sexta-feira, 23 de abril de 2010

ÉTICA PROFISSIONAL E EMPRESARIAL

O sucesso consiste em não fazer inimigos.
**Max Gehringer
Nas relações humanas no trabalho, existem apenas 3 regras.
Regra número 1: colegas passam, mas inimigos são para sempre. A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano. Cinco anos depois, o favor será esquecido. Não adianta mais cobrar. Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se mantém estável, não importa quanto tempo passe. Exemplo: se você estendeu a mão para cumprimentar alguém em 1997 e a pessoa ignorou sua mão estendida, você ainda se lembra disso em 2007.
Regra número 2: A importância de um favor diminui com o tempo, enquanto a importância de uma desfeita aumenta. Favor é como um investimento de curto prazo. Desfeita é como um empréstimo de longo prazo. Um dia, ele será cobrado, e com juros.
Regra número 3: Um colega não é um amigo. Colega é aquela pessoa que, durante algum tempo, parece um amigo. Muitas vezes, até parece o melhor amigo, mas isso só dura até um dos dois mudar de emprego. Amigo é aquela pessoa que liga para perguntar se você está precisando de alguma coisa.
Ex-colega que parecia amigo é aquela pessoa que você liga para pedir alguma coisa, e ela manda dizer que no momento não pode atender. Durante sua carreira, uma pessoa normal terá a impressão de que fez um milhão de amigos e apenas meia dúzia de inimigos. Estatisticamente, isso parece ótimo. Mas não é. A Lei da Perversidade Profissional diz que, no futuro, quando você precisar de ajuda, é provável que quem mais poderá ajudá-lo é exatamente um daqueles poucos inimigos.
Portanto, profissionalmente falando, e pensando a longo prazo, o sucesso consiste, principalmente, em evitar fazer inimigos. Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos inimigos são exatamente aqueles que tem boa memória.
**Max Gehringer, é administrador de empresas e escritor, autor de diversos livros sobre carreiras e gestão empresarial, tornou-se conhecido por suas colunas em várias revistas (Você S/A, Exame, Época)
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ÉTICA PROFISSIONAL E EMPRESARIAL
Curso: TECNOLOGIA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS – UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
Prof. MARCELO ORTOLAN PAZZETTO
DOWNLOAD DAS VINTE AULAS

APRESENTAÇÃO, OBJETIVOS E PLANO DA DISCIPLINA

AULA 01

O mundo dos negócios tem mudado rapidamente e, com estas mudanças, o perfil dos profissionais também tem se alterado. Além de novas competências e habilidades, o profissional precisa ter um bom histórico reputacional, ou seja, um passado curricular de valorização da ética profissional e seus princípios. Esta disciplina é importante para contextualizar o papel dos valores morais na construção de uma carreira de sucesso. Não basta ser um bom analista, um bom gerente ou um bom diretor. É preciso conduzir os negócios e tomar decisões com lisura e valorização contínua dos bons princípios de conduta.

Esta realidade vale tanto para as pessoas (profissionais) quanto para as organizações (em especial: as empresas). A formação profissional não pode mais ignorar a relevância do comportamento eticamente responsável nos negócios, principalmente daqueles que ocupam ou ocuparão cargos de liderança. Temas como gestão responsável, governança corporativa, responsabilidade social, sustentabilidade e capital reputacional estão ganhando mais espaço nas agendas de muitas empresas. Portanto, é mais do que oportuno ter esta disciplina na grade curricular deste curso

O profissional que faz a diferença é aquele que atua de forma correta e transparente.

Durante as aulas, serão abordados temas e subtemas que produzirão pesquisas e ajudarão na reflexão e no estudo da importância da ética profissional na vida das pessoas dentro e fora das organizações ou na condução do seu próprio negócio. As aulas começarão com uma parte mais teórica, ou seja, focada no pensamento, nas idéias e nos conceitos criados por alguns dos mais influentes pensadores clássicos e contemporâneos da humanidade. Posteriormente, serão abordados temas ligados à ética profissional no universo das organizações (em especial: o universo empresarial) e no exercício das profissões.

Dessa forma, o objetivo principal é proporcionar ao discente a oportunidade de se envolver com o tema e obter as suas próprias reflexões e conclusões. Este trabalho deverá ser compartilhado com o professor e com os demais colegas, criando uma sinergia que será benéfica ao aprendizado de todos. No final das aulas, o discente será capaz de entender a importância da ética profissional na sua carreira e como isso o ajuda no fortalecimento da sua autoconfiança e do seu autoconhecimento.

Eixos principais do conteúdo

• Reflexão filosófica: capacidade para refletir acerca da importância dos valores e decisões.

• Vertentes éticas e o pensamento ético-social

• A relação entre os valores de conduta e os valores humanos

• O comportamento ético e suas implicações na carreira profissional

• A ética profissional e a educação de valores

• Normas e regras de conduta

• O capital reputacional e o fortalecimento da imagem organizacional

• A gestão responsável e a sustentabilidade nos negócios

A ÉTICA É CONSTRUÍDA COM ESCOLHAS E DECISÕES
AULA 02

Desde as coisas mais simples até às mais difíceis, não deixamos de julgar, avaliar e decidir acerca de objetos, pessoas e situações. Quando compramos uma caneta, avaliamos e procuramos escolher a melhor; quando vamos ao cabeleireiro, sempre escolhemos o que acreditamos ser o melhor corte; até as situações mais complicadas, como decidir qual o curso a fazer ou com quem nos envolver seriamente, nos colocam diante de opções. Geralmente nos perguntamos se vai ser a melhor escolha, se seremos felizes, se seremos reconhecidos pela decisão que tomamos. As decisões estão tão presentes em nosso cotidiano, que só pensamos e nos conscientizamos das mais importantes, mais sérias e decisivas, que determinarão novos rumos para nossa vida; as mais simples parecem que nem dependem de nós, como se as escolhêssemos ao sabor dos ventos, pois nem sempre estamos cientes de que decidimos a todo momento.

As decisões colocam em dúvida a nossa consciência moral, porque não sabemos se a decisão que tomaremos será a melhor. Decidimos a todo instante e viver eticamente é decidir com consciência e responsabilidade. Como não sabemos se será o melhor caminho a tomar, porque no fundo procuramos sempre a felicidade e, ao mesmo tempo, gostamos de ser reconhecidos pela decisão que tomamos, vivemos constantemente na angústia da liberdade. Queremos ser livres, mas essa liberdade de poder tomar decisões com responsabilidade nos envolve num mundo de dúvidas e incertezas. Por outro lado, não decidir, esconder-se por trás de uma aparente estabilidade que não existe na realidade - pois viver envolve decisões contínuas - é deixar de viver o "novidadeiro", é deixar de caminhar em direção ao futuro, procurando unicamente viver na dependência e na falsa tranqüilidade de uma vida estável, porque não existem riscos, dúvidas e incertezas

Viver eticamente é viver decidindo sempre em direção ao que é o melhor, procurando a todo instante a felicidade. Segundo Sócrates, só não procura a felicidade aquele que é ignorante, isto é, aquele que não sabe qual o princípio da vida virtuosa. Só aquele que possui uma conduta viciosa, um caráter desequilibrado, procura o que é o pior para si. Não tendo consciência do que deve ser deixado de lado, o homem se deixa guiar pelas paixões e pelos prazeres do mundo material.

Na Antigüidade, alguns filósofos dividiam o mundo em dois: o mundo material e o mundo das idéias. As paixões, segundo os antigos, nos arrastam para o mundo material; conjugadas à matéria, são prejudiciais ao homem e o impedem de viver com tranqüilidade na alma. Viver virtuosamente é rejeitar as paixões, ter consciência de suas próprias potencialidades e desenvolvê-las com responsabilidade.

Os filósofos gregos antigos, pertencentes ao período clássico da Filosofia, elaboraram uma imagem no mínimo curiosa para demonstrar a importância da ética e contrapô-la às paixões: contavam que as paixões se parecem a um barco em meio às tempestades; esse barco não tem rumo, ora vai para o fundo do mar, ora sobe até o pico das ondas, não tem direção, está à deriva envolto ao temporal. O que será necessário para essa embarcação encontrar o seu porto seguro? Imaginando a ética como esse porto seguro, esse barco, que representa a conduta humana, só se salvará quando recorrer à razão, condição prévia e determinante para encontrar equilíbrio e serenidade, distante das paixões. A moral dessa história é que o homem, por ser racional, deve se valer de suas potencialidades cognitivas e viver eticamente, com inteligência, sempre procurando o que é melhor para si.

A ética advém da palavra grega ethos, que significa costume, mas também possui outros significados, como temperamento, índole natural, disposições de caráter, modo de ser social e individual. As decisões que tomamos estão associadas à maneira como somos e à cultura que pertencemos. As africanas são diferentes das brasileiras, que são diferentes das francesas, e assim por diante. As culturas de cada país são diferentes e, conseqüentemente, cada região se difere uma da outra; se os costumes variam, a ética também se modifica, acompanhando o modo de ser de cada sociedade.

Algumas idéias se intercalam umas às outras, como, por exemplo, ética, cultura, costumes, responsabilidade, liberdade e autonomia. Se cada sociedade possui sua ética, os valores, sentimentos e decisões também são diferentes. Por esses motivos, podemos afirmar que a ética possui características sociais e históricas. Sociais porque cada sociedade é de um jeito, históricas porque os valores se modificam com o tempo. Os valores vigentes em épocas passadas certamente não são os nossos e, seguramente, também não serão os de nossos netos e gerações futuras. Não há modelo padrão de conduta ética predeterminada, mas orientações no sentido de agir responsavelmente e com consciência.

Esta condição se aplica, também, às organizações. Na condição de agentes pertencentes à sociedade onde estão inseridas, elas são avaliadas e julgadas pelo modo como executam as suas atividades fins.

Por exemplo, a responsabilidade social da maneira como está sendo conduzida pelas grandes empresas mundiais, como programas de preservação do meio-ambiente, prestação de serviços às comunidades, deixando de ter condutas que visam exclusivamente à lucratividade a qualquer.

preço, demonstra, na prática, o que foi escrito até aqui, ou seja, do ponto de vista mais geral, princípios éticos que deverão ser assumidos pelas empresas no mundo globalizado, para que não acabe, já tão degradado, como se estivéssemos assistindo aos filmes de ficção científica.

A ética deve ser resgatada pelas empresas, não como uma atitude "politicamente correta", de fachada, visando unicamente a aparecer para a sociedade e para os politicamente corretos como parte integrante de uma organização que pretende simplesmente substituir o pragmatismo exacerbado por uma conduta assistencialista de ajuda aos pobres. Contribuindo para a conservação do meio ambiente tão desgastado pelo desenvolvimento econômico desenfreado de tantas décadas, sem planejamento e responsabilidade, a convivência ética exige a valorização da condição humana dos países mais pobres e endividados do planeta, como sua preservação. A inclusão social dos países marginalizados pela globalização0 depende de uma nova visão de mundo e de mercado, em que estejam presentes relações solidárias, que priorizem o elemento humano e compreendam que a condição econômica deve se colocar a serviço do bem-estar individual e social e não o contrário.

O PENSAMENTO ÉTICO DOS FILÓSOFOS DA GRÉCIA ANTIGA

AULA 03

Ética e moral possuem o mesmo significado. A diferença está em que a palavra ética é de origem grega, ethos, que significa costume, e a palavra moral, de origem latina, mores, também possui o mesmo sentido. Assim, quando falamos de ética ou de moral, estamos falando acerca das mesmas idéias, porque pertencem ao mesmo campo de significação. Desde a Antigüidade, os filósofos sempre se preocuparam com a origem dos valores morais que orientam a conduta humana. A questão é saber como chegaram a descobrir a essência desses valores. Eles se perguntavam: por que preferimos alguns valores em detrimento de outros? Por que existem os que nos causam vergonha e outros são motivos de orgulho? A coragem, glória, honra, justiça... - não há quem não se admire em possuir estas virtudes. Por outro lado, a covardia, insensibilidade, avareza, vaidade, vulgaridade são valores que todos rejeitam como menos relevantes, sendo que na maioria das vezes são sinais de desprestígio.

A classificação desses valores como bons e maus dependia da visão de mundo que os filósofos possuíam e da maneira como concebiam o mundo natural. A boa conduta ou a conduta equilibrada deve se espelhar no equilíbrio natural que a natureza possui; a má conduta, ao contrário, equivale ao que está distante desse equilíbrio natural do mundo exterior.

Segundo Marilena Chauí, existem três aspectos principais no pensamento ético dos antigos filósofos: racionalismo, naturalismo e a inseparabilidade de ética e política. Para compreendermos como se relacionam esses princípios, e a maneira como determinavam a conduta moral, devemos compreender o que significam e como influenciavam os filósofos gregos antigos na formação de suas concepções éticas.

Quando falamos de Sócrates, Platão, Aristóteles, referimo-nos ao período clássico da Filosofia, à época áurea do regime democrático, do nascimento das cidades, das discussões em praças públicas, onde o cidadão discutia os interesses da cidade e os sofistas ensinavam a oratória para o cidadão defender seus interesses e o interesse comum

A cidade de Atenas (capital da Grécia) estava vivendo uma época esplêndida. É nesse contexto de desenvolvimento e transformação social, cultural e econômica que emerge uma discussão mais aprofundada acerca dos valores, que devem ser respeitados para o cidadão interagir com os outros dentro da cidade. Os filósofos gregos pensavam que os humanos são seres dotados de razão ou consciência, que nos orienta em nossas decisões e escolhas em direção ao melhor e ao encontro da felicidade. Não haveria possibilidade de reflexão acerca da vida moral, se não fôssemos racionais. Como dizia Sócrates, não basta viver simplesmente, mas para viver eticamente devemos ter consciência do sentido dos valores que norteiam a nossa conduta dentro da cidade. A existência social e individual só se constrói com consciência e respeito a nós mesmos e na convivência com os outros.

A maneira como os filósofos antigos concebiam o mundo exterior se aproximava da maneira como olhavam para dentro de si mesmos. O mundo exterior natural e o mundo interior individual se assemelham em vários aspectos. Os gregos observaram que a natureza exterior possui uma estabilidade, que os eventos naturais se repetem constantemente, como as estações do ano, o dia, depois a noite; as roseiras murcham, secam, depois florescem... - assim perceberam que há na natureza um movimento contínuo e ininterrupto. Esse mundo da repetição e estabilidade os gregos trouxeram para dentro de si; esse equilíbrio natural do mundo será o elemento determinante que regerá a conduta moral. Se a natureza possui equilíbrio, o homem também é capaz de possuir; se a natureza é harmoniosa, é possível percebê-la na convivência entre os cidadãos.

A filosofia moral não foi elaborada por pensadores egoístas, olhando para o "próprio umbigo" sem conexão com o mundo. A ética é o ramo de conhecimento dentro da filosofia que mais tem a ver com a vida prática, quer dizer, ela está associada à maneira como os cidadãos pensam sobre si próprios e a possibilidade de viverem juntos dentro da cidade apesar das diferenças sociais, econômicas e políticas, elementos constitutivos da convivência no interior da polis.

A ÉTICA CRISTÃ E A INFLUÊNCIA DA FILOSOFIA GREGA

AULA 04

A formação do pensamento ético não se constituiu apenas na Grécia Antiga ou na filosofia ocidental. Muitas contribuições importantes também vieram da filosofia oriental (budismo, xintoísmo, hinduísmo) e do pensamento cristão. A influência da religião na compreensão do comportamento ético é relevante, pois, ao lado da cultura, é o aspecto que influencia diretamente os costumes de uma sociedade.

Em qualquer manual de História, consta que a Idade Média começou no século V e terminou no século XV.

Na Filosofia, essa divisão não é tão simples, porque se considera que a Idade Média teve seu início muito tempo antes, com o advento do pensamento cristão por volta do século III a.C. A ética cristã não deixa de ser semelhante em muitos aspectos à ética grega. Os elementos que estão contidos na filosofia platônica também fazem parte da filosofia cristã: da mesma maneira que existe um mundo superior, invisível, onde está localizada a idéia do Bem, o mundo das idéias ou das essências verdadeiras, e um outro mundo, inferior, sensível, material, onde reside o engano e a ilusão. Verifica-se que os cristãos, pela filosofia neoplatônica, elaboraram suas idéias com elementos que herdaram da filosofia grega.

Não podemos perder de vista a diferença essencial entre o pensamento grego e o cristão: a filosofia grega não é cristã, porque no mundo superior não reside mais a idéia do Bem, mas acima dos dois mundos de Platão, isto é, do mundo das idéias e do mundo sensível (separado de todo o resto, inalcançável pelo intelecto, luz pura e esplendor imaterial) existe agora a idéia de Deus. Para a Filosofia grega não existe nada para além da razão; para a Teologia, ao contrário, espiritualizando a noção de razão, criou-se um Ser superior que denominaram "Deus".

Essa passagem da filosofia para a teologia aconteceu num período da história da filosofia denominado Filosofia Patrística ou filosofia dos primeiros padres, que se iniciou no final da Antigüidade por volta do século I a.C. e se findou por volta do século IV com a filosofia de Santo Agostinho. Durante quase seiscentos anos, a cultura cristã foi se desenvolvendo na área que compreende, hoje, a Palestina (Oriente Médio), numa relação de síntese e assimilação que os cristãos fizeram do pensamento grego. É importante saber que a cultura cristã começou a se desenvolver trezentos anos antes de Cristo, o que nos faz concluir que estamos falando de um Cristianismo anterior à vida de Cristo.

A filosofia grega forneceu os elementos conceituais para a elaboração da cultura cristã. Os primeiros padres gregos e latinos elaboraram sua filosofia moral pensando na relação que o homem deve manter com Deus e dessa relação entre o Criador e a criatura deriva uma noção muito peculiar de liberdade.

Encaminhemos nossa discussão agora (depois que estabelecemos a passagem da Filosofia para o Cristianismo), em direção à reflexão propriamente ética: se o homem possui responsabilidade sobre seus atos ou se Deus já predeterminou o que seremos, independente de nossas eventuais decisões e escolhas.

Se o homem não faz nada sem Deus prever os acontecimentos futuros, do que valeriam os esforços e os méritos humanos? Se não fazemos nada sem Deus querer, se somos predeterminados a ser o que Deus quer desde quando nascemos, façamos o que fizermos, coisas boas ou más, viveremos a vida que Deus nos confiou, independentemente de nossa conduta? Frente à predestinação divina, quais são os méritos que temos de realizar por meio de atos moralmente bons? Se Deus nos confiou uma vida cheia de miséria, quais são as possibilidades de alterarmos o rumo de nossas vidas? Questões como essas envolvem a reflexão moral, pois os primeiros padres se questionavam acerca do livre arbítrio humano; como pensar numa conduta responsável, livre e autônoma e, ao mesmo tempo, numa relação de submissão do homem ao Deus todo poderoso.

A cultura cristã, que se desenvolveu no final da Antigüidade pelos primeiros padres, considerava Deus superior ao homem; no entanto, não é devido a essa relação de inferioridade que o homem não possui responsabilidade e controle sobre suas ações. Embora Deus seja infinitamente superior à criatura, mesmo assim, esta última possui autonomia, porque é um ser racional, tendo a possibilidade de se aproximar ou se afastar de Deus, dependendo de suas decisões e escolhas. O que a cultura grega denomina como razão, os primeiros padres consideravam como Espírito. As nossas vontades orientadas pelo Espírito nos conduzem a Deus, por meio de atos que consideramos virtuosos. Caridade, bondade, paciência, longe de parecerem hipocrisia, na Antiguidade eram consideradas virtudes cristãs, porque agradam a Deus e nos fazem caminhar na sua direção.

Deus possui presciência, ou seja, Ele saberá, por antecipação, o que irá nos acontecer. Mesmo assim, prevendo nossas ações, ainda possuímos liberdade. Como é possível sermos livres se o nosso destino já está traçado? Como é possível sermos maus se Deus nos criou para o bem? Não é porque Deus previu que iríamos cometer atos maus que não os cometemos livremente. Para compreendermos melhor essa concepção de liberdade, devemos admitir que Deus criou a natureza humana voltada para o bem. Se Deus representa o bem, Ele não pode criar o mal. Mas se o homem faz o mal não foi por que Deus quis, mas porque, mais obstinado por sua própria malícia, apegado ao mundo material, e esquecendo-se do espiritual, a criatura se distanciou de Deus e por sua vontade própria e responsabilidade se afundou cada vez mais em sua maldade.

A criatura filho de Deus é responsável por suas próprias ações. Faz-se o bem e estará próximo a Deus, com liberdade, responsabilidade e consciência de suas ações, mas, se faz o mal, também é com liberdade e responsabilidade que se afastará dos desígnios do Criador. Deus o criou para fazer o bem, mas está sob sua responsabilidade fazer o mau. Os antigos pensadores cristãos separaram a filosofia da teologia: resguardaram a infinita bondade de Deus, que é eminentemente uma criação cristã, e diziam que o homem possui autonomia e responsabilidade sobre seus atos, que foi a maneira como os cristãos antigos assimilaram os elementos da filosofia grega para formar a cultura cristã. Deus é divino e sua natureza eterna. Ao homem cabe reconhecer que é de sua inteira responsabilidade se aproximar ou se afastar de Deus e que sua adesão a Deus se constitui não numa religião separada da realidade, transcendente, cheia de ritualismos pregados pela Igreja Oficial de Roma, mas numa convivência pacífica, com consciência tranqüila e atitude solidária, sabendo amar e respeitar os outros como a si mesmo.

AS TEORIAS ÉTICAS DE KANT E ROUSSEAU:

UMA CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA MODERNA

AULA 05

Foram vistas, até o momento, as principais características do pensamento ético clássico, por meio da filosofia ocidental grega, e, por último, do pensamento ético cristão. Muitos pontos em comum foram presenciados e observados como elementos indissociáveis da prática moral e do comportamento humano. Porém, outras linhas filosóficas surgiram na História, contribuindo para a construção do pensamento ético ao longo dos tempos. A Filosofia Moderna, por exemplo, apresentou grandes e ilustres pensadores que revolucionaram o estudo do comportamento humano com suas teorias e com seus pensamentos. Figuras como John Stuart Mill, John Locke, Descartes, Spinoza, Jean Paul Sartre, Nietzsche, Hobbes, Hegel, entre outros, tiveram (e ainda têm) uma importância muito grande nas reflexões sobre a natureza humana e o comportamento dos indivíduos na sociedade.

Nesta aula, em particular, serão abordadas as contribuições de dois dos mais importantes filósofos da era moderna: o filósofo alemão Immanuel Kant e o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau.

As referências que os autores modernos utilizam para desenvolver e elaborar suas filosofias morais são de duas naturezas: a idéia da razão ou a de Deus como norteadores da conduta ética. Talvez a maior dificuldade em compreender a Filosofia seja possuir uma visão de conjunto do pensamento filosófico. Desde o seu surgimento, a Filosofia se constitui como uma constante discussão e diálogo entre varias filosofias de todas as épocas. Kant dialogou e foi influenciado pela filosofia dos antigos, o que lhe propiciou a elaboração de uma filosofia moral que possui como fundamento a razão grega. Veremos de que maneira esse pensador alemão do século XVIII utilizou-se dessa herança para elaborar sua filosofia moral.

Para Kant, a natureza humana é egoísta, ambiciosa, destrutiva, cruel e ávida de prazeres, para cuja conquista é capaz de qualquer coisa, como matar, roubar ou mentir. Se o autor concebe a natureza humana degradada a esse ponto, o que é possível para que esta natureza se manifeste como um ser moral? Para resolver essa questão, Kant recorre à razão como o elemento que deve reger a conduta moral e conduzir a natureza humana à realização de atos moralmente bons.

O imperativo categórico kantiano (entenda como a principal posição de Kant em relação à realidade) formula-se nos seguintes termos: "age de tal maneira que o motivo que te levou a agir possa ser convertido em lei universal". Devemos compreender como razão essa denominação que Kant utiliza como imperativo categórico.

Mais adiante, o pensador alemão nos adianta que esse imperativo categórico afirma a autonomia da vontade como único princípio de todas as leis morais, sendo que essa autonomia consiste na independência em relação a toda matéria da lei e na determinação do livre arbítrio mediante a simples forma legislativa universal de que uma máxima deve ser capaz. Explicando de outra maneira, essa razão prática ou, como Kant denomina, esse imperativo categórico aparece como uma lei interna, que cria sua própria realidade e que elabora a noção de liberdade. Se esse elemento definidor da noção de liberdade existe dentro da natureza humana, ser moral se desenvolve e depende da manifestação de nossa humanidade.

A expressão da lei moral em nós é a manifestação mais alta da humanidade em nós. Obedecer à lei moral é obedecer ao mesmo tempo a nós mesmos. Seremos morais quando a idéia racional de liberdade determinar por si mesma a vida moral e, com isso, demonstrar sua própria realidade. Obedecer à lei moral que existe dentro de nós é, ao mesmo tempo, darmos a nós os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e, por isso, somos autônomos.

O que devemos fazer não se impõe a nós como imperativos que vêm de fora e nos obrigam a fazer o que não queremos. Se a liberdade nasce em nós como resultado da razão prática que possuímos, independente de leis ou regras que existem, e que existiam antes de nós, cumpri-las não é uma obrigação. A liberdade e o mundo moral são produtos da razão.

A razão que existe em nós é ponto de partida para a instauração de uma conduta ética. Saber escutar essa razão contida em nós é a possibilidade de vivermos dentro de uma convivência ética. Não há possibilidade de acontecer o contrário, isto é, de que o mundo exterior nos apresente motivos para vivermos eticamente, mas é dentro de nós que encontramos a possibilidade da construção da noção de liberdade, porque é da natureza do que Kant denominou como razão prática a criação de normas e leis que nos conduzem à construção do mundo moral.

Por outro lado, o referencial de que Rousseau se utiliza para elaborar sua teoria ética está associado à idéia de Deus e uma concepção de natureza humana, considerada, ao contrário de Kant, benevolente, cheia de bondade, voltada para o bem. O homem em seu estado de natureza, selvagem, quando ainda não vivia em sociedade, era guiado por seus instintos, possuía uma bondade natural e vivia com Deus em seu coração. Este homem selvagem não podia senão fazer coisas boas, porque quando se manifestava, fazia aparecer a bondade de Deus que estava dentro de si. Rousseau era cristão e raciocinava que Deus, sendo bom, não poderia ter criado seres humanos ruins cheios de maldades.

Esse filósofo cristão nos diz que, se homem se tornou mal, a culpa foi da sociedade que o transformou. Sua natureza desde sempre foi boa e se transformou em má. A causa não está em seu interior, mas na constituição da sociedade civil. O mundo social, a constituição do Estado, as instituições, as leis, a propriedade privada, os interesses próprios fizeram com que o homem se esquecesse de sua natureza primeira.

Essa filosofia nos faz lembrar da música de Paulinho da Viola, quando ele canta: "se o homem nasceu bom e bom ele não se conservou, a culpa foi da sociedade que o transformou".

É exatamente isso que Rousseau quer dizer quando esquecemos de Deus e nos deixamos levar pelo interesse do mundo material nos transformando em pessoas ávidas de prazeres, nos afastando do Criador.

Rousseau pretende discutir o que era natureza humana originária que precisa ser resgatada num estado de sociedade civil. O homem descobriu o fogo, a importância da pesca, o instrumento para caça e tirava da natureza todo seu alimento, fixando-se na terra. Ele tinha nessa época tudo de que necessitava para sobreviver. Este homem era dotado de perfeição, liberdade e razão. No entanto, a história da civilização (propriedades, leis e governos), do desenvolvimento da técnica, do avanço da sociedade, traz consigo a história da diferença, da desigualdade, da perda do sentido originário de natureza humana.

A conduta moral não nasce do exterior para o interior, não nasce numa sociedade em que suas instituições se manifestem superiores ao cidadão. Não há o Estado de um lado e o cidadão do outro. Rousseau não vincula a cidadania à propriedade, mas a cidadania se constrói na participação de todos, em todos os níveis de sociedade. O cidadão só é verdadeiramente livre quando obedece à lei que ele mesmo criou. Quando se volta para dentro de si mesmo, o homem se reencontra com sua natureza primeira, como Deus o fez. Manifestando-se, agindo como ser moral, não fará nada que não queira, pois agir por um dever que ele mesmo criou é viver com liberdade.

ÉTICA E RACIONALISMO

AULA 06

Na aula anterior, vimos que Kant e Rousseau, apesar de algumas diferenças de idéias, sempre tinham a razão como ponto em comum na formulação de seus pensamentos acerca da ética. Em linhas gerais, a conduta ética está muito ligada à capacidade de saber ou conhecer o meio em que vivemos, as pessoas com as quais nos relacionamos e os valores existentes dentro da cultura que conhecemos e somos influenciados

A evolução do conceito grego de filosofia está associada à razão e, sendo a ética uma teoria que nasce dentro da filosofia, ela não se sustenta teoricamente se não possuir a razão como base filosófica. A ética e a razão constituem a reflexão moral porque ambas possibilitam o questionamento acerca da essência dos valores que orientam as ações humanas.

Aristóteles dirá que a razão educa o caráter, orienta a vontade em direção à felicidade. Sem razão, o homem possui uma vontade desequilibrada, mal-educada. A ética é a sabedoria prática porque se refere à ação e possui como finalidade a vida virtuosa. Decidir em direção ao melhor deve possuir como pressuposto essa razão ou sabedoria prática que nos auxilia em nossas escolhas. O equilíbrio de nossas paixões só é alcançado possuindo como pressuposto esse aspecto racional que nos orienta à conduta virtuosa: "a importância dada por Aristóteles à vontade racional, à deliberação e à escolha o levou a considerar uma virtude como condição de todas as outras e presente em todas elas". A vontade racional é livre e ética. É somente com liberdade que o sujeito pode usufruir a convivência pacífica entre as pessoas, aceitando voluntariamente as regras com que ele próprio contribuiu para ser elaboradas.

Os filósofos antigos consideravam o mundo ordenado e em constante movimento. O mundo ou o Cosmos era dotado de equilíbrio, de estabilidade e os eventos que ocorriam na natureza eram repetitivos, como o dia, a noite, ou a sucessão do tempo.

Eles perceberam, também, que, além de a natureza possuir essa previsibilidade, também estava em constante mudança, como o quente, o úmido, o molhado, o seco, e chegaram à conclusão de que os humanos também possuem movimento e que podem permanecer em equilíbrio se espelhando ao equilíbrio natural do mundo exterior.

Se o mundo possui harmonia e estabilidade, apesar dos movimentos entre os contrários, o homem também pode possuir. A ética como uma teoria que propõe o equilíbrio de nossas paixões é derivada do equilíbrio natural que o mundo possui. "A vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (Cosmos) e com nossa natureza (nosso ethos), que é a parte do todo natural." Os filósofos antigos elaboraram a teoria ética a partir da interpretação que faziam do mundo natural.

A razão, neste contexto, produz a capacidade de observar, analisar e julgar coisas e pessoas sob a ótica do comportamento ético. As vertentes éticas, por exemplo, foram criadas pela interpretação dos filósofos sobre a conduta das pessoas frente a determinadas situações. É evidente que tais vertentes não se traduzem em verdades absolutas ou visões inquestionáveis. Como já foi visto, os valores comportamentais podem mudar com o tempo e as opiniões acerca deles também. Além disso, a ética carrega, no seu campo de estudo, múltiplas interpretações sobre o que é ou não um comportamento moral ou imoral. Assim, existem algumas vertentes éticas, elaboradas por alguns dos grandes pensadores da humanidade, que sintetizam os comportamentos de acordo com a complexa natureza humana. Vejamos:

• Ética da conveniência: este tipo de comportamento ético está ligado ao oportunismo vivido pelas pessoas. O grande ponto está na apropriação, momentânea, de valores que não fazem parte da formação de caráter e índole da pessoa, ou seja, ela se torna ética por um interesse particular e não pela sua verdadeira integridade moral.

• Ética da consciência: este tipo de comportamento está ligado à razão e à capacidade de conhecer a si mesmo. Segundo os pensadores, a consciência é o principal julgador dos nossos atos. Quem já não ouviu a célebre frase: “sua consciência está pesada”? Com exceção das pessoas que possuem graves distúrbios psíquicos ou mentais, a razão sempre nos leva a saber o que estamos fazendo ou quais as conseqüências de nossos atos.

• Ética da virtude: este tipo de comportamento está ligado à bondade e ao desejo de fazer o bem comum. A virtude está na prática de valores como compaixão, solidariedade e justiça. O bem é o caminho para a felicidade da alma, segundo os antigos pensadores.

• Ética da responsabilidade: este pensamento ético está ligado à qualidade de sermos responsáveis pela necessidade de respeito aos nossos valores de conduta. Neste caso, segundo os antigos pensadores, o indivíduo responsável não trai os seus valores devido à convicção de que eles são fundamentais para a sua existência tanto material quanto espiritual.

Todas estas vertentes éticas têm componentes racionais. O racionalismo está presente na interpretação das atitudes e na execução dos comportamentos. Não dá para se afastar da razão quando o assunto é a ética. O ser humano é o único ser vivo dotado de razão ou inteligência (capacidade cognitiva). Por isso, a produção de julgamentos ou avaliações do comportamento humano só é possível pela razão.

Aristóteles, em Ética a Nicômaco, trata esta questão pelo prisma da ignorância humana. Para ele, é inaceitável afirmar que um ato realizado por compulsão ou pela chamada ignorância seja um ato involuntário do indivíduo. Ademais, pensamos que ações involuntárias são dolorosas e aquelas que gratificam os apetites, prazerosas. E, por outro lado, qual diferença há no que tange ao seu caráter involuntário entre atos errados cometidos deliberadamente e atos errados realizados na ira?

Ambos devem ser evitados. E, adicionalmente, pensamos que as paixões irracionais fazem parte da natureza humana tanto quanto a razão. De sorte, as ações realizadas a partir da ira ou do desejo também são pertinentes ao ser humano que as realiza. É, portanto, estranho classificar essas ações como involuntárias.

RAZÃO, DESEJO E VONTADE

AULA 07

Já estamos familiarizados com alguns conceitos que demonstram como a teoria ética se constrói. Sabemos que razão e ética são necessárias para a elaboração da filosofia moral. Quando acrescentamos aos conceitos de razão e ética a noção de vontade, teremos vontade livre, condição necessária para a conduta moral. A vontade equivale à noção de liberdade. Lembra-se da idéia de equilíbrio? Pois bem, quando a vontade racional é livre, ela é ao mesmo tempo equilibrada. A razão é o elemento essencial que educa a vontade, orienta-a em direção ao bem e faz com que mantenha o equilíbrio, fazendo com que a conduta humana não exceda os limites determinados pela razão. No campo cristão, a razão auxiliada pela graça orienta a vontade em direção a Deus. Para os filósofos antigos, a razão é o elemento indispensável para a constituição da conduta moral.

A vontade livre e racional controla a natureza humana passional e desejante, propensa à satisfação dos desejos. Desejar é querer o inominável, é querer a satisfação imediata e o prazer imediato. O desejo não suporta o tempo. Se desejo fumar, do ponto de vista do meu desejo, não importa onde esteja, o que importa unicamente é a minha satisfação. O desejo não consulta o mundo moral. A razão e o desejo não se combinam; o primeiro censura e determina limites para o segundo, como a permissão de se fazer o que se quer, onde fazer, quais as circunstâncias e o que é permitido ou não fazer. Sendo a razão, o meio pelo qual o sujeito possui consciência de suas ações, o desejo, é "colocado na linha" pela razão, devendo consultar o mundo moral para saber onde e como satisfazê-los.

A razão não só censura o desejo, como também orienta a vontade para a prática de uma conduta responsável. O livre-arbítrio depende da vontade e da razão, porque, segundo os filósofos gregos, a liberdade diz respeito à vontade, e o arbítrio é produzido pela razão. A razão arbitra a vontade e a orienta em direção ao bem. No entanto, o livre-arbítrio não é a mesma coisa que liberdade. Esta última só se realiza quando o livre-arbítrio ou vontade livre segue seu destino e caminha em direção à noção de Bem. Para os filósofos cristãos, a vontade realiza o seu destino caminhando-se em direção a Deus. Tanto gregos quanto cristãos privilegiam a razão como elemento essencial para a educação da vontade. Lembre-se que o mundo é ordenado e, para permanecer assim, a vontade orientada pela razão dever seguir seu caminho natural e aderir ao universal.

A vontade racional que não segue seu caminho natural, porque está ligada ao mundo material, à paixão, aos desejos errantes, não cumpre a finalidade de seu ser. A vontade que não deseja esse movimento em direção ao mundo superior se distancia do todo e se volta para o mundo material. No campo da conduta moral, esta vontade que privilegiou o mundo material e não o espiritual é uma vontade má que não se conduziu conforme sua natureza. Não realizando a natureza de seu ser, não se constitui propriamente como vontade, porque não cumpriu sua finalidade: trilhar o caminho em direção ao Bem. Desse ponto de vista, o mal é ausência de ser da vontade, pois ela perde sua vitalidade e seu movimento ascendente. O mal é contrário à natureza humana. A vontade má muda de foco e não prefere mais se voltar para o mundo invisível e superior. Mas, também, a alma humana, como o lugar da vontade, será conduzida para o mundo material e se desviará do bem como decisão da vontade má.

A conduta ética se elabora com decisões e vontades de caminhar em direção ao Bem e nunca o contrário. Aquele que ignora o bem possui uma conduta viciosa, pois não tem consciência moral. Seus sentimentos e valores vacilam no momento de decidir em direção à felicidade. Somente a vontade racional, que opta livremente em aderir ao bem, se realiza plenamente como conduta ética.

Portanto, a consciência moral está na convicção de que a felicidade depende da realização do Bem. Como já dito, o ser humano escolhe pela razão ou pelas circunstâncias. O animal irracional escolhe pela necessidade de sobrevivência ou pela ameaça. A virtude ética, assim, está em fazer o bem pela liberdade de escolha e não pela conveniência. Não é legítimo afirmar que você agiu de forma ética ou antiética porque não tinha outra escolha. A vontade não pode ser controlada de forma alheia.

Na vida profissional, objeto desta disciplina, muitas vezes o indivíduo se depara com situações embaraçosas, em que o dilema ético está presente. Muitos escolhem a preservação do emprego ou uma melhor imagem junto à chefia ou liderança como o caminho mais adequado. Isso é pura conveniência. O desejo e a vontade podem ser outros, mas a situação falou mais forte do que a convicção. Esta realidade acomete muitas pessoas na tomada de decisões nas organizações empresariais. Como lidar com esta situação? Nas próximas aulas, serão abordados temas que ajudarão na reflexão sobre a relação entre ética e vida profissional e os desafios existentes.

A RAZÃO E A CONSCIÊNCIA MORAL NO CAMPO PROFISSIONAL

AULA 08

Vimos, até o momento, o desenvolvimento da ética no universo da complexa natureza humana. Este trabalho se completa quando o assunto entra no universo da vida profissional, ou seja, no campo do exercício laboral ou na prática da conduta no trabalho. A razão, aqui, está ligada à própria natureza do trabalho. A busca por resultados, a definição de metas e objetivos, a escolha de estratégias de trabalho, a realização de planejamentos, dentre outras questões, estão diretamente ligadas à capacidade racional das pessoas. O desejo e a vontade de obter sucesso determinam, na maioria das vezes, os caminhos que o profissional percorre em busca de seus objetivos.

Mesmo com a afirmação filosófica de que a razão censura o desejo, não é possível separar este sentimento da capacidade racional. A vontade e o desejo não dependem somente das ações diretas do indivíduo. Mesmo gozando de um importante status social, político ou econômico, o indivíduo depende de outros fatores externos para alcançar os seus objetivos. Na vida profissional, esta realidade pode ocasionar muitos desvios de conduta que acabam colocando em xeque a reputação do agente causador. Isso pode arruinar a carreira ou abalar a estrutura de valores da pessoa.

Elizete Passos afirma, neste contexto, que a ética surge como um abrigo protetor para os seres humanos, não por sua costumeira tradução de normas de conduta, mas, principalmente, porque instiga o ser humano a pensar, a refletir sobre si e sobre o mundo. Esta condição é fruto da razão da qual todos nós somos portadores. Conhecer a si mesmo, como apregoou Sócrates, é condição fundamental para avaliarmos a nossa consciência e a nossa razão. Jamais saberemos avaliar uma conduta ética sem sabermos o que somos.

A conduta ética pressupõe consciência moral e esta, por sua vez, constitui-se de valores (honra, integridade, generosidade), sentimentos provocados pelos valores (admiração, vergonha, culpa, amor, dúvida), e decisões que conduzem a ações e com conseqüências para nós e para os outros. Ser um profissional responsável requer um conhecimento a priori dos valores, sentimentos e decisões que constituem a conduta adequada para cada profissional. Quando pensamos no trabalho, muitas vezes nos esquecemos de que o trabalhador que está à nossa frente e de quem dependemos naquele momento é antes de tudo uma pessoa que possui valores e sentimentos, determinantes para a condução responsável de suas decisões.

A construção da consciência moral não acontece da mesma forma para todo mundo. Ela não é uma teoria ou abstração que possui modelos e regras que, quando cumpridas, fazem-nos ser pessoas conscientes.

Não há um caminho único a seguir conhecido previamente, muito menos receitas para se constituir como uma pessoa ética. A consciência moral não se constrói na teoria, mas depende das experiências humanas.

A consciência moral está associada à maneira como compreendemos e lidamos com a imprevisibilidade das situações que acontecem e que não temos condições de prefixar. As situações que ocorrem no dia-a-dia e que não conhecemos porque não sabemos ao certo como e quando, com que intensidade irão acontecer dependem de nossas decisões à maneira como iremos conduzi-las. Desde as coisas mais corriqueiras, como acordar, decidir sair de casa ou ir para o trabalho tornam necessário que tomemos decisões para que não interrompamos o fluxo natural da vida.

Quando decidimos, fazemos isso por inteiro, nossos valores e sentimentos estão presentes e são solicitados no momento de nossa decisão. A admiração, a vergonha, a culpa, a dúvida vacilam, porque constituem as decisões que tomamos numa determinada circunstância e o fato de duvidarmos se será ou não a decisão mais acertada ou se seremos reconhecidos favoravelmente pelos outros, ou se prejudicaremos alguém, faz com nossa decisão seja na maioria das vezes temerosa, mas, ao mesmo tempo, responsável.

Quando nos deparamos com um profissional consciente de sua atividade e realizando-a com satisfação, sabendo sua importância para a sociedade, estamos diante de uma pessoa que soube o que quis. "Só os atos decidem do que se quis" ou "Ninguém é mais que sua vida". Frases como essas, que pertencem ao existencialismo francês da primeira metade do século XX, demonstram a responsabilidade do que decidimos e escolhemos fazer voluntariamente e que nos constituem, ao mesmo tempo, como médico, engenheiro, eletricista, carpinteiro, barbeiro, administrador, contabilista... Do ponto de vista moral, segundo os filósofos antigos, como Aristóteles, Sócrates, somos o resultado do que fazemos e o que fazemos depende de nós.

"Em todos esses sentidos persiste a idéia de força, de capacidade. Em moral, a virtude do homem é a força com a qual ele se aplica ao seu dever e o realiza

A virtude é a permanente disposição para querer o bem, o que supõe a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação". O profissional consciente de suas funções é considerado como virtuoso, pois sabe desenvolver bem suas potencialidades. No entanto, para desenvolvê-las bem, deve saber que estão dentro de si próprio as respostas sobre a melhor decisão a tomar.

O caminho que deverá ser percorrido para se constituir como um profissional virtuoso deve passar sempre e invariavelmente pela consideração do outro. Não se vive eticamente sozinho. O sentimento de alteridade, o respeito à vida humana e a consciência de que nossas decisões nunca são independentes da consideração que devemos ter do outro são quesitos indispensáveis para a construção de um profissional feliz e responsável pela atividade que desenvolve e da sua contribuição para o bom desenvolvimento social.

A ÉTICA PROFISSIONAL E A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL

AULA 09

A consciência moral é o instrumento principal da razão como mecanismo de avaliação do comportamento social e profissional de cada pessoa. Em linhas gerais, só sabemos o significado de nossos atos e de nossas atitudes pela zona da consciência. Fora disso, tudo fica sem respostas claras e convincentes. Em sã consciência, o indivíduo sabe de suas obrigações e responsabilidades. É evidente que muitas coisas precisam ser informadas e transmitidas de modo a atingir as pessoas dentro da sua capacidade de absorção e aprendizado. Qualquer ensaio ou discurso sobre a responsabilidade ética precisa, obrigatoriamente, iniciar pela responsabilidade individual.

A transformação deve começar pelo indivíduo. De nada adianta falar ou profetizar pela responsabilidade organizacional ou pelo compromisso coletivo se o foco não estiver direcionado à consciência do indivíduo. O ser humano só entenderá a importância da boa conduta se os valores morais da virtude (do bem) fizerem parte da sua individualidade. A analogia pode ser feita pela construção de uma casa, por exemplo. O indivíduo sempre será o alicerce, ou seja, a base. Se estiver frágil, as paredes e o teto não se sustentarão. Assim é a responsabilidade individual. A ética profissional só terá sentido e será legítima se os valores de conduta do indivíduo estiverem acima dos resultados e da própria profissão.

Neste contexto, é preciso ressaltar que a ética profissional não se aprende quando se escolhe ou se exerce uma profissão. Em primeiro lugar, a ética e a conduta moral não são disciplinas escolares feitas para compor grades curriculares de cursos fundamentais, médios ou superiores. A conduta profissional e a consciência moral são atributos inerentes à essência de formação do indivíduo. O que existe, no caso do exercício de uma profissão, é a ocorrência de situações que nos provam e nos trazem à necessidade de escolher os caminhos a percorrer.

Nunca é legítimo transferir a responsabilidade individual para outro. Mesmo que a pessoa tenha agido sob pressão ou sob circunstâncias extremamente complexas, o ato individual será sempre preservado.

A responsabilidade individual precede todas as responsabilidades que façam parte de uma organização ou de um agrupamento social. Se o assunto da moda é a sustentabilidade ambiental do planeta, por exemplo, não será possível entender o fenômeno se não entendermos a essência de cada indivíduo e a sua interação com o meio onde vive. O papel das ciências humanas, tendo como expoentes a Antropologia, a Psicanálise, a Psicologia, a Sociologia e a Filosofia, para ficarmos apenas em algumas, é fundamental para se alcançar algumas explicações sobre o comportamento das pessoas diante de determinadas situações de escolha, mesmo que isso seja demasiadamente complexo.

Os dilemas da vida sempre existirão. A transformação individual é o principal passo para a evolução contínua do comportamento humano. Por mais difícil que seja defender esta tese, a verdade é que a educação de valores só tem sentido se for feita pela razão. O estado equilibrado da consciência é importante para sabermos as causas e os efeitos das nossas escolhas. O certo e o errado podem ser relativos como a própria ética. No entanto, tudo isso só será verdadeiro se o indivíduo tiver conhecimento de si mesmo, ou seja, da sua própria essência.

Ao entrarmos na esfera profissional, a reflexão é a mesma. Independentemente da profissão escolhida, a responsabilidade individual é mais importante do que qualquer descrição de cargo ou função. Todos nós temos direitos, obrigações e deveres como cidadãos. No entanto, as obrigações estão ligadas às responsabilidades das mais diversas naturezas. Sempre será importante promovermos reflexões sobre as nossas condutas e sobre o nosso papel como profissionais e cidadãos.

Para Glock e Goldim (00), a fase da escolha profissional, por exemplo, já deve ser permeada por reflexões. A escolha de uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la o conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Geralmente, quando você é jovem escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que está prestes a assumir, tornando-se parte daquela categoria que escolheu.

Toda a fase de formação profissional e o aprendizado das competências e habilidades referentes à prática específica numa determinada área devem incluir a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Ao completar a formação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício.

Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar ou paralelamente aos estudos e inicie uma atividade profissional sem completar os estudos ou em uma área que nunca estudou, aprendendo na prática. Isto não exime você da responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade! O fato de uma pessoa trabalhar numa área que não escolheu livremente, o fato de “pegar o que apareceu” como emprego por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade remunerada na qual não pretende seguir carreira, não a isentam da responsabilidade de pertencer, mesmo que temporariamente, a uma classe, tendo deveres a cumprir.

Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar de almoxarifado durante o dia e, à noite, faz curso de programador de computadores, certamente estará pensando sobre seu futuro em outra profissão, mas deve sempre refletir sobre sua prática atual.

De todo modo, qualquer profissão legalmente reconhecida exigirá, mais cedo ou mais tarde, uma certa maturidade ética do profissional. Isso o acompanhará sempre. A responsabilidade individual é o conhecimento e a prática dos valores morais como deveres e como condição para a sustentabilidade da carreira. Para um indivíduo que deseja e quer ser bem sucedido profissionalmente, a boa conduta não pode ser um ato de conveniência. É preciso que esteja sempre presente nas decisões, mesmo que a complexidade da situação seja maior do que se imagina.

A ética profissional sempre será fundamental para o sucesso de qualquer indivíduo no exercício de qualquer profissão. Mesmo com a existência de códigos de conduta, criados e instituídos pelas classes profissionais, a ética profissional não pode ser normativa em todas as circunstâncias. O profissional deve, sim, conhecer e respeitar o código de conduta da classe à qual pertence, mas não pode se tornar refém de normas como instrumentos de punição ou de julgamento moral.

A CULTURA DE VALORES E A INTEGRIDADE PROFISSIONAL

AULA 10

Na aula anterior, vimos que a ética profissional está diretamente ligada à essência da responsabilidade individual como condição principal para o desenvolvimento da conduta humana sob o prisma da avaliação moral. Neste contexto, a integridade profissional, vista por alguns como algo difícil de se reproduzir e por outros como indispensável para a sustentabilidade de qualquer carreira, ganha espaço na construção da chamada cultura de valores. Esta cultura tem como principal característica a priorização contínua dos valores de boa conduta como alicerce da perenidade organizacional.

Os valores transitam por toda a parte dentro e fora dos domínios organizacionais. A sua fragilização também faz este percurso, ou seja, os desvios de conduta diante de dilemas éticos realizam este movimento na interação da organização com seus ambientes interno e externo.

A cultura de valores e a crise ética

Uma crise ética se manifesta pela sucessão de escândalos e de desvios de conduta, tendo como agentes corruptos e corruptores. Tanto no mundo político-partidário quanto no mundo dos negócios, a crise ética acontece em escala sistêmica, ou seja, é originada por uma estrutura que envolve várias pessoas em uma atuação muitas vezes estruturada. Esta crise torna-se mais visível à medida que as notícias e informações chegam com maior fluidez às casas e aos ambientes organizacionais.

Será que vivemos uma crise ética jamais presenciada pela humanidade? Para muitos especialistas e estudiosos do tema, o que acontece é uma exposição mais crescente dos fatos diante da sociedade. Não é possível afirmar, com segurança que o mundo está mais podre do que antes.

Para um profissional, independentemente da profissão ou do cargo ocupado, ter provações morais diante de escolhas e decisões sempre será a oportunidade para construir a sua integridade pessoal. Não é legítimo trabalhar com o conceito de reserva moral, ou seja, eu sempre atuei corretamente e, agora, eu posso errar eticamente diante de uma decisão muito difícil.

Esta opção não condiz com a verdadeira essência da integridade profissional. Não é possível ser um pouco ético ou exercer a chamada ética da conveniência (vista na aula 06) por muito tempo. Para quem deseja ter uma carreira de sucesso e ser reconhecido pelos bons e ótimos resultados e pelo exemplo de integridade profissional, os valores de boa conduta não podem ser usados como armas secretas em situações embaraçosas ou de oportunidade única.

É muito claro que ser idôneo e atuar com lisura, principalmente em situações de comando, é um exercício complexo no ambiente de negócios. Todavia, esta necessidade é fundamental em um mundo onde os maus exemplos mostram que as grandes conquistas profissionais podem ser esquecidas ou ofuscadas por uma crise de valores morais que pode destruir uma carreira em questão de minutos. Aqui, a ética profissional não é um assunto da moda. Muito mais do que isso, a integridade profissional deve ser preservada como um item de diferenciação na evolução e no desenvolvimento de qualquer carreira.

Porém, é possível afirmar que os fatos estão mais visíveis do que antes. Esta realidade traz a impressão de que os atos imorais estão acontecendo em um nível mais elevado do que antigamente. Em alguns lugares, isso pode até ser verdade. Entretanto, a exposição maior de organizações e pessoas tem contribuído bastante para que os atos antiéticos e ilícitos sejam revelados com maior freqüência.

De todo modo, a crise ética está aí. A cultura de valores parece que está perdendo a guerra para a turma do mal. Esta percepção não é gratuita. Diante disso, é seguro afirmar que é cada vez mais arriscado atentar contra a integridade profissional no âmbito dos negócios. A credibilidade, a confiança e a segurança nos relacionamentos são indispensáveis para quem quer brilhar no exercício de qualquer profissão.

A crise ética não acontece por acaso

Provavelmente, você já deve ter ouvido falar ou ter lido sobre os sete pecados capitais. Todos eles podem ser uma fonte de produção dos desvios de conduta. A crise ética sempre é motivada, em primeiro lugar, pelo excesso de individualismo. Isso marca muito o sentido egoísta de quem só quer vantagem para ele. A crise ética não acontece por acaso. Nos bastidores dos desvios de conduta, sempre há o interesse no bem-estar próprio, mesmo que isso vá prejudicar uma, duas, três ou mais pessoas.

Para os nossos olhos e ouvidos, como receptores dos acontecimentos, é difícil acreditar, por exemplo, que uma pessoa é capaz de desviar recursos públicos para a educação ou saúde em benefício próprio, que uma pessoa é capaz de vender segredos industriais para empresas concorrentes ou que uma pessoa é capaz de adulterar componentes químicos de medicamentos impulsionada por um ato de vingança.

Estes exemplos, entre inúmeros outros mais graves ou menos graves (não importa), não acontecem por acaso. Seja por impulso (ato emocional) ou por planejamento (ato racional), o desvio de conduta sempre é alimentado por um desejo muitas vezes distante do real ou por uma vontade que não pode ser materializada pelo caminho correto e virtuoso. De qualquer maneira, a casualidade da crise ética está no enfraquecimento dos valores morais entre as pessoas e entre as organizações. A cultura de valores que é e está baseada no “tudo pelo resultado” mata, a cada dia, qualquer esperança de que o mundo mudará para melhor.

O importante, no entanto, é acreditar que é possível mudar o curso dos acontecimentos. Ser ético é uma questão de escolha e não depende de formação acadêmica ou capacitação profissional. Demorar em obter os melhores resultados por ter escolhido o caminho mais longo e virtuoso não é uma atitude de um idiota ou de um louco. É a atitude inteligente de quem terá uma vida de sucesso mais longa e promissora.

O COMITÊ DE ÉTICA E A SUA IMPORTÂNCIA NA POLÍTICA DE GESTÃO
RESPONSÁVEL DA ORGANIZAÇÃO

AULA 11

Nesta aula, o centro das atenções será o comitê de ética. Este comitê tem a responsabilidade principal de gerir as questões que envolvam o comportamento moral dos integrantes da organização. Em linhas gerais, o comitê de ética, também chamado de comissão de ética ou grupo de conduta, é composto por representantes de algumas áreas da organização, destacando-se o departamento jurídico, por tratar de questões legais, o departamento de recursos humanos, por tratar das próprias pessoas que fazem parte do quadro de funcionários, e o departamento financeiro, por tratar de questões relativas ao dinheiro que, em boa parte dos casos, é o motivo central das denúncias enviadas ao comitê.

Em algumas poucas empresas, por exemplo, existem comitês que convidam representantes dos clientes, fornecedores e comunidades para participarem das reuniões de trabalho. Segundo a direção dessas empresas, esta é uma forma de mostrar a total transparência da empresa na relação com seus públicos, mesmo que as questões em pauta não os afetem. Neste contexto, o comitê tem uma natureza mista, ou seja, é composto por pessoas de diversas áreas organizacionais e, em alguns casos, por pessoas de fora da organização.

O comitê de ética possui algumas responsabilidades que estão diretamente ligadas à preocupação da empresa com a lisura dos negócios e com a integridade do ambiente de trabalho. As responsabilidades são as seguintes:

• receber e analisar as denúncias de desvios de conduta enviadas pelos funcionários, preservando a identidade do(s) denunciante(s)

• manter sigilo absoluto sobre os casos apresentados durante os trabalhos de análise e averiguação

• definir a medida punitiva do(s) denunciado(s), que pode ir desde uma simples advertência até a demissão por justa causa com execução judicial

• colaborar com a divulgação das informações sobre os procedimentos administrativos relacionados à conduta do indivíduo dentro da empresa ou a serviço da empresa

• participar diretamente da elaboração do código de conduta da organização

• promover alterações no conteúdo do código de conduta sempre que necessárias

• comunicar as alterações realizadas no código de conduta a todos os funcionários diretos e indiretos da organização

• auxiliar na realização de eventos (palestras, workshops, seminários, etc.), para os funcionários, sobre a conduta ética nos negócios

• manter um canal direto de comunicação com as lideranças da empresa para saber como as regras de conduta estão sendo seguidas pelas equipes de trabalho.

Todas estas responsabilidades precisam estar alinhadas com a política de gestão responsável e de pessoas da empresa. De nada adianta o comitê de ética funcionar como um grupo de investigação policial. Na verdade, a sua existência precisa ser marcada pelo caráter mais educativo e menos punitivo. É evidente que o fórum é para punir, quando necessário, mas isso não pode ser a essência principal de funcionamento e de organização do comitê.

Para que o comitê de ética tenha maior legitimidade perante os funcionários, é importante que um representante da associação, do grêmio ou um representante direto da maioria funcional seja membro do comitê. Muitas vezes, se constitui um comitê de ética somente com diretores e conselheiros da empresa. A política de gestão eticamente responsável precisa transitar por toda a estrutura organizacional. Esta preocupação é importante para que se saiba que o trabalho do comitê é feito de maneira imparcial e sem excesso de subjetividade na análise dos casos.

A transparência das intenções da organização em manter um relacionamento ético depende do cuidado, monitoramento e estratégia de fomentar seus valores morais com os seus públicos. A criação de grupos de profissionais, com a função de encaminhar questões éticas originadas de dentro da instituição, é essencial para a manutenção e avaliação constante do código de conduta, para monitorar até que ponto seus valores estão sendo vivenciados dentro e fora da empresa. A comunicação eficiente dos valores e crenças da empresa passa necessariamente pelo seu aprendizado e aceitação voluntária de todos. A adoção de condutas responsáveis deve constituir a cultura da empresa.

O monitoramento para observar se essas regras são vividas deve ser uma preocupação constante dos comitês de ética constituídos por profissionais previamente selecionados e preparados pela empresa

A atualização do código de conduta, já mencionada anteriormente, é de responsabilidade desse comitê. A imagem sincera de uma empresa responsável depende desse trabalho específico de análise e auditoria que não está comprometido com delação e punição de condutas desviantes, mas com a manutenção de um bom ambiente de trabalho. Esses comitês são importantes para identificar as responsabilidades da organização, como seu empenho em promover ações sociais que resultem no bem-estar de todos

A organização deve cuidar da formação moral de seus funcionários, fornecendo-lhes meios para que também possam se manter atualizados para avaliar a qualidade de uma intenção e conduta que não condizem com a finalidade ética da empresa. O respeito, a consideração, o companheirismo devem ser agregados a esse comitê para também exigir o mesmo em relação aos seus pares.

Portanto, a análise de casos, discussões a respeito de situações que envolvem crises de relacionamento, o redimensionamento dos conflitos internos, das condutas desviantes, a condução de casos de corrupção, alcoolismo ou drogas, assédio sexual, assédio moral, etc. devem ser administrados com isenção e responsabilidade, por pessoas preparadas, conscientes de suas funções. Os comitês de ética são importantes para conduzir com justiça e imparcialidade, fornecendo justificativas para a punição daqueles que as merecerem justamente, por violação e desrespeito ao ambiente de trabalho e aos valores que foram elaborados e aceitos por todos dentro da empresa.

Estas observações são pertinentes ao bom e exímio funcionamento do comitê de ética. Sua existência deve colaborar para a preservação dos valores organizacionais em todos os níveis hierárquicos e em todas as relações de negócio. A conquista de uma boa reputação e a construção de uma imagem organizacional positiva precisam ser os alvos principais das empresas que desejam prosperar de maneira contínua e sustentável. É evidente que o comitê de ética é apenas um item a ser bem trabalhado neste processo de valorização da boa conduta nos negócios. No entanto, a sua existência, ancorada em um trabalho sério e feito de maneira imparcial, é de grande relevância para o amadurecimento dos valores morais dentro e fora da organização.

UMA POLÍTICA DE GESTÃO RESPONSÁVEL SE CONSTRÓI COM VALORES FORTES

AULA 12

Na aula anterior, vimos que a comissão de ética possui importantes responsabilidades na construção de um ambiente organizacional eticamente responsável. No entanto, a simples existência de um comitê de ética não garante à organização ser um exemplo de cuidado com os bons princípios éticos e com a boa conduta moral. As práticas de negócio e a cultura organizacional precisam ter valores morais incorporados em todas as ações empreendidas e nos relacionamentos da organização com os seus ambientes interno e externo. Esta condição não se consegue facilmente. É preciso vontade para mudar e bastante determinação para enfrentar os desafios de uma gestão responsável e identificada pelo compromisso com a sustentabilidade. Esta questão é encarada como desafio pela própria natureza do mundo dos negócios. Em uma arena de competição cujo lucro financeiro é o principal objetivo, como condição principal para o fomento da existência empresarial, atuar dentro dos parâmetros legais e dos princípios eticamente responsáveis implica em enfrentar barreiras que não são fáceis de ser ultrapassadas. Nesta realidade, os valores morais possuem um papel muito relevante. Algumas empresas européias, por exemplo, criaram, além dos comitês de ética e dos códigos de conduta, o cargo de deontologista. O profissional que ocupa este cargo, muitas vezes com formação em Filosofia ou Sociologia, tem a responsabilidade principal de estabelecer e gerenciar padrões de conduta que zelem pelos valores morais estabelecidos na missão ou na carta de princípios éticos da empresa. É verdade que esta novidade representa um avanço no campo do comportamento empresarial, mas não deixa de ser uma questão que pode causar muitos debates entre as pessoas. Primeiro pela visão de que a responsabilidade ética é dever de todos e, segundo, porque os valores precisam fazer parte da estrutura de decisões das áreas, o que dispensaria a existência de um profissional para cuidar deste processo.

De todo modo, o deontologista marca o início de uma nova era no mundo dos negócios: a era da gestão responsável. Para as empresas que querem prosperar de forma segura e com boa margem de credibilidade, o investimento na educação de valores de seus funcionários, com repercussão direta na cadeia de relacionamentos, é fundamental. O chamado capital reputacional é composto pelos valores organizacionais ligados à boa postura nos negócios. A importância deste capital, em empresas que valorizam a gestão responsável, está no mesmo nível de prioridade que os demais tipos de capitais. Neste caso, valores como: transparência, responsabilidade, veracidade, lealdade, etc. estão em sintonia com as práticas de gestão da organização.

É verdade que são poucas as organizações empresariais que podem afirmar, com segurança, que possuem este estilo de gestão. As empresas de capital aberto (que possuem ações negociadas nas bolsas de valores) são mais fiscalizadas neste sentido, pois precisam prestar contas de forma mais transparente tanto para os órgãos regulamentadores e fiscalizadores quanto para os acionistas e investidores. Nos Estados Unidos, a Lei Sarbanes Oxley tornou mais rigorosa a fiscalização dos documentos contábeis e financeiros das empresas que operam com papéis na bolsa de Nova Iorque, estipulando regras de controle contábil mais rígidas.

Para muitas pessoas, entretanto, existe uma enorme incompatibilidade entre negócios e princípios éticos. Ao pegarmos detalhes das operações de muitas empresas, é grande a chance de vermos muitos desrespeitos aos clientes e consumidores, descumprimentos de normas legais, violação das leis trabalhistas, atentado contra o livre comércio, concorrência desleal, vantagens econômicas com políticas de preços abusivas, uso político para obtenção de vantagens concorrenciais, etc. Estas ações de desvio de conduta têm seu preço. Depois dos escândalos corporativos que marcaram a história capitalista norte-americana, envolvendo gigantes como Enron, Worldcom, Tyco e Arthur Andersen, além de alguns exemplos na Europa, envolvendo a Parmalat e o Grupo Cirio (ambos na Itália), os olhares sobre as empresas mudaram.

A composição dos ativos das companhias passou a ter o capital reputacional como um dos principais elementos de formação do valor de mercado. Este capital não é contabilizado financeiramente, mas forma o grau de confiança que a empresa possui perante os seus públicos. Todos os demais ativos dependem, de uma forma ou de outra, da sólida formação do capital reputacional. Ter um histórico reputacional negativo não é interessante para quem quer se diferenciar no mercado. Mais do que uma obrigação para muitos, a cultura de valores morais precisa fazer parte do cotidiano das empresas em todas as operações mercadológicas. Neste sentido, uma política de gestão responsável se constrói com valores fortes. Seguir à risca o conteúdo da missão, primar pelas boas práticas de gestão desde as ações mais simples até as mais complexas sinaliza a construção de um ambiente de negócios mais seguro e promissor.

Tudo isso não pode ser confundido como oportunidade de mercado. A ética empresarial vai muito além de movimentos da moda. Ter valores morais na cultura organizacional é fundamental para a formação das pessoas como agentes de transformação dentro das empresas e não como executores de ações eticamente responsáveis por conveniência.

Esta afirmação precisa ser bem entendida pelos dirigentes das empresas. Estes têm um papel relevante na construção de uma cultura de valores morais que seja cultivada por todas as áreas da organização. Os gestores precisam se comportar como educadores e instrutores das boas práticas de gestão. Os bons hábitos e os bons costumes não podem ser esquecidos quando o assunto é conseguir metas mais ambiciosas ou objetivos mais complexos. Mesmo diante das dificuldades maiores existentes em caminhos mais longos, os valores morais não podem ser esquecidos em benefício do “tudo pelo resultado”.

É bom lembrar que o risco embutido neste tipo de comportamento pode ser grande, dependendo da magnitude do desvio de conduta praticado. A exposição maior das companhias diante da mídia e da opinião pública e perante os acionistas e investidores é um facilitador para a descoberta de fatos desagradáveis à imagem organizacional. Portanto, é sempre oportuno conduzir as práticas de gestão com o máximo de cuidado e com a atenção redobrada. A confiança e a credibilidade geradas pela qualidade do negócio significam mais sucesso em tempos de aumento acirrado da concorrência. Pode apostar nisso!

A ÉTICA PROFISSIONAL NA ERA DA TRANSPARÊNCIA

AULA 13

Construir uma carreira de sucesso não é uma tarefa fácil, pelo menos para a maioria das pessoas. Não existe uma fórmula mágica e nem um segredo infalível. O que existe são características comuns na vida de quem brilha profissionalmente. No universo das profissões, a capacidade de se relacionar bem é muito importante. Conquistar o respeito e a admiração das pessoas é algo fundamental para a sustentabilidade de uma carreira repleta de bons resultados. Esta capacidade só se concretiza se a pessoa jogar limpo nos seus relacionamentos, ou seja, tratar as questões de forma transparente e bem clara. Isso depende qual posição você ocupa na empresa ou de a qual área você pertence. O bom relacionamento interpessoal é a chave para uma ascensão profissional sustentável. Para isso, torna-se inevitável a apreensão dos valores morais nos relacionamentos. A ética profissional se faz com atitudes e bons princípios de conduta e não com ensaios de bastidores. O indivíduo precisa ter a consciência de que os atos falhos ou que representem desvios de conduta podem comprometer a sua carreira em muitas direções. Neste contexto, a ética profissional não é uma coisa que está longe da realidade organizacional. Pelo contrário, pois a postura diante dos relacionamentos e da busca pelos resultados sempre determinará o nível de sucesso de qualquer ação desenvolvida.

Esta afirmação não será jamais gratuita. Muitos casos históricos de desvios de conduta profissional foram manchetes de jornais e revistas de negócios. A maior parte envolveu altos executivos que comandavam centenas ou milhares de pessoas e eram responsáveis diretos por grandes projetos industriais e comerciais. Um dos casos mais emblemáticos foi o que envolveu o ex-diretor de compras globais da General Motors: José Ignacio López de Arriortúa.

Este ex-executivo da GM foi acusado de levar segredos industriais para a Wolkswagen (empresa que o contratou após a sua saída da GM. Este episódio gerou um grande imbróglio e indisposição corporativa entre a GM e a Volkswagen. Muitos processos judiciais foram desencadeados e José Ignacio foi demitido do seu cargo de executivo da montadora alemã.

Além deste caso, outros ocorreram em escala global. Casos sobre assédio moral, assédio sexual, violação dos direitos humanos, espionagem industrial, corrupção administrativa, e outros mais abalaram a imagem de muitas organizações. Nada que se constitua em fatos inéditos no mundo dos negócios. Porém, estas sucessivas ocorrências vêm acendendo a luz amarela nos corredores de muitas empresas. Preservar uma reputação sem ranhuras e uma imagem sólida passou a ser obrigatório na gestão de muitos homens de negócio.

Mais do que um compromisso, o comportamento ético passou a fazer parte da agenda de planejamento de muitas empresas. No Brasil, esta constatação vem se materializando, com mais intensidade, após a abertura do mercado à competição internacional. Respeitar os princípios éticos e manter uma produção sustentável e limpa, por exemplo, passaram a ser pré-requisitos para se fechar negócios no cenário externo. Exigências como essas contribuem para que o comportamento das pessoas e a conduta organizacional mudem com o tempo. É claro que existem outros fatores que precisam ser analisados, mas a cobrança e a fiscalização de quem compra são peças importantes neste jogo de relacionamento e intercâmbio comercial.

Dessa forma, pode-se dizer que o cultivo dos bons princípios relacionados à ética profissional é parte integrante da chamada era da transparência. Aqui, mais do que uma questão de obrigatoriedade, a ética profissional deve fazer parte da cultura de valores da mesma forma que as estratégias de mercado fazem parte da gestão do negócio. O mega-investidor Warren Buffett, por exemplo, disse uma vez: “Se você perder dinheiro da empresa ao tomar más decisões, serei compreensivo. Se perder a reputação dela, serei implacável". Esta afirmação, vinda de um magnata do mercado financeiro, demonstra muito bem o momento vivido pelas organizações. Diante de um mundo cada vez mais interconectado, fica muito mais difícil manter uma estrutura de operação eticamente irresponsável por muito tempo.

A era da transparência pode ser considerada uma espécie de revolução de valores, ou seja, um movimento que passa a ganhar força à medida que o jogo limpo (fair play) se torna um diferencial competitivo. Neste contexto, a integridade profissional e a boa conduta corporativa são elementos de primeiro escalão nas tomadas de decisão. Não que aqui temos uma verdade distante dos nossos olhos e ouvidos, mas uma realidade que somente os visionários saberão interpretar. Assim, a ética profissional precisa ser tratada como um forte componente de formação das pessoas dentro das organizações. Uma questão de aprendizagem organizacional, mas, acima de tudo, uma questão de valorização contínua das pessoas.

O mais interessante, neste cenário, é que as pessoas saibam fazer o que melhor sabem fazer de forma responsável, segura e com credibilidade. Os bons princípios de conduta não podem ser parte de um documento de intenções. Se existir códigos de conduta, comitês de ética ou cartas de bons princípios, os valores organizacionais precisam freqüentar os ambientes da mesma forma para todos e com a mesma importância em qualquer área ou espaço de atividade. Atuar com responsabilidade ética e transparência promove avanços no conceito de empregabilidade.

Na construção de uma carreira que colecione várias conquistas, ser portador de novas competências e habilidades é um diferencial, principalmente se atender às exigências do mundo corporativo global. Porém, o fator comportamental é tão relevante quanto os fatores técnicos e gerenciais. A empregabilidade de quem valoriza a boa conduta é mais consistente e mais resistente a turbulências e a mudanças que ocorram no mundo dos negócios. É certo que isso não se reproduz em todos os lados do mundo. No entanto, as economias mais modernas e os centros mais avançados estão bem sintonizados com esta realidade. Isso faz com que a formação educacional e cultural dos futuros profissionais, principalmente daqueles que serão preparados para ocupar cargos de comando nas empresas, tenha em seu conteúdo aulas de filosofia, sociologia, ética, cidadania e comportamento organizacional.

Estas pessoas precisam entender que o mundo dos negócios não se desenvolve fora da sociedade e muito menos distante dos preceitos legais. A ética profissional precisa ser entendida como um fator crítico de sucesso e a transparência como um mecanismo de garantia para a efetivação de bons negócios. Com esta consciência e com este grau de discernimento, os bons profissionais não serão aqueles que conseguem realizar bons negócios com altas taxas de lucratividade, mas aqueles que conseguem fazer isso com a segurança de que faz porque é competente e responsável.

GESTÃO POR VALORES (GPV) E A INFLUÊNCIA NO COMPORTAMENTO
ÉTICO DO PROFISSIONAL

AULA 14

Na aula anterior, a ética profissional foi abordada juntamente com a chamada era da transparência. Nesta aula, será trabalhada a influência da chamada Gestão por Valores (GPV) no comportamento ético do profissional dentro das organizações. Antes de dar início a este assunto, é importante deixar claro que técnicas de gestão, modelos de negócio, estilos de administração e ferramentas de aprendizagem ajudam bastante no desenvolvimento comportamental dos indivíduos nas organizações. Porém, a essência principal do caráter e da índole é exclusivamente íntima, ou seja, cada pessoa já traz, de fora, esta estrutura de valores de uma formação cultural, instrucional e educacional iniciada no núcleo familiar.

De todo modo, os valores organizacionais e as lideranças de cada área, setor ou equipe podem ajudar na ampliação do entendimento de que a ética é condição fundamental para o sucesso de cada profissional que entra para os quadros da organização. Esta responsabilidade dos gestores leva à construção de um melhor relacionamento interpessoal na empresa e à edificação de um ambiente organizacional mais saudável e mais sustentável. Neste sentido, o comprometimento entre os membros da equipe passa a ser maior e a confiança entre as pessoas passa a ser mais presenciada.

Mas, afinal, o que vem a ser Gestão por Valores? De acordo com Dolan & Garcia , a Gestão por Valores, conhecida pela sigla GPV, é uma “nova” ferramenta estratégica organizacional que vem se tornando, de forma rápida, um condutor confiável do aprendizado na direção do desenvolvimento de uma cultura sustentável, competitiva e mais humana. A GPV pode ser definida tanto como uma filosofia gerencial quanto como uma prática por meio do qual o foco é mantido nos valores essenciais de uma organização e nos seus objetivos estratégicos.

Esta abordagem, ainda segundo os autores, concentra-se em três domínios baseados em valores:

1) econômico-pragmático,

2) ético-social e

3) emocional e de desenvolvimento.

A GPV reconhece que a essência da verdadeira gestão organizacional sempre caracterizou-se pela consideração dos valores humanos. Quando há uma referência direta à dimensão humana, irremediavelmente chegamos à dimensão ética. Esta ligação é complexa, mas essencial para a composição de uma gestão corporativa sustentável. A GPV surge como uma ferramenta de trabalho que se bem administrada gera muitas transformações positivas.

Para uma organização que preza a qualidade dos seus relacionamentos e a eficácia e eficiência dos seus negócios, a GPV é indispensável. Por meio dela, a empresa, por exemplo, consegue dimensionar melhor o seu campo de atuação, ou seja, define melhor o seu papel no cenário econômico, político e social. Esta condição é essencial para a busca e a conquista de um melhor espaço no competitivo jogo do mercado. A GPV, se bem realizada, gera maior confiança dos públicos nas decisões e no modo como a empresa administra seu negócio.

Uma empresa que se identifica e preserva os seus valores vai mais longe. Neste caso, os valores morais não são adotados apenas como arsenal para se usar em tempo de crises. Eles existem como parte da cultura e da crença de uma organização. Acreditar na importância dos valores é indispensável para a construção de uma história reputacional positiva. Esta crença deve se materializar em atitudes e resultados. As boas práticas de conduta ou de ética profissional são originadas por atitudes do bem (virtudes). Os resultados alcançados, na sua maioria, são frutos de uma crença que gera valores por meio da própria experiência adquirida.

Para Dolan & Garcia , uma atitude é conseqüência dos valores e normas que a precedem. É também uma tendência/fator de avaliação, positiva ou negativa, de outras pessoas, ações, eventos, coisas, etc. Nossas atitudes refletem como nos sentimos em relação a alguém ou a algo e antecipam nossa tendência de agir de determinada forma. Por exemplo, ter uma atitude positiva em relação a um emprego específico ou em relação a uma decisão gerencial na área de vendas. As atitudes do bem são sempre precedidas da confiança e da crença de que o melhor a fazer é ser fiel aos princípios básicos de conduta presentes na missão ou na declaração de valores da organização.
Esta afirmação dos autores ilustra bem toda a influência da Gestão por Valores. Para profissionais que almejam alcançar resultados que o tornem sinônimo de empregabilidade, a ética profissional é um aprendizado contínuo. Não que se ensine ética nas instituições de ensino, pois esta disciplina não é ensinada. Ela é transmitida de modo a promover reflexões sobre o comportamento das pessoas na vida em sociedade. A experiência acumulada ao longo da vida, sim, ensina que optar pelo caminho do bem é sempre garantia de vitória no final. Esta filosofia é o lema da ética profissional na gestão da profissão e dos negócios.

Assim, a Gestão por Valores (GPV) se desenvolve nas empresas como uma ferramenta de grande valia estratégica. Ela consegue, simultaneamente, gerar maior valor agregado e trabalhar com variáveis que são primordiais para o sucesso organizacional. Variáveis como:

a) crenças e valores do fundador,

b) crenças e valores da atual administração,

c) crença e valores dos funcionários,

d) a legislação existente,

e) as regras do jogo em mercados específicos,

f) os valores sociais predominantes na sociedade e

g) as tradições e cultura de cada sociedade.

Dessa forma, a GPV consegue unir o útil ao agradável, ou seja, melhora os indicadores de desempenho do negócio sem se descuidar dos valores organizacionais relacionados a uma gestão mais ética e responsável.

A INFLUÊNCIA DAS LEIS NA MUDANÇA COMPORTAMENTAL
DAS PESSOAS E DAS EMPRESAS

AULA 15

Esta é uma aula para tratar da relação entre o comportamento ético das empresas e a legislação. Pois bem, foram abordadas, nas aulas anteriores, várias características da relação entre a ética, o profissional e as organizações. Porém, um aspecto muito importante ainda não foi abordado: a influência da legislação sobre o comportamento das empresas. Este tema, de uma forma geral, é polêmico. No Brasil, em especial, associar a proteção da lei aos direitos das pessoas e das organizações é uma tarefa extremamente desafiadora.

Na verdade, houve avanços nos conteúdos de muitas leis brasileiras (com exceção de algumas relíquias jurídicas). O que não houve foi a evolução da justiça brasileira no mesmo ritmo. Muitos casos de corrupção, improbidades administrativas, excesso de burocracia, conluios administrativos, leis ultrapassadas, entre outros, levaram a justiça nacional a uma descrença generalizada. Por conta disso, movimentos pela modernização do aparato legal brasileiro surgiram ou surgem por todas as partes do Brasil. Isso abrange todos os tipos de justiça, indo da civil à trabalhista.

Esta realidade complica a situação do país, gerando empecilhos e atrasos que colocam em xeque o próprio desenvolvimento e crescimento da nação. Simultaneamente a isso, existe a falta de confiança na estrutura judiciária. Falar que a lei contribui para a educação das pessoas no que se refere às obrigações, direitos e deveres é uma meia verdade no Brasil. Isso se dá pela ineficiência do sistema judiciário e pela falta de moralidade, principalmente quando o dinheiro passa a ser a moeda de troca entre a condenação e a liberdade.

Para muitos, a corrupção é sistêmica devido ao envolvimento da própria estrutura judiciária nos esquemas ilícitos que afrontam qualquer princípio de cidadania e integridade moral.

De todo modo, a lei possui, sim, uma grande influência no comportamento de pessoas e organizações. Isso ocorre com mais intensidade quando o passivo legal pode afetar o lado financeiro. Como exemplo, é comum citar o caso da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança nos automóveis. Antes da lei, muitas pessoas não o utilizavam.

Após a obrigação legal do uso, o cinto passou a ser um item de segurança indispensável para motoristas e passageiros, o que tornou a utilização um hábito para a maioria das pessoas. No caso das empresas, a criação do Código de Defesa do Consumidor (CDC), instituído pela lei Nº .0, de de setembro de 0, estabeleceu um novo patamar de relacionamento entre empresas e consumidores.

A partir do advento deste código, os consumidores passaram a ter um instrumento de proteção legal. É evidente que muitas empresas continuam desrespeitando os direitos dos consumidores, mas é inegável que muita coisa mudou nas próprias estruturas de funcionamento do mercado. Foram criados serviços de atendimento ao consumidor (SACs) como células exclusivas, centrais de atendimento com foco em especialidades (para dar maior agilidade na relação com o consumidor) e canais exclusivos de relacionamento por meio de diversas tecnologias de comunicação.

A lei, neste caso, obriga o cumprimento dos contratos formais de venda e define quais são os direitos, deveres e obrigações das partes envolvidas no negócio. No entanto, a eficácia da lei precisa estar associada a outros fatores como: ) maior fiscalização governamental, 1) investimento em canais de informação e orientação destinados às pessoas desprovidas de recursos com qualidade para alcançar um melhor conhecimento e uma melhor interpretação das leis, 2) maior investimento na formação cultural e educacional básica da sociedade como condição principal para a geração de consumidores mais conscientes, etc.

Estes fatores ajudam a fazer das leis um instrumento de proteção social. Muitas conquistas da sociedade vieram pela promulgação de leis que colaboraram para mudanças importantes na vida dos cidadãos. Sem entrar no mérito da incredulidade quanto às leis no Brasil, ou com relação ao poder judiciário, é fundamental salientar que o aparato legal é um dos caminhos que podem ajudar na mudança de comportamento de pessoas e organizações. Mais do que um debate ideológico ou político, a influência das leis na construção de uma sociedade mais civilizada passa, inevitavelmente, pela importância de se andar na legalidade.

Agir embaixo do respaldo de que em “terra de cego quem tem um olho é rei” ou “faço isso porque andar direito não compensa em um país que não é sério” só contribui para o aumento da desordem e da fragilidade do tecido social. É claro que o excesso de burocracia estatal ou o grande emaranhado tributário são fatores que estimulam a ilegalidade. Todavia, isso deveria servir como motivo para uma melhor organização da sociedade em prol da construção de um país mais justo e com mais oportunidades de inclusão social e econômica para seus habitantes.

Sem querer gerar um debate mais caloroso sobre culpados e vítimas, é necessário afirmar que o alcance de um patamar mais elevado de comportamento moral depende, e muito, do respeito às leis. Para isso, é fundamental que as leis tenham, de fato, uma função pública e uma natureza de proteção social e o poder judiciário trabalhe a serviço da justiça e da sociedade. Estas duas necessidades precisam caminhar juntas. As leis não podem existir para benefício de poucos.

A justiça não pode trabalhar em benefício de poucos. Esta é a única lógica que deve ser aceita em uma sociedade que precisa prosperar e se desenvolver de maneira sustentável.

Neste contexto, o caráter educativo e informativo da lei precisa ser mais explorado nas instituições de ensino e nas organizações de um modo geral. A cidadania e a responsabilidade social só terão legitimidade pública se forem baseadas no respeito às leis e no compromisso com os valores de boa conduta. Assim, é correto afirmar que as leis influenciam o comportamento das pessoas e das organizações somente em cenários onde a prosperidade está longe das facilidades e dos conluios amigáveis.

A evolução dos padrões éticos não acontece distante das leis. Porém, os homens que criam as leis não podem usá-las como instrumentos das suas necessidades ou das suas vontades. A estrutura legal existe para garantir a ordem e a civilidade para todos, independentemente da posição social, econômica ou política de cada pessoa. A ética profissional, tema desta disciplina e parte integrante da grade curricular deste curso, só terá funcionalidade se respeitar normas e regras que estejam ligadas à preservação dos bons princípios de conduta no exercício de cada profissão. Portanto, é oportuno afirmar que a lei precisa ser cumprida, mas é preciso reforçar que ela só será legitimada se proteger o tecido social (as pessoas) em seus direitos, deveres e obrigações e contribuir para uma educação de valores que ajude a sociedade a evoluir moral e eticamente.

VALORES HUMANOS NO TRABALHO:

UMA QUESTÃO DE COMPROMISSO ÉTICO PROFISSIONAL

AULA 16

Sempre que dissertamos ou discursamos sobre ética e moral, nos deparamos, inevitavelmente, com o fator humano e suas relações interpessoais. A subjetividade, ou seja, os aspectos individuais de cada sujeito, está totalmente presente na análise do comportamento de cada pessoa. Os valores humanos parecem esquecidos nas organizações, principalmente nas empresariais? A resposta para esta pergunta pode ser mais facilmente respondida por alguns e mais dificilmente respondida por outros.

De todo modo, a queixa é grande. Muitas empresas não possuem uma política de gestão do capital humano que tem um foco no bem-estar físico e mental das pessoas ou no respeito aos direitos trabalhistas, por exemplo. Esta realidade contribui para o aumento substancial do passivo trabalhista, acarretando desgastes na imagem corporativa e uma diminuição dos resultados referentes aos indicadores de desempenho da força de trabalho.

As boas práticas de conduta devem iniciar-se pelo próprio território. O respeito às pessoas, a relação de confiança entre os pares, o diálogo contínuo entre as equipes, a manutenção do foco nos valores morais da organização e a valorização da diversidade no ambiente de trabalho são alguns dos fatores fundamentais para o fortalecimento dos valores humanos nas empresas.

A relação entre a cultura de valores éticos e a dimensão humana é bem estreita. Para uma empresa, a política de valores deve ser identificada pela boa qualidade no relacionamento com as pessoas. Esta realidade só acontecerá se os dirigentes da organização trabalharem com determinação e pulso firme na condução de uma política de conjunção entre os princípios éticos e a gestão de pessoas.

Dessa forma, a responsabilidade individual passará a “conversar” com a missão organizacional, o que acarretará em resultados sustentáveis em médio e longo prazos.

Em um ambiente de trabalho, por exemplo, a confiança é um elemento muito importante para que os objetivos sejam alcançados. Sem confiança, as estratégias esmorecem diante da ausência do espírito colaborativo. O’Donnell afirma que alguns comportamentos reduzem, de forma sistemática, a confiança:

• Preocupação mais voltada para o próprio bem-estar do que para os acontecimentos do trabalho: a preocupação exclusiva com o próprio bem-estar, sem a valorização do bem-estar dos outros e nem da empresa, é o retrato de uma pessoa egocêntrica que pode, inclusive, agir de forma antiética para defender os seus próprios interesses.

• Emissão de mensagens confusas que impedem a compreensão do receptor: a falta de comunicação clara, a omissão de fatos para evitar comprometimento com a proposta ou a tarefa, as atitudes emocionais, sem ouvir os fatos antes de decidir, e a apresentação constante de desculpas, sem assumir responsabilidades, geram o caos na comunicação e extermina a confiança.

• Fugas sistemáticas das responsabilidades: a pessoa que foge quando as coisas não vão bem deixa de receber e de merecer o reconhecimento de seus colegas.

• Conclusões precipitadas sem a verificação dos fatos: o julgamento das situações com base em poucas evidências circunstanciais afasta as pessoas. Quem procede assim não percebe que parar e pensar é uma arte que requer desapego, além de visão ampla e prática. O autocontrole produz, invariavelmente, maior compreensão. Com objetividade e calma, é possível reconhecer verdades que nem sempre estão aparentes à primeira vista.

• Reações como apresentar desculpas ou culpar colegas quando os projetos fracassam: desculpas são formas de mentir para nós mesmos. Cedo ou tarde, elas se voltam contra nós. A confiança naquele que não assume suas responsabilidades é quase impossível.

Neste sentido, as relações de ou com confiança são o termômetro do clima ético dentro da organização. Se os valores humanos são desprezados ou despedaçados pela visão cega de quem quer vencer somente pela arrogância dos números, as chances do ambiente organizacional ser pobre de harmonia e colaboração são bem maiores. Não pode haver nada mais terrível do que um clima organizacional desprovido de uma proteção moral. Com um cenário de desvalorização das boas práticas de conduta (da ética profissional), principalmente pelo comportamento daqueles que decidem, os tempos de turbulência serão mais comuns e abundantes.

A conquista de uma boa reputação não pode ser uma questão de conveniência. Estas conquistas devem ser uma questão de sobrevivência diante das mudanças que estão ocorrendo no mundo. É evidente que isso se refere às organizações que querem continuar existindo, mas com qualidade e excelência. O compromisso ético, aqui, está incorporado na cultura de valores como ferramenta estratégica para se buscar a sustentabilidade das boas práticas de gestão.

Diante dessa afirmação, os valores humanos não podem ser coadjuvantes da história organizacional, mas atores importantes em todas as decisões que envolvam a gestão do capital humano. Os benefícios serão muitos e bastante diversificados. No caso das empresas, por exemplo, pode haver:

· Conquista do respeito não só dos clientes e consumidores, mas, também, da sociedade.

· Maior rentabilidade, especialmente no longo prazo.

· Atração e retenção de talentos profissionais.

· Obtenção de mais investimentos graças à confiabilidade.

· Sintonia e sinergia entre os projetos da empresa e os projetos de vida dos funcionários.

O que se vê é uma necessidade que ultrapassa qualquer aposta tendenciosa. O recado é claro, ou seja, a prosperidade das organizações está completamente ligada à capacidade de fazer negócios de forma responsável. É lógico que parece que as coisas estão mais na retórica do que na prática, o que não é mentira. Porém, as organizações que adotarem práticas de gestão com este perfil, rompendo barreiras de incredulidade e desconfiança, largarão na frente. O real compromisso empresarial com o negócio é aquele que consegue prosperar com as mãos, a cabeça e os olhos voltados para os valores humanos. Fora disso, tudo é hipocrisia e discurso barato.

DAS PESSOAS AOS PROCESSOS:

A IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA E OS PADRÕES ÉTICOS

AULA 17

A ética profissional tem uma ligação muito estreita com o comportamento dos indivíduos na realização de suas atividades. Esta afirmação é visível nas relações entre as pessoas, passando pelas rotinas básicas e indo até a execução de processos mais complexos. Em tudo que se refere à dimensão humana, os valores morais estão, de uma certa forma, presentes. Isso fica claro na avaliação que sempre fazemos das pessoas com relação à conduta apresentada em determinada situação.

No caso das empresas, em especial das que possuem o capital aberto, a necessidade de ter e manter padrões éticos em suas práticas de gestão e em seus processos operacionais é cada vez maior. Diante disso, algumas áreas, temas e profissões ganham maior destaque no mercado corporativo. Você já ouviu falar e/ ou já leu sobre governança corporativa? E sobre compliance? E sobre uma posição que está em franco crescimento no mercado: relação com investidores? Pois bem, estes temas nunca estiveram tão presentes na agenda das empresas como nestes últimos tempos. Todos eles têm em comum a importância da adoção dos princípios éticos na gestão do negócio. Esta condição está presente na definição das estratégias corporativas diante de mudanças que estão acontecendo na regulação dos mercados de investimento e de capitais. A governança corporativa vem ganhando força depois dos escândalos corporativos contábeis ocorridos nos Estados Unidos e Europa. Sua aplicação está ligada às boas práticas de gestão ancoradas na transparência e na igualdade de tratamento entre os acionistas da empresa. Para uma empresa de capital aberto, torna-se mais do que fundamental ter e respeitar normas de conduta perante o mercado. Para isso, é preciso que a cultura de valores da empresa chegue como prática em todos os cantos da organização.
Neste contexto, a governança corporativa é uma prática que ganha status estratégico. A área de relações com investidores (RI), ligada à área financeira, é a responsável direta pelo desenho e execução das boas práticas de governança. Em linhas gerais, a governança corporativa tem como finalidade disciplinar a gestão da empresa, ou seja, promover comportamentos profissionalizados, sérios e que respeitem os valores de boa conduta na condução do negócio.

Ao respeitar as normas e valores de conduta, a empresa consegue criar um ambiente organizacional mais seguro e resistente a turbulências vindas de fora. Como assim? A gestão responsável é aquela que analisa e estuda todas as possibilidades e os prováveis impactos que possam surgir na execução de uma atividade. É o tipo de gestão que mantém uma abertura de diálogo com todas as partes envolvidas e que possam sofrer os efeitos negativos das ações ou da tomada de decisão.

É evidente que muitos problemas são imprevisíveis ou nunca imaginados em decorrência de uma ação A, B ou C. Todavia, a empresa que mantém uma gestão responsável tem muito mais chances de solucionar os imprevistos sem maiores conseqüências do que aquelas que não têm. Isso é possível graças a uma disciplina maior e mais rígida diante das normas de conduta. Não importa se a empresa é vulnerável diante de fatos incontroláveis ou de algo que foge do alcance dos gestores e de seus subordinados. O que importa é a valorização dos padrões éticos como parte da cultura organizacional mesmo em situação de bons e ventos e ótimas colheitas.

Para uma gestão moderna, ou seja, composta com o que há de mais avançado em termos de ferramentas e estratégias organizacionais, os valores de conduta são tão importantes quanto a sua capacidade de inovar e conseguir excelentes resultados. Neste caso, o padrão de excelência só se sustentará por mais tempo se tiver alimentado por uma exemplar disciplina de valores em todas as fases do negócio. Mas o que é uma exemplar disciplina de valores? No mundo dos negócios, a junção de fatores éticos com a natureza mercadológica sempre foi espinhosa.

Entretanto, algumas empresas, regidas pela crença de seus fundadores ou pelo legado de seus principais executivos, sempre marcharam contra esta realidade. É verdade que não existe empresa com um nível perfeito de eticidade. O que existe são empresas que tentam implantar uma disciplina de valores que busca sempre respeitar as normas e regras comportamentais como fatores críticos de sucesso. Longe de serem boazinhas ou éticas por natureza, estas empresas não querem correr o risco de enfrentar uma grave crise de imagem ou uma turbulência reputacional.

O desejo maior delas é continuar fazendo negócios com segurança e dentro dos padrões éticos e legais. Para isso, a disciplina das equipes e das áreas precisa ser regada todos os dias. As boas práticas de governança corporativa devem focar este aspecto com bastante força. Dessa forma, a empresa conseguirá mais confiança e maior confiabilidade dos seus públicos. Esta é a principal chave para o sucesso em tempos de grandes e constantes mudanças.

A relação entre os princípios éticos e o mundo das finanças não é nada fácil. Muitas têm sido as queixas de clientes sobre as agruras do sistema bancário e do mercado financeiro brasileiros. Para se obter maiores lucros e atingir metas ambiciosas, muitos agentes atuam em nome da imoralidade e, muitas vezes, da ilegalidade para obter êxito nas suas estratégias. Claro que isso não pode ser aplicado a todas as organizações financeiras, mas é um lugar comum em boa parte delas. Mudar esta história tem sido a luta de algumas entidades que pertencem ao mercado financeiro ou ao mercado de capitais brasileiro, onde se destacam o Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (IBEF - www.ibef.com.br), a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN - www.febraban.org.br), a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC - www.apimec.com.br) e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Arruda define algumas virtudes que ajudam a moralizar a relação entre os agentes financeiros e os seus públicos:

prudência econômica: uso do dinheiro como instrumento e não como um fim último.

sinceridade e lealdade: salvaguarda do patrimônio do cliente, em termos reais. Informação certa, clara e pontual.

Austeridade, sobriedade, discrição, mansidão e clemência: equilíbrio e moderação no trato com os recursos de terceiros e garantia de boa administração dos bens que são confiados aos gestores do negócio.

Estas virtudes podem ser complexas em cenários de ganhos de escala com maior magnitude, mas são indispensáveis para quem deseja prosperar sem maiores riscos. Por tudo isso, a governança corporativa, aliada ao cultivo dos padrões éticos desde a gestão de pessoas até os processos operacionais, veio para ficar como ferramenta estratégica de gestão. Tanto em empresas familiares quanto em sociedades anônimas, a sua importância é inquestionável. Para isso, basta ter uma exemplar disciplina de valores e tudo correrá com mais segurança e responsabilidade.

A RESPONSABILIDADE SOCIAL É UMA JUNÇÃO DE OUTRAS RESPONSABILIDADES

AULA 18

Até o momento, muitos assuntos foram abordados nesta disciplina sobre os preceitos básicos e principais da ética profissional. A preocupação com os valores de conduta envolve muitas responsabilidades dentro da organização. Estas responsabilidades estão ligadas às pessoas, aos processos e às atividades da empresa. Quando falamos sobre responsabilidade social, por exemplo, estamos nos referindo ao papel social que a empresa deve ter na sociedade e em seu próprio território. No entanto, o compromisso socialmente responsável só se legitimará se for precedido por outras responsabilidades da empresa. Isso compreende as dimensões econômica, política, ambiental e social nas quais a empresa está inserida. Vejamos:

responsabilidade legal: respeitar e cumprir as leis (compliance) é uma obrigação que deve ser praticada pelas empresas. Mesmo que haja contestação sobre o conteúdo e os efeitos da lei, ela deve, uma vez promulgada, ser respeitada no exercício das atividades de negócio. É sabido que muitas leis emperram as atividades da organização ou as oneram demasiadamente. Porém, o corriqueiro descumprimento pode gerar sérios problemas que resultam em passivos legais que podem, por sua vez, inviabilizar projetos de negócio da companhia e afetar a imagem organizacional.

responsabilidade trabalhista: respeitar e cumprir contratos e acordos trabalhistas deve ser uma prática constante da empresa. Mesmo que haja contestações, a organização precisa manter uma comunicação aberta com os funcionários e sindicatos. Este comportamento gera mais confiança e abre caminhos para soluções mais rápidas ou para acordos que beneficiem as partes envolvidas. Um elevado passivo trabalhista só prejudicará mais os resultados do negócio.

responsabilidade tributária e fiscal: em um país onde a carga tributária é elevada e repleta de gargalos legais, é bastante difícil avançar com investimentos e com planos de negócio que gerem riqueza para o país. O chamado “Custo Brasil” é terrível e desanimador para quem deseja investir e contribuir com os indicadores de desempenho econômico do país. Todavia, o não pagamento dos tributos e o não recolhimento das contribuições e taxas pode se tornar um caminho mais perigoso para quem tem a consciência de que a solução mais inteligente não é o “calote”, mas a pressão por mudanças no sistema arrecadatório oficial e por uma racionalidade tributária e fiscal efetiva no país.

. ponsabilidade ambiental: com o aumento dos debates e da pressão sobre empresas e governos com relação ao aquecimento global, a responsabilidade ambiental entrou na agenda das companhias como um compromisso moral que precisa ser efetuado. Esta responsabilidade está ligada à dimensão legal (legislação ambiental), à dimensão econômica (geração de riquezas por meio da exploração sustentável ou não dos recursos naturais) e à dimensão social/humana (impactos na qualidade de vida das pessoas). O desrespeito às leis ambientais e a contribuição efetiva para o aumento do chamado passivo ambiental caracterizam um duplo atentado contra a sociedade em todos os níveis sociais e econômicos.

• responsabilidade ética: o compromisso com os valores morais e com as normas de conduta definidas pela organização são fundamentais para a construção de um ambiente organizacional sustentável. A responsabilidade social só tem sentido se for alicerçada pelo compromisso ético com todos os públicos (stakeholders). Esta deve ser a premissa básica da prática socialmente responsável.

• responsabilidade econômica: não praticar concorrência desleal, não colocar no mercado produtos falsificados, não ludibriar o consumidor com informações falsas sobre o produto, não maquiar produtos para obtenção de lucros maiores, entre outros, são exemplos da chamada responsabilidade econômica. Ser responsável economicamente contribui para a construção de uma economia mais forte e competitiva.

Todas as responsabilidades citadas nesta aula devem estar compreendidas no entendimento do conceito de responsabilidade social. As empresas, como agentes econômicos e sociais, são parte integrante da sociedade. Portanto, devem manter um comportamento que não seja promíscuo e que não coloque em risco a integridade da sociedade onde está inserida. Agindo assim, a empresa cumprirá o seu papel de transformação social e será co-responsável pelo desenvolvimento sustentável da sociedade.

Neste escopo de pensamento, muitas questões têm sido tratadas a respeito da influência e das responsabilidades empresariais sobre a sociedade mundial. Historicamente, muitas empresas, e seus profissionais, foram protagonistas de fatos bons e de fatos ruins. No campo do exemplo negativo, casos de violação dos direitos humanos (uso do trabalho escravo, trabalho infantil, etc), conspiração política (plano para derrubar governantes, como no emblemático caso da americana ITT, que foi acusada de orquestrar a queda do ex-presidente chileno Salvador Allende em ), violação dos direitos trabalhistas, agressão irresponsável contra o espaço ecológico, etc.

Por outro lado, os avanços na medicina, na descoberta de medicamentos revolucionários, na produção de produtos e serviços para tornar a vida das pessoas mais prática, no desenvolvimento de produtos ecologicamente corretos, entre outros, têm contribuído, por meio do conhecimento científico e tecnológico, para o desenvolvimento da sociedade. Mas, convenhamos! A moralidade no mundo dos negócios não evoluiu na mesma velocidade do conhecimento. Esta realidade é fruto do “freio moral” que a própria sociedade insiste em acionar por diversos fatores, principalmente pela ganância individual que cega o sentido coletivo de justiça, igualdade de direitos e respeito à vida humana.

A ética nos negócios e a responsabilidade social são expressões de uma necessidade de mudança no modo como se faz a atividade econômica. Não que o imperativo do lucro seja algo abominável ou demoníaco, pois o excedente financeiro é essencial para a sobrevivência das empresas. A reflexão deve ser feita no modo como este lucro é obtido. Os embates históricos entre capital x trabalho já protagonizaram grandes discussões e já escreveram importantes páginas no passado da humanidade.

Por tudo isso, a responsabilidade social só terá validade se for precedida por todas as responsabilidades abordadas nesta aula. Caso contrário, tudo não passará de marketing social ou discurso seguido de prática demagógica. Isso não contribui em nada para a formação e educação dos futuros gestores empresariais. A transformação deve começar pela lição de casa. Esta deve ser a responsabilidade inicial de qualquer moralidade no mundo dos negócios.

ÉTICA, EXCELÊNCIA E DIVERSIDADE DE VALORES

AULA 19

Um dos principais aspectos da ética profissional é sua aplicabilidade multidisciplinar. O que significa isso? Se você visitar a página na internet de associações representativas de algumas classes profissionais ou conhecer algum profissional credenciado a trabalhar legalmente, verificará a existência em comum de códigos de conduta profissional. Estes códigos, já vistos anteriormente, têm como objetivo disciplinar a conduta dos profissionais no exercício de suas atividades.

A prática da ética profissional é multidisciplinar devido a não especialidade de valores quando o assunto é comportamento humano ou profissional, isto é, todos os valores de conduta são comuns a todas as profissões. As diferenças existentes estão no tipo de negócio executado, ou seja, como o comportamento deve ser conduzido no trato com as especificidades de cada profissão.

De todo modo, a ética está ligada à busca da excelência naquilo que fazemos. Ser um profissional competente é uma boa credencial, mas não é a única. Ser justo, transparente, agir com integridade, ser honesto, ser verdadeiro diante de problemas, cumprir com aquilo que foi decidido, ser pontual, honrar compromissos com as pessoas que dependem do seu trabalho para sobreviver, entre outros, são condutas fundamentais para se obter maior credibilidade e proporcionar maiores oportunidades para uma pavimentação mais segura da carreira.

Os desafios do mundo corporativo estão se tornando cada vez mais abundantes na medida em que aumenta a competição entre as organizações. O que antes era exclusividade de mercados fechados e com poucos competidores se tornou, após a abertura do mercado à comercialização internacional, cada vez mais raro. Esta mudança de cenário trouxe a necessidade de adaptação às regras de mercados mais exigentes e dinâmicos. Ter uma gestão mais transparente, responsável e dentro dos requisitos legais quanto à produção e comercialização de produtos e serviços passou a ser obrigatório para a conquista de novos mercados.

Neste contexto, a excelência na condução dos negócios passa por processos otimizados de controle, planejamento e gestão, mas, acima de tudo, pela integridade moral do próprio negócio.

O capital reputacional passa a ter maior relevância na composição dos ativos da empresa. O histórico de boas práticas de conduta e gestão fortalecerá a companhia no duro jogo da competição mercadológica, pois a excelência, aqui tratada nesta aula, começa pelo fortalecimento dos valores morais na administração do negócio.

A excelência está na racionalidade com que se faz os negócios e com que se toma as decisões. Esta mesma racionalidade deve valer para o comportamento das pessoas que realizam os negócios. Mais importante do que o objetivo alcançado, é a preocupação em fazê-lo com lisura e dentro da legalidade. Para muitos, ser eticamente responsável é uma obrigação. Mas em um mundo cheio de carências morais, ter esta opinião parece um tanto quanto complicado. A ética profissional é, sim, um diferencial na vida de quem quer ser bem-sucedido.

É sempre bom relembrar que ser ético é uma questão de escolha. Optar por seguir um caminho respaldado pelos valores morais é uma atitude e uma decisão inteligentes. Os profissionais que produzem a excelência pelo bom comportamento moral passam longe de serem considerados ingênuos. As empresas que assim se comportam estão muito distantes de serem consideradas anacrônicas. Tudo isso porque as coisas estão mudando na percepção das pessoas. Há certo esgotamento da passividade diante de mais e mais contra-exemplos de desvios de conduta na gestão dos negócios privados e na falta de decoro no trato dos recursos públicos, para ficar em apenas dois exemplos.

Neste âmbito, Solomon pede para que se observe, sempre que possível, a reação normal de uma pessoa ludibriada numa loja ou numa compra por reembolso postal: “nunca mais compro deles de novo!”. Ser deixado na mão uma vez por uma companhia aérea ou cobrado de maneira abusiva por uma locadora de automóveis, pode ser o bastante para levar uma pessoa a mudar as suas lealdades de marca para o resto da vida. Em outras palavras, confiança não é sinal de ingenuidade, mas um dos pressupostos do mundo dos negócios e probidade não é um gesto extraordinário da parte de uma companhia, mas o critério básico para a sua permanência.

Estas observações do autor nos levam a refletir sobre o quão é perigoso subestimar a ética empresarial e profissional. Por mais descrente que possa ser, o caminho da sustentabilidade e, porque não, da sobrevivência tem que passar pela idoneidade e integridade do negócio e da organização. Nunca a excelência esteve tanto em questionamento sobre a sua legitimidade sem o encaixe do respeito aos valores de conduta e à dignidade humana. Isso é fruto de mudanças de rota e de paradigmas que nascem com a necessidade de se construir outros modelos sociais e organizacionais para enfrentar os novos desafios que vêm pelo próprio curso da humanidade.

Sem respeito às pessoas, às normas de conduta e sem coragem para mudar, estes desafios nunca serão vencidos. A luta pela cultura de valores morais é uma responsabilidade que deve ser dividida entre indivíduos e organizações. A diversidade de valores e culturas, a mistura de crenças, hábitos e costumes, a diferença de pensamentos ideológicos, a pluralidade de crenças religiosas, entre outros, são características que devem ser preservadas em benefício do aprendizado moral diante das possibilidades de múltiplos convívios sociais e organizacionais.

No caso da diversidade de valores, existe um trabalho que é bastante complexo: a convergência de valores. Mas, o que é exatamente isso? Em todas as empresas e demais organizações, há uma grande variedade de valores. As pessoas pensam diferente, às vezes se comportam de forma diferente diante das mesmas situações e, em boa parte dos casos, geram conflitos por não compartilharem atitudes que são geradas por uma formação educacional diferente.

Em uma empresa, por exemplo, estas divergências podem ser saudáveis ou não. Quando há uma política de conduta que é corporativa, os mesmos valores que devem ser respeitados pelo porteiro servem para o diretor-presidente da companhia e demais funcionários. Os valores são organizacionais e não setoriais ou por áreas. A convergência de valores não significa que o indivíduo deixará de ter as suas convicções ou os seus valores morais para passar a ter e respeitar somente os valores definidos pela organização. O que acontece é um processo de conscientização das pessoas de que os mesmos valores devem ser compartilhados por todos e não só por uma parte. Neste caso, converge-se para uma política de conduta que possui os mesmos valores no processo de disciplina comportamental de todos aqueles que fazem parte da organização.

O comitê de ética tem um papel muito importante neste processo de compartilhamento de valores. Em algumas empresas, este papel cabe ao deontologista, conforme já visto em uma das aulas anteriores. De qualquer forma, é de suma importância que o comportamento moral seja assimilado e entendido por todos. Quando uma marca é afetada por uma crise moral, é o detentor dos direitos comerciais (no caso, o fabricante do produto) que sai com a imagem desgastada. O mesmo se aplica, na maioria das vezes, ao caso de imoralidade protagonizado por um funcionário, ou seja, o desgaste reputacional é debitado na conta da empresa (pessoa jurídica) e não do causador. Por conta disso, a mesma leitura dos valores deve ser realizada por toda a estrutura organizacional. Qualquer desvio de conduta é desagradável e inoportuno, mas que não seja feito por falta de conhecimento daquilo que não é permitido pela política de conduta da organização.

AFINAL, A ÉTICA PROFISSIONAL É UM BOM NEGÓCIO?

AULA 20

Não seria de bom tom terminar esta disciplina sem a seguinte pergunta: a ética profissional é um bom negócio? Respondê-la não parece algo muito difícil. Se olharmos pelo ângulo da grave crise moral que assola o mundo, diríamos que sim e que não. Como assim? Para os que respondem não à pergunta, ter um comportamento eticamente responsável pode dificultar o alcance de objetivos pessoais pela escolha de caminhos mais longos e mais vigiados. Para os que respondem sim à pergunta, ter um comportamento eticamente responsável é fundamental para a construção de uma carreira mais sólida e vencedora.

O grupo favorável ao sim é aquele que reúne profissionais mais preparados para assumir postos de comando nas empresas? É o grupo que reúne pessoas que sabem exatamente como um negócio deve funcionar? Pode-se dizer que isso é relativo. Porém, pode-se afirmar que estas pessoas têm uma capacidade de autoconfiança e autoconhecimento mais desenvolvida. Esta condição trará muito mais elementos para que estes indivíduos sejam bem-sucedidos nas suas respectivas jornadas profissionais.

A ética profissional não é um escudo para ser usado contra ataques e crises. Na verdade, a integridade moral deve acompanhar o indivíduo em todos os seus momentos de atuação, principalmente naqueles que envolvam a tomada de decisões. O controle sobre determinadas posturas é determinado pela consciência. Muitas vezes, a decisão pode contrariar os nossos valores, mas foi tomada sob a influência de uma determinada situação. No meio empresarial ou dos negócios, é fundamental ter a ciência e a consciência daquilo que fazemos. Não é possível fazer algo sem saber os seus efeitos positivos ou negativos. O conhecimento é imprescindível para quem decide ou efetua alguma ação.

A vida das pessoas dentro das organizações é muito mais dinâmica e cheia de mudanças. Os valores ético-sociais acabam influenciando as decisões de maneira congruente ao estilo de cultura existente. Em uma cultura em que os valores de conduta se distanciam da realidade vivida pelas pessoas, as chances de se ter um maior repertório de contra-exemplos morais são bem maiores. Isso coloca em risco, com o tempo, a sobrevivência organizacional. Neste contexto, os valores ético-sociais são fundamentais para se criar, manter e reunir vários subsistemas organizacionais dentro dos mesmos propósitos definidos pela organização.

Dolan & Garcia afirmam que os valores ético-sociais orientam o modo como as pessoas se comportam na formação de grupos. Valores éticos surgem das crenças mantidas de como as pessoas devem se conduzir em público, no trabalho e nos relacionamentos. Eles são associados com valores sociais, tais como honestidade, congruência, respeito e lealdade. Os valores éticos de uma pessoa influenciarão o modo como ela se comporta quando vivencia valores econômicos pragmáticos e seus valores emocionais e de desenvolvimento pessoal.

No caso dos valores emocionais, por exemplo, eles auxiliam na criação de novas oportunidades de ação. Eles são valores referentes à confiança, liberdade e felicidade. Exemplos desses valores são criatividade/imaginação, vida/realização, auto-afirmação/orientação e adaptabilidade/flexibilidade. O lado emocional pesa bastante na composição dos valores de conduta. Mesmo que saibamos que a razão é que propicia o julgamento consciente de uma ação de conduta, o imperativo emocional é o motor que nos impulsiona à realização de determinadas condutas que possam atropelar algumas crenças e convicções que possuímos. Mas é importante lembrar que a consciência não é anulada neste caso.

Muitas organizações orientam seus funcionários no sentido de caminharem com integridade e com autoconfiança naquilo que fazem e decidem. Como o tema desta aula é: a ética profissional é um bom negócio, sugere-se um teste rápido de ética. A Texas Instruments, com sede em Dallas, no estado americano do Texas, ensina a seus colaboradores sete etapas que podem ser utilizadas para determinar se uma decisão é ética. O resultado configura um “teste rápido” e ajuda os colaboradores a verem uma decisão com mais objetividade e eticamente.

O teste da Texas Instruments está composto da seguinte forma:

. A ação é legal? “Se ela não for legal, então esse é o final do teste. Você pode parar neste ponto, pois nesta empresa a lei não poderá ser violada”.

. Ela concorda com os nossos valores? “A empresa tem um conjunto claramente definido de valores. Às vezes, uma ação simplesmente não se enquadra nele”.

. Se você fizer isso, se sentirá mal? “Em certas ocasiões, você toma aquela decisão que dá uma espécie de frio na barriga. Ela lhe acorda no meio da madrugada ou simplesmente fica lhe importunando. Esse é um sinal de aviso de que talvez você precise retroceder e reconsiderar a sua decisão”.

. Como isso aparecerá nos jornais?“Se o que você estiver pensando em fazer essa noite aparecerá nos jornais amanhã, você ainda o faria?”.

. Se você sabe que isso é errado, não faça.

. Se você não tiver certeza, pergunte.

. Continue indagando até obter uma resposta. “Se você acha que algo é errado e não quer fazê-lo, vá e faça algumas perguntas. Pergunte a seus pares. Pergunte ao seu líder. Pergunte ao departamento jurídico da empresa. Pergunte aos recursos humanos. Contate o setor ou o grupo que trata das questões éticas. Pergunte, pergunte e pergunte. Não fique parado lá fora com a sensação de que tem de suportar sozinho esta pressão”.

Estas sete etapas da Texas Instruments foram criadas com o objetivo de orientar os colaboradores quanto a alguns cuidados e questionamentos que precisam ser observados diante de decisões que envolvam aspectos éticos. É sempre importante saber o que a empresa entende por comportamento ético-social. Para isso, o conjunto de normas e valores morais é fundamental para a disciplina e orientação das pessoas dentro da organização. Mais do que isso, a autoconfiança e a convicção de que os seus valores de conduta precisam te acompanhar sempre te darão a certeza de que, de fato, a ética é um bom negócio.

Para finalizar, é bom colocar alguns benefícios que a ética profissional pode proporcionar às pessoas no exercício de suas profissões:

melhores condições para o desenvolvimento da auto-estima;

• fortalecimento da auto-conveyance;

• aproximação de pessoas mais comprometidas com a organização;

• maior capacidade de reflexão e de equilíbrio em situações adversas;

• maior capacidade de tomar decisões em momentos complexos que exigem equilíbrio entre razão e emoção;

• pavimentação mais segura da carreira profissional por meio da confiabilidade e da construção de um bom histórico reputacional.

ÉTICA PROFISSIONAL E EMPRESARIAL
Curso: TECNOLOGIA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS – UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
Prof. MARCELO ORTOLAN PAZZETTO