de Massa”, para substituí-la por “Indústria Cultural”, pois a sua preocupação era evitar que se confundisse a “Cultura Popular” com a “Cultura de Massa”.

Para Adorno, a cultura popular era uma manifestação espontânea originária das próprias massas. Algo semelhante ao que vimos hoje, que apreende e retrata a arte popular.

Já a cultura de massa nada tem que ver com a cultura popular. Para Adorno, a cultura popular nada oferece de satisfatória para o consumidor. Além disso, ao industrializar todos os produtos, ela mistura valores da arte popular e da arte erudita como detrimento de ambas. Isso porque a primeira perde sua função mais importante, que é a de servir como elemento agregado e de sociabilidade através do lazer e da arte.

Assim, a camada mais modesta da população estaria prejudicada.

Sua produção industrial passaria por um processo de transformação, de reprodução industrial e de adequação do consumo em grande escala, o que acabaria por descaracterizá-la. Dessa forma, a cultura popular tenderia a disfarçar suas origens e a perder sua própria identidade.

Com a arte erudita, os efeitos seriam semelhantes. Adaptá-la ao consumo de massa, significa manipulá-la para que seja aceita.

A cultura de massa tem múltiplas origens, sendo alimentada, principalmente, às custas das indústrias que têm lucros a inventar e promover o material cultural.

Ela exalta valores individuais, como: felicidade, amor, beleza e auto-realização.É estimulada pela sociedade de consumo, independente da ideologia política oficial.

Analisando esse ponto, podemos dizer que a presença do aparelho de TV, no cotidiano das pessoas, é tão forte, que muitos pensam que a televisão é o único lazer da população. Além da TV, há a rádio AM e FM, a leitura de jornais, revistas, ouvir CD, ou seja, um lazer financiado pela publicidade comercial que usualmente designa-se como indústria cultural.

Com isso, uma outra suspeita é a de que o lazer é todo voltado para o consumo ou para atividades que levam ao consumo.

Os estudos de orçamento-tempo mostraram que, efetivamente, quase a metade do tempo livre de nossa população é gasta com um lazer produzido pela indústria cultural, vindo, principalmente, da televisão, seguida de longe pelo rádio e, mais de longe ainda, pelos livros, discos, jornais e revistas.

No entanto, é arriscado afirmar que determinada atividade seja, ou não, produzida pela indústria cultural, é também importante observar que tais meios de comunicação de massa nada mais são do que a reprodução de conteúdos de outras práticas de lazer.

Como, por exemplo, o volume de concertos de música erudita ou popular vistos nas rádios e TVs é extraordinariamente maior do que o das salas de show e concertos ao vivo. O mesmo vale para outros espetáculos artísticos e para o esporte, a ginástica, a jardinagem, a culinária, a informação em geral. Trata-se de um consumo de lazer e não de prática ativa de lazer.

É importante ressaltar, então, as relações estabelecidas entre indústria cultural, meios de comunicação de massa e com a cultura de massa.

Em um primeiro momento, podemos achar que essas expressões funcionam como sinônimos, mas não é assim.

Não se pode falar em indústria cultural e sua conseqüência, a cultura de massa, num período anterior ao da Revolução Industrial, no século XVIII; do surgimento de uma economia de mercado, uma economia baseada no consumo de bens; e da existência de uma sociedade de consumo, segunda parte do século XIX.

Assim, a indústria cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa surgem com funções do fenômeno da industrialização. E essas, através das alterações que ocorrem no modo de produção e na forma de trabalho humano, determinam um tipo particular de indústria (a cultural) e de cultura (a de massa). E isso vai dependendo completamente do uso crescente da máquina, da submissão do ritmo humano de trabalho ao ritmo da própria máquina, da exploração do trabalhador, da divisão do trabalho. Conseqüências da Revolução Industrial, traços marcantes de uma sociedade capitalista, em que é nítida a oposição de classes.

Nesse momento, começa a surgir a cultura de massa. Podemos observar, desde então, conseqüências diretas e indiretas na distribuição cultural dos dias de hoje.

Uma característica muito importante da indústria cultural é a formação de uma cultura homogênea, porém, aqui no Brasil, por ter uma grande desigualdade na distribuição de renda, acaba por se dificultar à homogeneização da cultura.

Segundo Adorno, a indústria cultural desperta, nas pessoas, a sensação confortável de que o mundo está em ordem, frustrando na própria felicidade que ela ilusoriamente lhes propicia.

Ela impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. A sociedade de massa procura indicar o potencial da propaganda dos meios de comunicação de massa, usados pelas elites, para bajular, persuadir, manipular e explorar o povo de modo mais sistemático e difuso. Os que controlam as instituições de poder adulam o gosto da massa para controlá-la.

De uma forma geral, a cultura de massas é conduzida pelos meios de comunicação, que começaram a se difundir no século XVIII, e pelos progressos científicos, especificamente com a produção estandartizada dos produtos.

Ou seja, hoje em dia, temos acesso a todos os produtos e informações de todo o mundo e, em geral, esses produtos são bastante homogêneos em toda a direção.

Atualmente, nas sociedades modernas, veste-se da mesma forma, ouve-se a mesma música, come-se a mesma comida (Mc'Donalds é um grande exemplo), vê-se os mesmos filmes, usa-se os mesmos eletrodomésticos e vamos ganhando os mesmos hábitos, por exemplo. Tudo isso devido a uma cultura de massas em que estamos inseridos.

Outro exemplo, de grande importância, é o telejornal que se pode relacionar a cultura de massa, já que é assistido por milhões de pessoas, que estão vendo as mesmas notícias, podendo veicular ideologias ou modelar as nossas crenças.

Glossário

1Folhetins: romance publicado nos rodapés dos jornais.

2Cordel: A literatura de cordel é um tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois impressa em folhetos rústicos expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome.

AULA 17

Cultura de massa nas organizações

A cultura de massa pressupõe a existência da indústria cultural, produzindo artigos em série para serem consumidos pelo público.

O público, dessa produção, é considerado como massa e não como grupos heterogêneos bem caracterizados, e, se não tem consciência de si como grupo social, não pode fazer exigências, tornando-se passivo, recebendo e consumindo tudo, sem crítica alguma.

“Mais que de máquinas, precisamos de humanidade”.

Charles Chaplin

Vimos, na aula anterior, que a cultura de massa é constituída por produtos da indústria cultural, que se destinam à sociedade de consumo visando responder pelo gosto médio da população.

A cultura de massa caracteriza-se por:

  1. Ser produzida por um grupo de profissionais que pertence a uma classe social diferente do grupo a que se destina;
  2. Ser dirigida pela demanda, passando por modismos;
  3. Ser feita para um público semiculto e passivo; a sociedade, nesse caso, é só o alvo da produção, não a sua procedência;
  4. Visar o divertimento como meio de passar o tempo.

Portanto, podemos dizer que um público passivo, que não tem exigências, não terá consciência de que é um grupo social, simplesmente consumindo o que lhe for dado pelos produtores.

Esse público, que não reconhece a si mesmo, pode gostar de quaisquer coisas enquanto moda e depois descartá-las, por exemplo, podendo consumir música sertaneja hoje, rock amanhã, sem se sentir ligado ou satisfeito a nada.

O fato das pessoas descartarem coisas, que já não estão na moda, tem uma ligação com a alienação que é promovida pela cultura de massa. Essa questão foi levantada pelos filósofos Adorno e Horkheimer; para eles, os produtos da indústria cultural levam à alienação, porque não induzem o homem a se situar numa realidade social, econômica e histórica, nem a pensar criticamente na situação sobre a conjuntura do mundo, oferecendo um tipo de diversão inocente, maquiando a realidade.

Para ilustrar essa idéia, analisemos o “Trabalho e a Alienação” utilizando o texto abaixo:

“Aprendiz de feiticeiro”

A velha lenda do ‘aprendiz de feiticeiro’ foi retomada por Walt Disney no filme Fantasia, clássico do desenho animado. Em um dos segmentos, um dos personagens principais, representado por Mickey, é incumbido de lavar as dependências do castelo e, para facilitar o serviço, resolve aplicar as mágicas aprendidas com seu mestre feiticeiro.

Bem sucedido ao ordenar a uma vassoura para carregar vários baldes cheios d’água, o que lhe poupa enorme esforço, constata, em seguida, que apenas sabia desencadear a mágica, sem, contudo, conseguir interrompê-la no momento desejado. Na esperança de solucionar o impasse, corta várias vezes a vassoura, aumentando o número delas em ação, logo transformadas num batalhão de ‘serviçais’ incansáveis. A inundação do castelo é evitada com um retorno providencial do mestre feiticeiro, cujas palavras mágicas interrompem o louco processo desencadeado.

Vamos avaliar, primeiramente, a técnica como um poder, que nem sempre tomamos conta de suas conseqüências, como se tivéssemos com nossas idéias incrustadas, e alguém simplesmente indicasse qualquer caminho.

E para não perpetuar o erro, temos que prestar atenção, sermos críticos, mas isso não significa que temos que ser mestres em tudo, podemos ser técnicos, mas não apenas “técnicos”, precisamos também refletir sobre os valores que envolvam a aplicação da técnica e não aceitarmos tudo em pedaços.

Por exemplo, a industrialização, quando não é planejada e nem administrada, transforma a idéia de progresso em pesadelo, como nos dias de hoje, temos a agravante do efeito estufa, que está desequilibrando todo nosso ecossistema.

Vamos, agora, fazer uma ligação do texto “Aprendiz de feiticeiro” com o surgimento das fábricas, para isso, destacaremos as transformações técnicas que ocorreram através dos tempos:

  1. O desenvolvimento da ciência que era de interesse da classe dominante;
  2. Invenção da máquina a vapor, alterando as relações de produção e as relações sociais;
  3. As primeiras fábricas com o surgimento do proletariado;
  4. Crescimento das cidades;
  5. Industrialização;
  6. Uso de várias formas de energia;
  7. Organização hierarquizada da empresa;
  8. Técnico especializado e técnico semiqualificado;
  9. Divisão do trabalho, com isso, o trabalhador não reconhece sua mercadoria (alienação);
  10. Aumento da produção;
  11. Linha de produção, século XX, com a linha de montagem , em que o operário não tem mais a visão global ou holística do que está sendo produzido.

Com toda essa mudança na organização, o trabalhador perde o saber técnico e passa a executar o que foi mandado, sem precisar raciocinar, apenas executar o serviço.

Assim, perde a sua autonomia, passando, então, a ser controlado, provocando uma inversão de papéis, de modo que o produto começa a valer mais do que o indivíduo. O produto passa a ter vida e o homem passa a ser visto como coisa, não conseguindo mais ter uma visão abrangente do que acontece apenas pedaços de quebra-cabeças sem função alguma.

Esse homem, transformado em coisa, só pode ser um homem alienado:alienado do seu trabalho, trocado por um valor em moeda inferior às forças por ele gastas; alienado do produto do seu trabalho, que ele mesmo não pode comprar, pois o mesmo não é remunerado a altura do produzido; alienado a tudo, até dos seus projetos de vida, da vida do país e de sua própria vida.

Podemos também exemplificar o texto com a sociedade na qual estamos inseridos, que é a pós-industrial, em que ocorre a grande mudança tecnológica, alterando as relações de produção com a inserção de robôs nas fábricas, mudando todo o perfil do trabalhador.

Agora, esse trabalhador tem que ter habilidades para controlar diversas máquinas, trabalhar em equipe, adquirindo maior poder de decisão.

Apesar de toda tecnologia avançada, não podemos nos esquecer da avalanche de desempregados (desemprego estrutural), e também da dependência das pequenas empresas em tempos de globalização.

Não podemos apenas criticar todo o avanço tecnológico e ignorarmos seus benefícios.

O grande mal está em separar a técnica da sabedoria, visto que uma não existe sem a outra, pois juntas têm o grande poder de impedir que o ideal de produtividade seja medido em termos de estrutura de poder da classe dominante; somente a junção da técnica com a sabedoria faria que esse ideal atendesse às necessidades de todos.

Hoje, o trabalhador está tão preso em seu trabalho, e utiliza-se tão pouco de sua criatividade, que quase faz de sua atividade diária algo automático, sem realmente valer-se de sua capacidade intelectual e criativa. Não podemos deixar que a crítica e o conhecimento passem a ser trocados por dinheiro, sendo consumidos como qualquer coisa.

Como complemento da aula, é essencial que você procure assistir o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin1.

Glossário

1Tempos Modernos: O filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, que retrata a alienação no trabalho (e a coisificação do homem).(Modern Times, EUA, 1936). Direção: Charles Chaplin. Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard; 87 min., preto e branco, Continental.

AULA 18

Desenvolvimento profissional e autonomia no Brasil

As corporações investem, sistematicamente, em treinamentos técnicos para aumentar a eficiência operacional de seus funcionários e quase não se preocupam em estimular a sua autonomia e seu lado empreendedor. O empresário não pode se dar ao luxo de comandar seus negócios com as arcaicas práticas gerenciais, pois elas nem sempre funcionam. A base do poder vigente ainda é individualista, mas a questão não é acabar com o poder; ele é tão forte - nas raízes culturais brasileiras - e necessário - diante da essência do ser humano, que o que se pretende é que haja uma transformação em sua base, passando de uma visão individualista para uma visão coletiva.

“Quem é firme em seus propósitos molda o mundo a seu gosto”.

Charles Chaplin

O comportamento das pessoas, dos grupos aos quais elas pertencem e da cultura organizacional é altamente sensível e faz a diferença desde a qualidade da produtividade até os mais diversos segmentos da comunidade e da sociedade. Já nas primeiras raízes das teorias de Administração, há o esforço de construir processos e modelos de trabalho, respeitando e integrando expectativas, necessidades e características humanas.

Superados os tempos e movimentos, o planejamento da produção, o inquieto conhecimento sobre os mercados e os novos movimentos da internacionalização e alta tecnologia, nunca foi tão importante conhecer o comportamento organizacional.

Com uma abordagem que tem, como base, as transformações causadas por grandes mudanças na organização do trabalho, no relacionamento entre as organizações e pessoas e no comportamento do mercado de trabalho, verificados nos últimos anos, analisaremos se é utopia ou realidade o desenvolvimento profissional no Brasil.

A “Autonomia para o desenvolvimento profissional”, texto de Joel Souza Dutra (1997), sistematiza os trabalhos desenvolvidos segundo um novo aspecto de gestão de pessoas, que leva em consideração o ambiente em que a empresa fixa-se, em situações de globalização, da turbulência crescente, da maior complexidade das arquiteturas organizacionais e das relações comerciais e maior valor agregado dos produtos e serviços.

Ele mostra, em sua pesquisa sobre gerenciamento de carreira, realizada na cidade de São Paulo, com pessoas de formação superior: apenas 2% haviam pensado em suas carreiras de forma estruturada. No entanto, 98% dos participantes haviam entregado seu destino profissional para empresas ou para o acaso.

A partir desses dados, seria interessante pararmos para pensar sobre certos questionamentos de nossas escolhas profissionais, como:

  • O quanto esculpimos a nossa carreira ou a mesma é esculpida pela empresa e pelo ambiente?
  • Qual é o papel da empresa ao estimular e apoiar os projetos profissionais de seus colaboradores?
  • Quais são os aspectos do ambiente, onde a pessoa está inserida, que alavancam ou restringem essa consciência?

Essas indagações foram pesquisadas em duas empresas, que buscaram estruturar caminhos para o desenvolvimento profissional e criar o espaço necessário para que as pessoas se apropriassem dos mesmos. (Na aula 19, veremos os Estudos de Casos)

Vamos, então, discuti-las:

  • A empresa tem interesse que as pessoas elaborem seu projeto profissional, a partir de seus ideais. Temos que considerar que pessoas alienadas não mudam tão facilmente e resistem a mudanças;
  • As pessoas não foram educadas para pensar em sua carreira profissional;
  • As pessoas têm que ter certeza de suas idéias, pois estão inseridas num ambiente mais competitivo, havendo mais cobranças em estruturar sua carreira;
  • As empresas que conquistaram sucesso têm investido no desenvolvimento das pessoas e dela própria, para obter, com isso, maior envolvimento e comprometimento, mas com objetivo estratégico das empresas.

Os conceituais metodológicos para dar caminho a esse estudo aparecem na literatura apenas nos anos 70, definindo o papel da empresa e das pessoas na gestão de suas expectativas de desenvolvimento. Cabia à empresa estimular e dar suporte às pessoas e definir, com clareza, as suas expectativas em relação às mesmas.

Hoje em dia, essas propostas tornaram-se concretas na busca de melhorar a conciliação das expectativas de desenvolvimento das pessoas e da empresa.

A pesquisa abaixo foi realizada nos EUA, Europa, Cingapura e na Austrália (Gutteridge-1993).

Segundo pesquisa, as principais explicações para esse fenômeno são:

  • A empresa precisa ter um empenho e envolvimento afetivo do trabalhador, mas com os objetivos e estratégias da empresa como forma de obter vantagens competitivas;
  • A empresa precisa contar com pessoas em condições de interatuar com a organização, num processo de mútua aprendizagem, sem que ambas percam sua individualidade;
  • Necessidade das pessoas e das empresas refletirem sobre suas dependências, pois as empresas, não mais podendo garantir emprego e as pessoas, não colocam todos os seus planos em uma única empresa;
  • As empresas buscam pessoas autônomas e empreendedoras, mudando o tradicional perfil do trabalhador, que era de dependência e acomodação; essa mudança tem ligação com a atual organização que precisa de tomadas de decisões dos empregados;
  • Mudanças de expectativa em relação à empresa; às pessoas estão buscando, cada vez mais, a autonomia e a liberdade em suas escolhas de carreira.

No Brasil, essas práticas ainda estão amadurecendo. Em 1990, foi realizada uma pesquisa sobre o estado da prática em Administração de Carreiras, mas não foi produtivo, pois o próprio mercado não dominava o vocabulário sobre o tema.Realizou-se, então, clínicas temáticas com dirigentes empresariais, consultores e docentes, a fim de saber como as pessoas e as empresas conciliam suas expectativas de desenvolvimento. (Dutra, 1997)

Conclui-se que:

  • As pessoas não tiveram estímulo para pensar de forma estruturada em seu desenvolvimento, deixando a cargo da empresa ou do acaso que alguém desse direção para os seus passos;
  • As empresas são autoritárias em sua postura em relação aos seus trabalhadores, estabelecendo treinamentos, definindo trajetórias profissionais e vendo o momento em que a empresa acha apropriado para oferecer desafios e oportunidades profissionais, ou uma postura de afastamento, deixando seus trabalhadores à sua própria sorte, não havendo qualquer ação estruturada para o aproveitamento interno da pessoa;
  • No Brasil, as empresas estão quase todas despreparadas para qualquer ato que estimule, oriente e dê suporte aos seus trabalhadores para que eles assumam o planejamento de seu desenvolvimento ou carreira.

(Esse paternalismo é traço de nossa cultura, como já vimos na aula 12)

O interessante é notar que, segundo essa pesquisa, o perfil do gerente capaz de agregar valores para a empresa seria ser autônomo e empreendedor, mas, na prática, o que acontece, nas organizações brasileiras, ainda reforça o perfil obediente e disciplinado.

Vamos, agora, analisar algumas vivências do trabalhador com a empresa:

  • A empresa tem o poder na construção dos ideais de seus colaboradores.

Quando a pessoa é alienada, torna-se mais fácil, para a empresa, convencê-la de algo, tanto no seu desenvolvimento quanto no seu projeto profissional; a empresa tem grande participação na manipulação dessa pessoa.

O fácil convencimento está atrelado ao nível de informação e formação que a pessoa possui, pois, quanto mais crítica for a pessoa, menor a chance dela se tornar alienada. Com já vimos, a empresa não pode mais garantir emprego e, ao menos tempo, precisa de um alto nível de responsabilidade de seu colaborador, portanto, a empresa sabe o quanto é bom ou não ter pessoas mais ou menos conscientes.

  • Marginalização ao acesso de informação dentro da organização.

As pessoas são separadas na empresa: as que podem ter acesso para discutirem seus projetos de desenvolvimento com a empresa, discutindo sobre planos de carreiras, não foram excluídas e são peças fundamentais para a empresa, para o seu desenvolvimento e o desenvolvimento de ambas; à maioria excluída desse processo, basta apenas cumprir ordens, lembrando, mais uma vez, quanto mais alienado for o homem, mais passivo ele será, não havendo confronto algum.

  • Exclusão do trabalhador considerado desqualificado pela empresa.

Voltamos a pensar em alienação e cultura de massa; num país como o Brasil, onde há muitos trabalhadores sem qualificação, sem perspectiva de qualidade de vida, a qualificação do trabalhador torna-se artigo de luxo, excluindo-se, é claro, um grande contingente de trabalhadores. O olhar do empresário volta-se apenas para as pessoas estratégicas, tais como: executivos, profissionais técnicos ou de níveis operacionais. Infelizmente, o restante dos trabalhadores está fora desse jogo, provocando uma grande distorção.

Na próxima aula, 19, veremos dois estudos de casos para ilustrar melhor essas questões, que são tão importantes para o nosso entendimento enquanto futuros administradores.

AULA 19

Desenvolvimento profissional no Brasil

Com base nos dois casos, podemos dizer que as organizações conseguem utilizar seu poder de persuasão quando as pessoas não são conscientes e estruturadas em sua carreira profissional, sendo um alvo fácil. É interessante observarmos os seguintes questionamentos:

  • Qual seria o interesse das empresas em estimular essa consciência e abrir mão desse poder?
  • Qual o nosso papel na sociedade em estimular essa consciência nas pessoas e, principalmente, em nós mesmos?
  • Qual espaço e instrumentos que temos a nossa disposição para obtermos essa consciência no contexto da realidade brasileira?

Não aspiramos parar por aqui, pois esse tema não se esgota, tendo que ser estudado, analisado, refletido por todos nós, de modo a buscar o melhor caminho para o nosso desenvolvimento profissional.

“Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes”.

Albert Einstein

O caso 1 refere-se a uma empresa nacional no setor editorial, em que foram analisados os jornalistas.

O caso 2 refere-se a uma empresa multinacional que atua no segmento industrial de commodities, e foram analisados profissionais ligados à área de informática.

As duas empresas estudadas são vanguardistas em seus segmentos, inclusive em suas políticas e práticas de gestão de pessoas.

Ao analisarmos os dois casos, poderemos ter a visão da escolha profissional no Brasil, quanto ao espaço e aos procedimentos de como as pessoas pensam e estruturam, de forma autônoma, o seu desenvolvimento profissional.

Caso 1

A primeira empresa estudada é uma editora de porte internacional com vários títulos de peso no Brasil. Na época em que o trabalho foi realizado, estavam implementados os programas que visavam aprimorar a qualidade de sua produção editorial, tanto pela introdução de novos conceitos de trabalho, quanto por meio de processos e de infra-estrutura necessária à informatização da produção editorial.

Pudemos verificar que a empresa não tinha condições de estabelecer suas expectativas em relação aos jornalistas e de acompanhar a evolução profissional destes, pois era comum um jornalista receber um cargo para justificar um aumento salarial e não para aumentar seu patamar de responsabilidade profissional. Desse modo, as pessoas assumiam um cargo para justificar o salário, mas exerciam outro, com um terceiro para aparecerem no editorial e na carteira profissional poderia aparecer outro cargo.

A confusão de cargos relatada é comumente encontrada nas organizações, gerando proliferação de cargos, nomenclaturas e promoções fictícias. Esse quadro não permite à empresa gerir o desenvolvimento das pessoas, nem permite às pessoas uma visão clara de suas possibilidades de crescimento na organização.

No caso estudado, a direção da empresa, os responsáveis pelas redações e os próprios jornalistas estavam profundamente insatisfeitos com a situação existente.

A credibilidade dos trabalhos executados, nesse caso, dependia, portanto, do atendimento das expectativas de todas as pessoas envolvidas. Para tanto, foram criados 3 (três) grupos de trabalho:

  • A Direção foi responsável pela definição dos parâmetros e da estrutura de carreira para os jornalistas e das principais expectativas em relação ao desenvolvimento dos mesmos;
  • Os responsáveis pela redação modelaram a implementação da estrutura de carreiras e responderam por ela;
  • Os jornalistas foram organizados em grupos de consulta e expuseram suas expectativas em relação ao sistema de administração de carreiras.

Como resultado, estabeleceu-se um sistema que apresentava as seguintes características básicas:

  • Criava carreiras paralelas para repórteres, diagramadores, ilustradores e editores, de tal forma que os jornalistas poderiam optar por uma carreira gerencial editorial ou uma carreira profissional pura;
  • Enxugava o número de posições, estabelecia, com clareza, os critérios de acesso para cada uma e definia parâmetros para a tomada de decisão por parte da empresa e do jornalista, de forma individualizada, não criando, em nenhum momento, uma “camisa de força”;
  • Estabelecia parâmetros de encarreiramentos estáveis, ou seja, desvinculados da estrutura organizacional ou da forma que era organizado o trabalho, desse modo, a carreira não se modificaria a cada mudança da organização. A mesma estrutura de carreira foi adotada tanto por redações estruturadas, de forma funcional, quanto por redações em células de reportagem, tanto por redações automatizadas, quanto por redações com operações manuais, tanto por redações de grande porte quanto por redações de pequeno porte;
  • Oferecia, a cada redação e a cada jornalista, uma apropriação individualizada da estrutura de carreira, permitindo que esta funcionasse com parâmetros para as decisões;
  • Refletia os compromissos assumidos entre a empresa e os jornalistas e destes em relação aos objetivos organizacionais.

Durante a implementação, os responsáveis pelas redações assumiram todo o processo de comunicação e enquadramento dos jornalistas nos parâmetros estabelecidos pelo sistema. Somente após de dois anos da implementação do sistema é que podemos observar os jornalistas apropriando-se dos parâmetros estabelecidos para desenharem suas carreiras e definirem ações de desenvolvimento.

Essa demora pode ser explicada pelas dúvidas das pessoas quanto à afetividade do sistema e ao real empenho da empresa em respeitar os compromissos assumidos no processo de modelagem. Tão logo ficou comprovado o respeito pelos compromissos por parte da empresa, os jornalistas passaram a acreditar no sistema e na sua efetiva utilização, configurando uma mudança de padrões culturais da organização e de padrões comportamentais das pessoas, baseadas na legitimação da mudança instalada.

Podemos verificar que, nessa experiência, criou-se um espaço para relações mais dignas entre a empresa e as pessoas, à medida que a empresa sabe o que quer de seus jornalistas, que estes sabem o que esperar da empresa e que seus gestores têm condições de estabelecer um relacionamento com suas equipes baseado em parâmetros seguros, transparentes e compartilhados.

Esse trabalho, junto aos jornalistas, gerou movimentos semelhantes em outras categorias profissionais dentro da empresa, tornando-o mais abrangente. Em contrapartida, não houve um acompanhamento da evolução do sistema, nem propostas para seu aprimoramento, no que se refere aos jornalistas, configurando um acomodamento ao status quo tanto da empresa quanto das pessoas.

A expectativa inicial do trabalho era a de que o projeto poderia gerar pressões, por parte dos jornalistas, para maior transparência da empresa em relação a oportunidades de aprimoramento e crescimento profissional, a informação sobre os mercados de trabalho interno e externo ou a informações sobre salários praticados interna e externamente. Esperava-se, também, que a empresa procurasse, com base no trabalho realizado, aprimorar as relações com seus jornalistas, desenvolvendo instrumentos para acompanhar expectativas de desenvolvimento e para oferecer informações sobre a adequação da performance dos mesmos.

Essas expectativas iniciais do projeto não foram atendidas. Não houve pressão dos jornalistas nem iniciativa da empresa para o aprimoramento dos instrumentos e práticas estabelecidas pelo sistema. As pressões dos jornalistas têm acontecido no âmbito das redações e atendidas caso a caso.

Caso 2

A segunda empresa estudada é uma multinacional que atua no país, há muitos anos, de forma divisionalizada. Nos últimos anos, vem percebendo a perda de sinergia entre seus vários negócios e procurando minimizá-la pela integração dos processos comuns. Um dos elementos críticos para o sucesso dessa operação tem sido os Sistemas de IT (information technology), que passaram a ser pensados como parte de uma área, com reporte à corporação e não mais como pertencentes às divisões.

Para entender as novas demandas organizacionais, essa área foi estudada de forma matricial por negócio e por processo. Dessa forma, atende às especificidades de cada negócio e, ao mesmo tempo, integra os processos operacionais comuns, disseminando o aprendizado de cada negócio ou processo para a organização como um todo.

Paralelamente à reestruturação, essa área tem a missão de viabilizar um processo de terceirização das operações e concentrar-se em questões estratégicas e de contínua agregação de vantagens competitivas aos negócios da empresa.

A empresa, ao centralizar sua área de sistemas, conseguiu envolver seu corpo de profissionais com as propostas da nova estrutura, uma vez que passa a visualizar a possibilidade de trabalho em um ambiente mais avançado e em um processo de contínua atualização. A concentração da área passou a exigir, entretanto, a reconstrução das relações organizacionais e um alto grau de integração da equipe para ocupar um novo espaço dentro da organização, gerando um alto nível de pressão em todo o Corpo de Profissionais.

A comunicação e a transparência de propósitos assumiram grande importância para a construção e manutenção da coesão da equipe, surgindo, a partir daí, claros indícios do descontentamento da mesma quanto à ausência de horizontes profissionais claros, de critérios transparentes de acesso a melhores salários e de reconhecimento de seu valor profissional.

Esse quadro precipitou a realização de um projeto com o objetivo de construir parâmetros para a gestão da carreira e de desenvolvimento para toda a equipe. Com base na constatação dessas necessidades, foi iniciado um processo, envolvendo toda a equipe da área, para a discussão e determinação das trajetórias profissionais possíveis, dos critérios de acesso às posições de gerência sênior da empresa, dos critérios e valorização salarial e do conjunto de expectativas que a empresa poderia esperar em termos de desenvolvimento e níveis de contribuição de cada integrante da equipe.

Para a consecução desse trabalho, foram efetuadas as seguintes atividades:

  • Levantamento de expectativas em relação ao desenvolvimento da equipe com a direção da área;
  • Entrevistas com membros da equipe para levantamento de expectativas em relação à empresa;
  • Workshops envolvendo os gerentes da área para discussão e elaboração dos parâmetros e instrumentos de gestão.

Com base nessas atividades, foram definidos os seguintes parâmetros e instrumentos de gestão:

  • Eixos de carreira para a área de Sistema e sua permeabilidade com os demais eixos de carreira da empresa;
  • Modelo de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias a todos os membros da equipe, a fim de fazer frente aos desafios da área;
  • Principais ações para que a equipe pudesse suprir o gap existente entre o modelo proposto e a realidade percebida pela mesma;
  • Critérios para enquadramento da equipe nos eixos de carreira e para definição salarial;
  • Processo de contínuo acompanhamento e feedback para cada membro da equipe.

A exemplo do caso 1, os gerentes da área de Sistema apropriaram-se dos parâmetros e instrumentos definidos pelos processos e assumiram a gestão de suas equipes. Com essa atitude, as principais expectativas da equipe foram atendidas e as pessoas internalizaram os parâmetros estabelecidos, tomando decisões acerca de suas carreiras, inclusive de permanência ou não na área e na empresa.

As principais características dos parâmetros de desenvolvimento profissional definidos pelo trabalho foram:

  • Minimização dos espaços para atividades operacionais com o processo de terceirização;
  • Alto grau de permeabilidade da carreira em Sistemas com as demais carreiras gerenciais da empresa;
  • Flexibilidade para a formação de equipe de Sistema, criando trajetórias para pessoas provenientes de outras áreas da empresa, do mercado e do programa de trainees.

Ao contrário do que aconteceu no caso 1, o processo gerou um aprimoramento dos instrumentos e práticas de gestão, como, por exemplo, o acompanhamento de desenvolvimento das pessoas e da equipe de forma associada ao desenvolvimento da área, buscando-se caracterizar indicadores de agregação de valores para ambos, empresa e profissional.

Após um ano da implementação dos instrumentos de gestão, foi verificada a necessidade de revisão, criando-se, a partir daí, um eixo de carreira específico para a equipe responsável pela performance e segurança do ambiente operacional de Sistemas e pela internacionalização, na empresa, de modernização nos equipamentos e interfaces.

Do trabalho realizado em Sistema surgiram necessidades em outras áreas da empresa, havendo, entretanto, uma concentração nas posições gerenciais e deixando-se, para um segundo momento, os chamados administrativos e operacionais.

(Os estudos de caso 1 e 2 foram extraídos de: DUTRA, Joel Souza. [Org], CALDAS, Miguel P.; MOTTA, Fernando C. Prestes. Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Ed. Atlas, 1997.)

Análises dos casos

Podemos notar que os dois casos têm preocupação com grupos específicos na empresa. As funções desses grupos são imprescindíveis para os resultados operacionais, sendo importante ressaltar que as empresas brasileiras preocupam-se em aperfeiçoar o sistema de carreira quando aparecem pressões externas e internas, e não como proposta mais abrangente para repensar as políticas e os sistemas de gestão; as empresas apenas se empenham quando não têm mais capacidade de prosseguir na sua rotina.

Nos dois casos, há uma pressão das pessoas sobre a organização. A empresa acolhe a idéia se houver uma metodologia interativa para fixação dos parâmetros de carreira e desenvolvimento.

Como já foi assentada, a pessoa tem que ter sua individualidade e ser empreendedora, pois ela é que deve abrir seu próprio caminho, e não esperar que a empresa faça isso por ela.

Nos dois casos, as empresas não se envolvem muito com os projetos profissionais de seus colaboradores.

Por essa razão, mais uma vez, podemos concluir que a pessoa, para obter igualdade de condições, tem que ter clareza em seus objetivos profissionais. Nas empresas estudadas, nota-se que as pessoas têm um baixo grau de consciência da carreira profissional, mesmo sendo pessoas bem formadas e informadas, como é o caso dos jornalistas e profissionais de sistema de uma grande multinacional. Nesses casos, surge a ameaça das empresas interferirem nas questões profissionais de seus funcionários.

Temos que refletir sobre os dois casos e repensarmos na nossa carreira profissional com mais responsabilidade:

  • Os casos retratam situações que acontecem nas empresas brasileiras de forma generalizada. Nesse estudo, tratamos de empresas vanguardistas em seus segmentos. O importante é ressaltar que as pessoas estão limitadas em sua criatividade, dependendo das ordens da empresa, e não podemos nos esquecer que vivemos hoje em um mundo de competitividade, e não é nada lucrativo sustentar restrições entre pessoas e empresas, e vice-versa.
  • O papel da empresa é muito importante em despertar, nas pessoas, a suas potencialidades, então, a empresa que souber fazer uso dessa ferramenta poderá obter vantagens, num processo de crescimento para os seus colaboradores e a empresa.
  • Pode ser que os limites foram impostos pelos padrões culturais que estão inseridos na nossa sociedade. Como já vimos, são poucas as pessoas que sabem estruturar, desde cedo, seus planos de carreira, a maioria não possui estímulo algum, preferindo apropriar-se das oportunidades que surgem. Se pegarmos o exemplo do que aconteceu nos EUA e na Europa, as pessoas só vão tomar consciência de seus talentos profissionais em um ambiente de grandes restrições e alto nível de concorrência.

AULA 20

Desenvolvimento profissional e autonomia no Brasil

Cidadania é poder ser livre para expressar novas idéias e ter o direito de divulgá-las. É poder eleger um Deputado ou um Presidente ou até mesmo um Vereador, sem que seja questionado sobre sua opinião. É também ter o direito de ser gordo ou negro, baixo ou deficiente e poder se encaixar no meio social sem ser discriminado. É poder ser católico ou evangélico sem ser perseguido.

A população, em sua grande maioria, desconhece os direitos que tem e os que não tem. E no meio social existem detalhes que passam despercebidos, mas que mostram exercício de cidadania.

A luta pela cidadania está intimamente associada à construção de novas formas de regulação democrática de nossas sociedades. Cidadania e democracia são dimensões de um mesmo processo, que aponta para a construção de capacidades na sociedade, para que todos possam saber escolher, poder escolher e efetivar suas escolhas.

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Paulo Freire

A palavra Cidadania é derivada de cidadão, que vem do latim Civita. Podemos defini-la como um conjunto de direitos e liberdades políticas, sociais e econômicas, já estabelecidos ou não pela legislação.

Os seres humanos nascem dignos, segundo as declarações internacionais, mas, em toda parte, encontram-se marginalizados. Cresce o número de tratados e o de direitos por eles reconhecidos, mas também o de "excluídos". Apesar da contradição, da oposição com direitos mais tradicionais e das dúvidas sobre sua viabilidade, os chamados direitos sociais e econômicos nunca tiveram tão grande aceitação no mundo.

Cidadania: expressão em moda, usada por todas as correntes de pensamento, devendo ser conceituada levando em consideração o contexto social, do qual se está falando e, com isso, a mesma adquire características próprias, que se diferenciam conforme o tempo, o lugar e, sobretudo, as condições sócio-econômicas existentes.

Cidadania é a participação. A participação como indivíduo ou como um grupo organizado nas mais variadas áreas de atuação na sociedade, na esfera pública. Então, cidadania é sinônimo de participação, ou seja, de não-omissão, indiferença, etc, em relação ao exercício do poder.

Os direitos fundamentais do homem estabelecem faculdades da pessoa humana, permitindo-se sua breve classificação do seguinte modo:

  • os direitos de liberdade, como, por exemplo, a liberdade de consciência, de propriedade, de manifestação do pensamento, de associação, etc;
  • os direitos de participação política, tais como: a igualdade de sufrágio, o direito de voto e de elegibilidade, o direito de petição, entre outros, como os direitos de iniciativa popular (iniciativa de leis que cabe aos cidadãos);
  • os direitos sociais, que abrangem os direitos de natureza econômica, como, por exemplo, o direito ao trabalho, de assistência à saúde, à educação, etc;
  • os direitos chamados de quarta geração, por exemplo, o direito ao meio ambiente preservado e à qualidade de vida;
  • a cidadania, no Estado democrático de direito, efetivada, oferece aos cidadãos, com iguais condições, o gozo atual de direitos, todos assistidos das garantias que permitem a sua eficácia, e a obrigação do cumprimento de deveres, que, em síntese, podem ser assim apresentados:
  • todo o cidadão tem sua existência acompanhada do exercício de direitos fundamentais e do direito de participação, isto é, de ser consultado para as tomadas de decisão nos assuntos que dizem respeito à direção da sociedade em que vive;
  • o exercício de todos os direitos fundamentais, inerentes ao Estado democrático, e do direito de participação, é associado aos deveres de contribuir para o progresso social e de acatar e respeitar o resultado final obtido em cada consulta coletiva;
  • os artigos 22 e 28 da Declaração Universal dos Direitos do Homem apresentam como direitos sociais: o direito à segurança social e à satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade da pessoa humana e ao livre desenvolvimento de sua personalidade; o direito ao trabalho e à escolha do mesmo; o direito a satisfatórias condições de trabalho e de proteção ao desemprego; o direito a um salário digno que seja capaz de suprir as necessidades essenciais do trabalhador e as de sua família; o direito à liberdade sindical; o direito a uma jornada de trabalho justa; o direito a férias, descanso remunerado e lazer, previdência e seguridade social; direito à cultura e educação, além de instrução técnica e profissional; direito à efetivação plena dos direitos fundamentais.

Faremos, agora, uma reflexão dos textos abaixo sobre cidadania:

A importância da autonomia

Holgonsi Soares - Prof. Ass. Depto. de Sociologia e Política – UFSM Publicado no jornal A Razão, em 25.06.98.

“Se quisermos ser livres, ninguém deve poder dizer-nos o que devemos pensar”.

Castoriadis

O grande sociólogo Anthony Giddens, ao trabalhar as principais questões do debate ideológico contemporâneo, coloca-nos, como central, o conceito de "sociedade pós-tradicional", ou seja, aquela na qual o homem é obrigado a abdicar da rigidez das idéias, atitudes e tipos de comportamentos fundamentados no sistema de valores tradicionais. Essa é a sociedade na qual estamos vivendo, e cujas características são mais evidentes de acordo com a intensificação do processo de globalização. Como é da natureza da História, cada contexto histórico concreto coloca suas condições de sobrevivência. Há vinte anos, quando a hierarquia estava em alta, exigia-se obediência cega, humildade e concordância. Hoje, porém, na sociedade pós-tradicional, exige-se o oposto, e a autonomia é condição básica para conviver com os riscos, as incertezas e os conflitos dessa sociedade.

Inicialmente, foi no mundo da produção, quando a racionalidade tecnológica colocou, como pré-requisitos, o domínio do conhecimento, a capacidade de decidir, de processar e selecionar informações, a criatividade e a iniciativa. Somente um indivíduo autônomo consegue manejar com esses elementos, que diferenciam, radicalmente, a fábrica pós-fordista da fordista. Porém, ao mesmo tempo em que esses pré-requisitos pressupõem indivíduos autônomos, acabam influenciando no desenvolvimento da autonomia dos mesmos. Dessa forma, a autonomia tornou-se uma necessidade material, mas não está mais restrita apenas à esfera da produção, envolvendo, agora, todos os domínios da vida contemporânea.

Assim, é também uma necessidade emocional, uma vez que os indivíduos precisam desenvolver uma efetiva comunicação entre si, numa sociedade em que o diálogo molda a política e as atividades. A falta de autonomia, no âmbito psicológico, obstaculiza as discussões abertas, gera violência e impede a manifestação plural; como diz a cientista social A'gnes Heller, "é uma afronta a autonomia do outro".

Portanto, a autonomia psicológica é necessária para se entrar em efetiva comunicação com o outro, num diálogo que ocupa um espaço público no qual "todas as facções discutem entre si numa relação simetricamente recíproca" (Heller), livres do uso da coerção e da retórica.

É uma necessidade sócio-cultural, uma vez que a nova sociedade traz, em suas contradições produtivas, um amplo movimento cultural de superação de velhas concepções de mundo, exigindo uma nova direção das relações sociais e a elaboração de um novo comportamento chamado "reflexivo". Sob esse aspecto, a autonomia torna-se necessidade política, pois somente um indivíduo autônomo possui condições de entender as contradições do mundo globalizado questionando-as e agindo no sentido de canalizar as oportunidades para mudanças qualitativas.

Por tudo isso, a autonomia tornou-se condição de sobrevivência para os indivíduos na sociedade pós-tradicional. Somente um indivíduo autônomo terá sucesso nas esferas econômica, psicológica, sócio-cultural e política, pois é um indivíduo que interroga, reflete e delibera com liberdade e responsabilidade, ou como diz Castoriadis, "é capaz de uma atividade refletida própria", e não de uma atividade que foi pensada por outro sem a sua participação. Espero que todos os envolvidos com o processo educativo (formal e informal) reconheçam a importância da mesma, e estejam trabalhando para favorecer a autonomia individual e, consequentemente, coletiva, pois é assim que nos tornaremos "conscientes e autores de nosso próprio evolver histórico" (Castoriadis).

Globalização – sobre o mundo do trabalho

Holgonsi Soares - Prof. Ass. Depto. de Sociologia e Política – UFSM Artigo publicado no jornal A Razão, em 09.05.97

“No lugar do trabalho organizado, altos níveis de desemprego estrutural; rápida destruição e reconstrução de habilidades; ganhos modestos, quando há, de salários reais; e o retrocesso do poder sindical”. D.Harvey

Considerando-se o caminho histórico temporal do processo de globalização (que começou há cem anos), estamos vivendo, atualmente, os impactos da quinta fase desse processo, denominado, por R. Robertson, de "fase da incerteza". Nesta, as sociedades (sejam centrais, periféricas ou semiperiféricas) enfrentam-se, cada vez mais, com novas fontes de pressão, problemas de multinacionalidade e de politecnicidade, e questões sociais que atingem uma dimensão também global. O chamado "capitalismo tardio/ multinacional" reorganiza as bases do mundo do trabalho para manter a obtenção máxima de saldos, pois, como diz I.Wallerstein, "o acúmulo de capital requer uma evolução contínua na organização da produção".

Assim, temos, hoje, um processo de produção no qual a padronização cede lugar a uma grande variedade de produtos (a atração está no diferente); o controle de qualidade está presente em cada ritmo e seqüência do processo, pois, com a ampliação da concorrência, ganha quem conquista o ISO (certificado de qualidade); e os grandes estoques deixam de existir (a cada dia, a mídia gera novas necessidades de consumo). No mundo do trabalho, o multiprofissional ocupa o lugar daquele que domina apenas uma tarefa; o treinamento é supervalorizado; a criatividade do trabalhador é incentivada e a liderança participativa rompe com o comando autoritário.

Para que essa reorganização seja possível, a estrutura do mercado de trabalho está se adaptando ao novo paradigma produtivo e tecnológico, cujas palavras de ordem são: produtividade, competitividade e lucratividade. Porém, essa adaptação está sendo feita com um custo social bastante elevado e consequências imprevisíveis para as próximas décadas.

A ruptura do compromisso keynesiano traz consigo um mercado no qual o emprego regular (ou de "tempo integral"), com segurança, salários reais, vantagens sociais, começa a se tornar escasso para a maioria; em seu lugar, surge o emprego temporário, parcial, casual e outras modalidades que representam, na verdade, o chamado "desemprego disfarçado", cujas condições de trabalho estão muito abaixo dos padrões aceitáveis, e reeditam o pré-fordismo principalmente nos países subdesenvolvidos. Somando-se a este, o "desemprego estrutural" (ou "tecnológico") está afastando um grande número de pessoas do mercado de trabalho; torna-se global e tende a crescer na mesma proporção dos requisitos tecnológicos.

A reorganização do mundo do trabalho, na economia globalizada, é, portanto, paradoxal; gerando uma incerteza em todos os aspectos do trabalho (mercado, emprego, renda e representação), constitui-se, na realidade, numa desorganização que, parafraseando Gramsci, está refletindo também no modo de viver, de pensar e sentir a vida hoje. Se a segunda Revolução Industrial trouxe a conversão do trabalho em trabalho assalariado, a terceira está trazendo o fim deste, e convertendo, progressivamente, ciência e tecnologia em forças produtivas, o que representa grandes desafios para o processo formativo e educacional do homem.

Vítimas - Os desprotegidos do fim do século

Jornal Folha de São Paulo - 03/12/1998.

Cerca de 250 milhões de crianças entre 5 e 14 anos trabalham hoje no mundo, 120 milhões das quais em período integral. Guerras concentradas na Ásia e na África expulsaram de suas casas ou de seus países 18 milhões de pessoas. Rituais de mutilação genital atingem 2 milhões de meninas por ano. Esses são alguns exemplos de desrespeito aos direitos humanos praticados hoje, 50 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Refugiados, mulheres e crianças têm em comum o fato de serem o elo mais fraco das relações sociais. As mulheres representam 70% dos 1,3 bilhões de pessoas que vivem em condição de pobreza hoje, com menos de US$ 1 por dia. A proteção dos direitos da criança teve avanços significativos do ponto de vista jurídico, mas os relatos sobre trabalho infantil, assassinatos e violência contra crianças continuam freqüentes, principalmente nos países mais pobres ou em desenvolvimento. A miséria está na origem dessa violência. A ONU estima que 160 milhões de crianças - o equivalente à população brasileira- são mal nutridas e 110 milhões estão fora da escola. A multiplicação de guerras civis motivadas por razões étnicas ou religiosas fez com que explodisse o número de refugiados. A solução desse problema é um dos principais desafios do século 21.

Dora Shimidt, historiadora e professora universitária:

“As pessoas que formam a população de uma cidade recebem o nome de citadinos, mas existe uma outra palavra, parecida com essa, que serve para designar algo bem diferente - é a palavra cidadão. O que é ser cidadão? Essa palavra surgiu há mais de 200 anos, na França, quando as pessoas passaram a fazer e ter leis que garantissem os seus direitos. Antes eles eram apenas súditos, isto é, tinham que fazer tudo o que os governantes da época, os reis, mandavam. Aqui no Brasil, a população brasileira passou a ter suas leis somente depois que o Brasil separou-se de Portugal, isto é, após 1822. Daí para frente, os brasileiros puderam eleger seus representantes e, atualmente, são eleitos desde o presidente da república até os vereadores. Assim, podemos dizer que os moradores da cidade são cidadãos, porque eles elegem pessoas que fazem as leis que irão garantir seus direitos e seus deveres de forma que as suas necessidades possam ser atendidas. Hoje em dia, principalmente nas grandes cidades brasileiras, as necessidades das pessoas - as chamadas necessidades urbanas - são muitas: necessidade de moradia, transporte, emprego, segurança, serviços de água, luz, esgoto, telefone, necessidade de atendimento à saúde e aos idosos, alimentos, vestuário, lazer. Em muitas cidades brasileiras, a maioria das pessoas ainda não tem as suas necessidades plenamente atendidas e precisam se organizar e lutar para serem cidadãos”.

SHIMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos. Historiar, fazendo, contando e narrando a história, vol. 3. São Paulo: Editora Scipione, 2001, p.132.

Nicolina Luiza de Petta, historiadora:

“A idéia de cidadania está ligada à cidade. Cidadão significa tanto o habitante de uma cidade como a pessoa que tem direitos civis e políticos, ou seja, aquela que é protegida e está submetida à lei, e que tem o direito de participar da vida política.

A noção de cidadania surgiu na Antiguidade (aproximadamente há dois mil anos), quando a cidade era símbolo da unidade comunitária. Cada chefe de família de uma comunidade era dono de terras e tinha o dever de participar da vida pública e política de sua cidade. Em outras palavras, ele tinha o dever - e o privilégio - de ser cidadão.

Portanto, a palavra cidadania é derivada de cidade. É no espaço público que os que têm direito à participação política encontram-se, na Antiguidade e hoje também, para defender seus interesses e os interesses da comunidade. É por isso que, quando um grupo de cidadãos reúne-se, pacificamente, em um espaço público, para se manifestar acerca dos problemas nacionais, (...) participar de um comício ou de uma assembléia, comemorar a vitória do seu time ou participar de uma festa popular, não pode haver repressão”.

Trecho extraído do livro: PETTA, Nicolina Luiza de. A fábrica e a cidade até 1930. São Paulo: Atual, 1995, pp. 12-13.

Betinho:

“O cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade. Tudo o que acontece no mundo, seja no meu país, na minha cidade ou no meu bairro, acontece comigo. Então, eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida. Um cidadão com um sentimento ético forte e consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre mão desse poder de participação”.

RODRIGUES, Carla; SOUZA, Hebert de (Betinho). Ética e Cidadania.

Referência

BENTO, Maria Aparecida Silva. São Paulo: Ed. Ática, 1999.

DIMENSTEIN, Gilberto. Cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ed. Ática, 1998.

Folha de São Paulo - 03/12/1998 .

PETTA, Nicolina Luiza de. A fábrica e a cidade até 1930. São Paulo: Atual, 1995, pp. 12-13.

SHIMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos. Historiar, fazendo, contando e narrando a história, vol. 3. São Paulo: Editora Scipione, 2001, p.132.

SOARES, Holgonsi. Textos sobre “Direitos Humanos e Cidadania” In: http://www.cefetsp.br/edu/eso/cidadania/textoscidadania.html

SOUZA, Herbert de (Betinho); RODRIGUES, Carla. Ética e Cidadania. São Paulo: Ed. Moderna, 2000.